postado em 20/10/2010 07:10
O homem de mil faces. Artista completo. Fenômeno. Gênio. Poucas pessoas receberam tantos adjetivos positivos ou foram tão reverenciadas ao longo da vida como ele. Seu nome poderia ser Tim Tones, Alberto Roberto, Justo Veríssimo. Quem sabe Bento Carneiro, Bozó ou até mesmo Painho. Mas ele é Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho, ou simplesmente, Chico Anysio.O universo de figuras criadas pelo artista cearense de 79 anos ao longo de seis décadas de carreira é incontável, mas Chico tem o seu eleito: o professor Raimundo. Não foi à toa que o ;amado mestre; ganhou um programa só seu que chegou a ir ao ar diariamente na TV Globo, na década de 1990, e, atualmente, está em reprise no canal de TV a cabo Viva. ;Tenho acompanhado, sim. Eu adoro, poxa. Seria terrível não gostar. Eu sou o primeiro a achar legal o meu trabalho. Se não gostasse do que fazia, eu faço, acho ruim e faço de novo;, declarou Chico em entrevista por e-mail ao Correio.
Outra prova de sua versatilidade são seus ofícios. Como defini-lo? Ator, humorista, diretor, comentarista, radialista, escritor, compositor, cantor e pintor. Depois de enfrentar problemas de saúde, inclusive uma cirurgia, Chico Anysio está de volta à ativa e vai fechar com chave de ouro o projeto Mitos do teatro brasileiro, que será apresentado hoje, às 19h30, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). A entrada é franca, mas o número de senhas é limitado. Espera-se lotação máxima para os 327 lugares.
O projeto, que estreou em maio, presta a cada mês uma homenagem a uma personalidade cênica nacional. Pelos palcos do CCBB já foram contadas as trajetórias artísticas de Dulcina de Moraes, Dercy Gonçalves, Procópio Ferreira, Nelson Rodrigues e Cacilda Becker. Como se fosse um ;documentário ao vivo;, a iniciativa intercala cenas inéditas criadas pelo jornalista e dramaturgo Sérgio Maggio, a partir da pesquisa biográfica de cada homenageado. No intervalo entre as cenas, que serão interpretadas pelos atores Jones Schneider e Elisete Teixeira, Chico Anysio responderá às perguntas dos mediadores. ;Sinto-me altamente feliz e, ao mesmo tempo, recebendo uma homenagem importante, mas sem perder minha humildade;, disse o humorista.
Mesmo sendo uma passagem relâmpago pela capital do país, ou melhor, ;vapt-vupt;, como diria o mestre da famosa escolinha, a vinda do artista a Brasília promete ser arrebatadora como acredita Jones Schneider, que também é curador do projeto. ;Estou muito feliz com esse encontro porque, para mim, o Chico é um dos maiores atores do mundo, um recordista. Cada personagem que ele criou tem uma personalidade diferente.;
Chico Anysio começou sua carreira no rádio, que ele até hoje, considera a sua grande escola. ;Não aprendi muita coisa depois que saí do rádio;, destaca. Mas foi na televisão que ele se tornou conhecido no Brasil inteiro, especialmente com os programas Chico Anysio Show e Chico Total. O ator e humorista pode até ser considerado um dos precursores do que chamam hoje de stand-up comedy, já que desde a década de 1960 ele ficava sozinho no palco mesclando dados biográficos com piadas. ;No teatro eu represento muito pouco. Ali eu sou um contador de histórias;, comentou.
De volta à rotina de gravações no Zorra Total, em que tem um quadro, Chico está bem animado para o especial de fim de ano e faz questão de destacar que sempre teve uma boa relação com a TV Globo, seu contrato vai até 2012. ;Eu nunca entrei em guerra com a Globo. Tanto que nunca aceitei convites para deixá-la. Eu sou global e assim será até eu não poder mais trabalhar;, assegurou.
ENCONTROS INUSITADOS
; Além do próprio Chico Anysio, o Mitos de hoje, que terá a participação especial do ator Wilson Granja, vai lembrar as outras personalidades que passaram pelo projeto ao longo do ano e promover um encontro inusitado entre personagens de Chico Anysio, como Pantaleão, Haroldo e Alberto Roberto, representados por Jones Schneider, com as divas do teatro Dulcina de Moraes, Dercy Gonçalves e Cacilda Becker,interpretadas pela atriz Elisete Teixeira. ;Não temos a pretensão de imitar ninguém; é uma releitura. É importante bancar a continuidade dessa iniciativa que conta a história do teatro brasileiro de uma maneira bem agradável. Chico Anysio é uma pessoa fantástica. Vai ser uma honra e um presente prestar essa homenagem, ainda, mais com ele diante da gente. Estou com um frio na barriga muito grande, mas faz parte;, destaca Elisete.
Por que o Ceará é esse celeiro de humoristas?
A miséria, o sofrimento do povo, as necessidades do estado. Onde tudo corre direito e feliz, ninguém se entrega ao humor. Não há humoristas na Suécia, na Holanda, na Dinamarca. É preciso haver algo para ser criticado. É aí que começa o humor.
O senhor é considerado um ator completo, quase uma unanimidade, que passeia por todas as linguagens. O senhor acha que o Brasil compreende isso ou o senhor se sente ainda colocado na classificação de ;humorista;?
Humorista não é uma classificação, mas um elogio. Sou um ator que faz trabalhos no humor. Qualquer um que represente é um ator; se ele também faz humor ele é um pouco mais; por ser um ator que sabe fazer comédia.
O senhor flerta com o cinema desde a época da Atlântida, como autor e diretor. Agora, é um ator requisitado do cinema nacional. Fazer cinema hoje é melhor do que naquele tempo das chanchadas?
É melhor, mas antes disso, hoje é um momento inteiramente diferente. As chanchadas eram um tipo de cinema que só se fazia no Brasil, o que tornava este momento como ;muito importante;. E era.
Teve um momento na vida que o senhor pensou em ser político. Se arrependeu?
Não digo que me arrependi. Eu só raciocinei melhor e vi que saía perdendo se passasse de vitrine a pedra.
MITOS DO TEATRO BRASILEIRO - CHICO ANYSIO
Hoje, às 19h30, no Centro Cultural Banco do Brasil Brasília (SCES, Trecho 2, Lote 22), com os atores Jones Schneider e Elisete Teixeira. Participação especial: Chico Anysio. Ingressos: entrada franca. As senhas serão distribuídas na bilheteria com uma hora de antecedência. Telefone: 3310-7087. Não recomendado para menores de 12 anos. O CCBB disponibiliza ônibus gratuito saindo do Teatro Nacional a partir das 11h