Nahima Maciel
postado em 19/10/2010 09:47
![Vergara pediu aos amigos terra e areia da capital e ficou três dias trabalhando suas monotipias na Galeria Referência de Arte](https://imgsapp2.correiobraziliense.com.br/app/noticia_127983242361/2010/10/19/218768/20101019095524350894a.jpg)
Além dos desenhos, o artista gaúcho radicado no Rio de Janeiro mostra nove pinturas, investigações pictóricas realizadas com pigmentos, pó de mármore, areia e tinta sobre tela. São as monotipias nas quais Vergara se permite testar uma linguagem livre e um improviso que inclui a apropriação de materiais encontrados nos locais pelos quais já passou. ;Alguns lugares me motivam, têm uma carga de informação e mistério que é interessante tornar visível através do trabalho. Acabei me tornando um artista viajante;, admite. Uma das telas, feita no Pelourinho, em Salvador, agrega materiais coletados no chão do bairro baiano.
Em Brasília, Vergara pediu a amigos que recolhessem terra e areia do solo brasiliense para confeccionar uma série de três monotipias nas quais predominam as tonalidades ocre e vermelha. Trabalhou na galeria durante três dias. O resultado são composições bastante simples, de uma abstração que demanda um certo tempo de contemplação. Não se entregam ao primeiro olhar. ;Acho legal trabalhar com poucos recursos e construir algo que possa fazer sentido;, avisa o artista de 68 anos. ;Meu trabalho é uma mistura de dois jogos. Um jogo de dardos, na medida em que tenho um objetivo, e um jogo de dados, no qual a sorte vai intervir no resultado final.;
Vergara, que nos anos 1960 e 1970 adotou a linguagem da arte pop e do neoexpressionismo com trabalhos figurativos, há mais de três décadas se concentra na abstração. O gestual é fundamental no processo. É possível notar os caminhos da mão do artista nos percursos sugeridos pelo acúmulo de pigmentos. ;Meu objetivo é o quanto posso mobilizar o olhar das pessoas para coisas que aparentemente não têm significado. São elementos que, às vezes, você reconhece e às vezes não, mas que podem ter a capacidade de alavancar em você um raciocínio abstrato. O projeto é produzir coisas que possam ter sentido a partir do olhar do espectador.;
Na série Hospitalares, a figuração está presente na reprodução de mãos que se entrelaçam a desenhos de pedra lascada. ;A mão é o ponto final do cérebro;, constata o artista. Serve para a cirurgia, mas também para o desenho.
CARLOS VERGARA: PINTURAS E DESENHOS
Exposição de Carlos Vergara. Visitação até 15 de novembro, de segunda a sábado, das 10h às 22h, e aos domingos, das 14h às 20h, na Referência Galeria de Arte (Shopping CasaPark).