Diversão e Arte

Mostra reúne filmes que tratam da luta pela independência do Chile

Ricardo Daehn
postado em 25/10/2010 08:00
O revolucionário José Miguel Carrera é homenageado pelo jornalista e cineasta Cristián GalazIniciativas estabelecidas há pouco mais de um mês, as ações em homenagem ao Bicentenário do Chile ; que celebra o firmamento da Primeira Junta Nacional de Governo (em 18 de setembro de 1810) ; foram ofuscadas pelo drama, com repercussão mundial, em torno dos 33 mineiros no deserto do Atacama. O vitorioso desfecho do caso, que teve a atenta presença do presidente da República Sebátian Piñera, porém, veio a fortalecer a mais perceptível qualidade inserida em parte dos festejos de quase dois séculos de liberdade e independência chilenas: a integração de semblantes heroicos perfilados na mostra de cinema Heróis: a glória tem seu preço. A atração, com acesso gratuito, terá exibições, a partir de hoje, no Instituto Cervantes (SEPS 707/907). A mostra favorece traços humanos de figuras proeminentes na criação da conjuntura republicana, como o incitador revolucionário José Miguel Carrera que ; dedicado à criação de símbolos pátrios, a ajustes constitucionais e ao estímulo de periódico de fundo político ;, aos 26 anos (em 1812), foi chefe de governo e comandante do Exército. Dirigido pelo jornalista e cineasta Cristián Galaz, que, há 10 anos, embalou a retomada de público chileno, com El chacotero sentimental, Carrera, o príncipe dos caminhos será a atração de amanhã, às 20h. A retratação de batalhas decisivas na emancipação do Chile, entre as quais as de Cancha Rayada e o combate de Placilla, exigiram dedicação de 400 profissionais e registros simultâneos de seis câmeras, no pacote de seis filmes programados para o Instituto Cervantes. Com direção de arte inspirada em obras de reconhecidos artistas do século 19 do porte do francês Claudio Gay e do peruano José Gil de Castro (O Mulato), a série de fitas feitas há três anos para a tevê (Canal 13), mas com requintes de cinema e patrocínio do Ministério da Educação, analisa motivações pessoais dos ditos heróis, num esforço de redescobrimento histórico, com apoio de pesquisadores e de entidades como o Dibam (Direção de Bibliotecas, Arquivos e Museus) e o Teatro Municipal de Santiago. Peça importante na construção da identidade libertária do Chile, a reboque da Revolução Francesa e da independência norte-americana, o advogado Manuel Rodríguez, um patriota feito comandante em guerrilhas (além de ter ocupado diversos cargos governamentais) e admirado pelas camadas populares, tem a vida mostrada em Rodríguez, filho da rebeldia, com projeção prevista para quarta-feira, às 20h. Força relativa Nesse painel de renovação da sociedade colonial chilena, em fase de amadurecimento ; com as disputas internas moderadas e os anseios sociais dos crioulos (filhos de espanhóis, nascidos na América) mais atendidos ;, despontam dois títulos dirigidos por Gustavo Graef-Merino: Balmaceda, o olhar de um patriota e Prat, espada de honra. Formado em direito e em audiovisual (Escola de Cinema de Munique), Graef-Merino (de Johnny 100 pesos, 1993) encampa o ocaso de dois dos heróis chilenos. Figura proeminente no setor naval dos anos de 1860, Arturo Prat, no longa-metragem, tem retratada a fase derradeira, já na Guerra do Pacífico (ainda a do século 19). Disputas comerciais, motivadas pela exploração de recursos minerais, num cenário em que Peru e Bolívia firmaram aliança contra o Chile, alimentam a série de recordações do militar posto à prova na Batalha de Iquique. Também embalado por crise ; implacavelmente, mais profunda ;, Balmaceda, o olhar de um patriota encerra a mostra no Instituto Cervantes, sábado, às 19h. O saldo de 2000 mortos na guerra civil está registrado no filme de Graef-Merino, como um dos fatores para o enfraquecimento do apoio popular no qual espraiava-se o presidente progressista José Manuel Balmaceda, que morreu em19 de setembro de 1891 (no dia seguinte ao término do mandato dele). As circunstâncias da morte, ocorrida após Balmaceda buscar refúgio na Embaixada da Argentina (sob o apoio do embaixador José Evaristo de Uriburu), ficam muito claras no longa que revela a fragilidade e o comprometimento extremo do líder para com o Chile. Dois destaques da mostra O;Higgins, viver para merecer seu nome Hoje, às 19h ; Um dos braços do Exército Libertador dos Andes, proclamador da Independência do Chile e primeiro chefe de Estado (1817 a 1823), Bernardo O;Higgins (Julio Milostich) é o tema central do filme de Ricardo Larraín, conhecido por La frontera, vencedor do Urso de Prata no Festival de Berlim e do Goya de filme estrangeiro. Com a vida pessoal tumultuada (teve que, por exemplo, abrir mão do amor de Rosario Puga), O;Higgins enfrentou de terremoto à reprovação de populares (diante dos arroubos de autoritarismo), antes de capitular como patriota exilado no Peru. O emblema de consciencioso fica impresso no longa que retrata o responsável pela Esquadra Libertadora, detendo-se em episódios da infância dele e da importância da matriarca Isabel Riquelme (a excelente Elsa Poblete) na vida dele. Portales, a força dos fatos Quinta-feira, às 20h ; O diretor Roberto Sepúlveda compõe, sem facilidades, a trajetória de Diego Portales ; ministro da Guerra e Marinha, do Interior e das Relações Exteriores ;, um protagonista bem antipático, metido em uma situação pouco heroica (uma vez que está preso) e cercado por mortes constantes de entes. Ator de personalidade, Carlos Concha constrói um homem sufocado pela concentração de poder, que não mantinha vida conjugal saudável e se afundava em duros embates religiosos. HERÓIS - A GLÓRIA TEM SEU PREÇO Mostra de cinema de diretores chilenos, no Instituto Cervantes (707/907 Sul) até o dia 31. Entrada gratuita. Mais informações: 3242-0603

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