Diversão e Arte

Baleiro comemora 13 anos de carreira com livro, musical infantil e 2 CDs

postado em 17/10/2010 08:00

São 13 anos desde que o álbum Onde andará Stephen Fry? tornou Zeca Baleiro um artista de repercussão nacional. Nesse tempo, o maranhense tem demonstrado uma inquietação que o leva a cruzar seu universo musical com a literatura, o teatro e o cinema. Sem esquecer de sempre ligar o rádio, o maranhense exercita seu pensamento em coluna para revistas e em textos escritos no blog Bala na agulha - que acabam de virar livro com o mesmo título. O livro, aliás, integra pacote com o qual o cantor e compositor comemora seus 13 anos de carreira e que inclui um musical infantil (Quem tem medo de Curupira?), dois discos (o ao vivo Concerto e também Trilhas, com canções que compôs para o teatro e o cinema) e um programa de rádio transmitido via internet (Biotônico).

SURFE NAS ONDAS DO RÁDIO

Você começou a gravar justamente quando a indústria fonográfica mostrava seus primeiros sinais de mudanças radicais. O que há de bom e de ruim nas transformações que vimos nesses 13 anos?
O que há de bom é o surgimento de meios mais democráticos de divulgação da produção musical. E de ruim há o enfraquecimento do disco como suporte. Tenho grande apego pelos discos, então lamento isso, sou um pouco nostálgico com o desinteresse dos mais jovens com o disco. Mas a possibilidade de baixar/comprar a música que se quer na internet ou de artistas novos poderem cultivar público a partir da rede são pequenos milagres que devem ser comemorados.

Essas mudanças afetaram de alguma forma seu processo criativo? O que mudou mais significativamente no seu modo de criar em 13 anos?
Acho que não. Mas me levou a pensar noutras formas de propagação da minha música. Meu site tem bastante interatividade e sempre disponibilizo músicas para download gratuito lá, embora continue a gravar e vender discos.


Os textos do livro Bala na agulha foram escritos para a internet. Já pensava em transformá-los em livro quando os produziu? O meio virtual foi fundamental para que ele existisse?
Sinceramente, não. Mas aí começaram a rolar cobranças de fãs e amigos e então comecei a revisá-los cuidadosamente para transformar aqueles textos num livro de fato. O meio virtual foi fundamental, sim. Onde poderia exercitar essa veia sem tanto compromisso como ali? Outra coisa que me encorajou a lançá-lo foi ver nas prateleiras de nossas livrarias ;obras; de Bruna Surfistinha, Doca Street e Lucília Diniz... Pensei: então eu também posso (risos).

Você cursou jornalismo e, de certa forma, exerce esse lado ao escrever. Sua formação jornalística afeta seu modo de transformar em música suas visões do mundo?
Não sou formado em jornalismo. Estudei um ano de comunicação e outro de agronomia. Logo, não acho que esse passeio tão breve pelo mundo acadêmico possa ter afetado minha visão de mundo tão profundamente assim, embora tenha uma boa memória da universidade, menos das salas de aula e mais dos corredores (risos).


Sua música se aproxima da literatura também no disco que gravou com poemas de Hilda Hilst (Ode descontínua e remota para flauta e oboé - De Ariana para Dionísio). Há outros autores que o inspiram musicalmente?
Sim, muitos. Mesmo não tendo gravado todos, já musiquei Murilo Mendes, Ferreira Gullar, Dylan Thomas, Manuel Bandeira, Paulo Leminski, Cruz e Sousa...


Música, literatura, teatro, dança... O que o motiva a fazer esse trânsito entre diferentes manifestações artísticas?
Apetite de criar, de me expressar através de outros meios que não a música. Minha grande paixão é a música. As ;outras; são só aventuras...


Você escreveu trilhas para peças infantis e um musical para crianças, tem planos de escrever um livro para elas... Há segredos para escrever para público tão específico?
Embarcar na viagem das crianças. Elas veem o mundo de uma forma muito fantasiosa, virgem até... Ter dois filhos foi algo que trouxe muita matéria-prima para as minhas composições dirigidas ao público infantil, que pretendo registrar em disco no próximo ano.

A impressão que temos, diante de tudo isso, é de uma cabeça fervilhante de ideias. Algum projeto de escrever ficção também para adultos, seja em livro, no teatro ou no cinema?
Já tentei, há muito tempo, antes de gravar meu primeiro disco, fazer um livro de contos. Mas deixei para trás. Um dia, quem sabe...

Você é compositor mas sempre está gravando música de outros autores. O que lhe instiga como intérprete?
O desafio de transformar a música do outro em sua também. Acho que isso é o mais interessante quando você resolve gravar músicas alheias, tornar-se meio dono da canção também.


Ao cantar músicas de Gilson a Foo Fighters (no disco Concerto), você revela uma grande cultura radiofônica. Como foi a presença do rádio na sua formação musical? Essa experiência de ouvinte lhe influencia agora ,ao fazer o programa Biotônico?
Essencial. Devo muito ao rádio, pois foi lá que conheci grande parte das coisas que, ainda hoje, gosto de ouvir. E o rádio me deu a exata dimensão de quanto é abrangente e diverso o universo da música popular.

E o trabalho de produtor? É um prazer ;moldar; o trabalho alheio ou essas experiências são fruto das circunstâncias, das relações pessoais?
Muito divertido, prazeroso e instigante. Sim, geralmente quando produzo discos é de alguém por quem tenho admiração. Não conseguiria fazer isso apenas ;profissionalmente;, no mau sentido da palavra (risos).

Quanto tem de liberdade e de dor de cabeça em manter o próprio selo (Saravá)?
Independência tem um preço, um preço alto, que ninguém se engane. Mas pela minha natureza, não me vejo em outro lugar. Gosto de empreender, e o selo, embora nunca tenha me dado retorno financeiro, me deu muita alegria e contentamento, muito prazer pessoal, o que, às vezes, é mais do que dinheiro.

Você diz que se sente atraído pelos números 13 e 17. Também há uma explicação mística para o hábito de pintar as unhas dos dedos do pé. Como se relaciona com o sobrenatural, Deus, a fé... No que acredita?
Não acredito em muita coisa, mas não ouso duvidar de nada também (risos). Cresci numa família católica, num estado muito negro, com terreiros espalhados por todo canto... Quando adoecia na infância, além dos cuidados do meu pai farmacêutico, minha mãe chamava uma benzedeira... Na infância, convivi com gente muito crédula ou muito supersticiosa, gente que fazia promessas, simpatias, pequenas mandingas e isso me marcou, claro... No livro, até falo num texto sobre isso. Mas não tenho religião nem um credo ao qual me abrace cegamente. Sou crítico demais pra isso.

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