Diversão e Arte

Sem birra: Restaurantes dão cara nova aos pratos para atrair as crianças

postado em 21/10/2010 08:07
; Rebeca Ramos - Especial para o Correio

Se a criança faz birra para comer alimento saudável em casa, na rua não será diferente. É comum ver a garotada ;brincando; com o prato, enquanto acha que engana os pais. E esses, por sua vez, acabam aborrecidos tentando convencer os filhos a aceitarem a escolha dos adultos. Para mudar o rumo dessa história, restaurantes oferecem opções exclusivamente para esses críticos mirins. O objetivo não é apenas fazer com que eles comam, mas que se alimentem com opções saborosas e, de preferência, mais saudáveis. Para agradá-los, as casas apresentam receitas adoradas pelos pequenos, porém com um apelo mais nutritivo. Até mesmo o rotineiro arroz, feijão, bife e fritas conta com ingredientes frescos e segredos no preparo. É a disputa do quem ;engana o bobo; primeiro.

A salada tropical, do Empório da Mata: muitas cores para atrair o interesse das criançasHá 20 anos oferecendo opções menos calóricas e mais nutritivas para os adultos, a rede Substância decidiu investir em pratos também para a criançada. No cardápio, cachorro-quente e bolo de chocolate, entre outras guloseimas que, no dia a dia, dificilmente as mães deixariam os filhos comerem. A novidade está na forma de preparo. Nos doces, em vez de leite condensado tradicional, a opção é pelo light. E, no lugar da refinada farinha de trigo, entra a de quinua. A releitura do tradicional pão de queijo adicionou à receita queijo de cabra, parmesão e gruyere. ;Nós optamos sempre pela versão light dos produtos e pelos alimentos ricos em vitaminas, que garantem o mesmo sabor e com a gordura extremamente reduzida;, explica Helena Tonetto, diretora da rede.

A empresária conta que a ideia foi inserir produtos com imagem e sabor mais próximos do original, fazendo com que a criança coma o alimento saudável sem reclamar. ;A nossa nutricionista buscou os ingredientes ideais para produzir diversos tipos de alimentos e opções de comidas com todas as vitaminas necessárias para alimentação infantil;, garante. É o caso da linha Le Petit Gourmet, que tem as opções carne e frango. O prato de filé mignon vem acompanhando de cenoura, arroz branco, feijão preto enriquecido com espinafre e nhoque colorido de cenoura e beterraba. De uma forma prática, as porções são congeladas e comercializadas em embalagens plásticas prontas para ir ao micro-ondas.

Os pratos que já vêm com a carne cortada, do 4doze Bistrô, é opção que busca facilitar a vida dos paisChega uma certa idade, porém, que os pratos com desenhos de rostos feitos de cenouras e tomates não convencem mais. Foi pensando nisso que Lídia Nepomuceno, proprietária do Empório da Mata, desenvolveu o linguini ratatouille. Inspirado no filme de animação e na receita francesa, a massa caseira leva cebola, pimentão amarelo e vermelho, berinjela e abobrinha, tudo regado com azeite extravirgem. ;Tudo que eu uso é orgânico. É difícil saber se a criança vai comer, mas como faço um prato bonito, elas sempre provam e adoram;, afirma. Lídia conta que o prato de mais sucesso entre a meninada é o Salmão chocante. Grelhado, acompanha arroz de brócolis e fritas que, segundo ela, também é muito saudável. ;É importante que as crianças comam bem, mas esse hábito deve vir de casa;, acredita. Lídia complementa ainda que a salada tropical também tem muita aceitação, por ser colorida.

Para agradar às crianças e, consequentemente, tornar o momento da refeição mais fácil para os pais, o 4doze Bistrô optou por servir pratos simples, porém atrativos o bastante até mesmo para os pequenos mais exigentes. Segundo o restaurateur Daniel Gurgel, a casa tem muita preocupação com o público feminino e, por isso, serve as carnes dos pratos infantis já cortadas. O prato vai para a mesa pronto para comer. ;A mãe não vai precisar se preocupar em cortar o filé, nem convencer a criança de comer. A satisfação, nesse caso, é garantida;, acredita. Entre as opções, está o tão adorado hambúrguer, que dessa vez é de picanha, com molho barbecue caseiro, alface, tomate e chips de mandioca.

Seguindo a mesma linha, a de servir o simples para não errar, o Lake;s restaurante diferenciou os pratos a partir dos apelidos. Por exemplo, o grelhado ao molho madeira virou Filé Bob Esponja. O linguado grelhado com purê de batatas, Procurando Nemo. E a massa ao molho de tomate e cubos de frango, Spaguetti Sooby Doo. A proprietária, Gisele Munhoz, diz achar importante oferecer opções mais nutritivas para as crianças, embora afirme não mexer no cardápio por saber que está agradando. ;Os nossos pratos são tradicionais e as crianças adoram;, diz.

Em casa
A publicitária Laís Feitosa, 34 anos, mãe de Guilherme, 11, conta que prefere os restaurantes com a oferta de menu kids, pois dessa forma ela sabe que o filho vai gostar também. Segundo ela, o sucesso dos pratos é o fato de as porções serem menores. ;Essas receitas são menos condimentadas e, por isso, são mais agradáveis ao paladar dele;, descreve. Laís explica que Guilherme não tem muita dificuldade para comer, embora anime-se quando os pratos vêm com desenhos e carinhas. ;Essa brincadeira estimula a fome e a imaginação, e ele sempre come tudo;, comemora.

É importante lembrar, no entanto, que comer se aprende em casa. ;Se a mãe e o pai não comem cenoura, o filho também não vai comer;, afirma a nutricionista Larissa Lima, que relaciona o comportamento alimentar da criança com o da família. Segundo ela, todos sabem que é importante ingerir cinco porções de legumes, verduras e frutas todos os dias, e que pular refeição não faz bem. Porém, mesmo assim, as pessoas não obedecem a regra, por não darem valor à alimentação. ;O alimento é uma relação de amor. Somos alimentados por nossas mães, que, mais tarde, barganham com a gente na hora da alimentação;, contextualiza. Ela se refere à birra que tantas vezes as crianças fazem para não comer, quando são ;premiadas; por outro alimento, como se a malcriação fosse uma moeda de troca.

A nutricionista explica que, independentemente da circunstância, a criança deve comer bem. Mas na prática é bem diferente. ;A mãe costuma dizer para o filho comer verduras que no fim de semana vai deixá-lo comer sanduíches. Isso é errado, pois ela associa a alimentação como uma obrigação e não como um momento prazeroso;, descreve. De acordo com Larissa, é preciso se conscientizar que a pessoa é o que ela come, e dessa forma passar a se alimentar de forma responsável, acostumando seus filhos ao mesmo hábito. ;Essa reflexão é importante. O dia em que os pais educarem nutricionalmente os filhos, diminuiremos os problemas de obesidade no futuro;, ressalta.

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