Diversão e Arte

Cláudio Ferreira estuda o fenômeno do reality-show, que virou febre

postado em 28/10/2010 08:00
Você pode até não gostar, mas certamente já deu uma espiadinha básica em algum reality show. Quando, em julho de 2000, estreou na Rede Globo o programa No limite, inspirado na atração da tevê norte-americana Survivor, começava ali uma febre que contaminou boa parte dos brasileiros. E foi isso que acabou motivando o jornalista Cláudio Ferreira a publicar o seu primeiro livro, A dinâmica dos reality-shows na televisão aberta brasileira, que será lançado hoje, às 19h30, na Livraria Cultura, do CasaPark.

Resultado de uma tese de mestrado, o assunto nunca havia despertado o interesse do autor, que sempre gostou de escrever sobre cultura. Mas, sentindo a ausência de publicações sobre o tema no mercado, decidiu investir nesse filão. ;Sempre me interessei muito por novela, mas essa temática já era muito explorada. Tinha até uma certa resistência aos reality shows. Mas aí decidi estudar para a minha tese porque me impressionei como aqueles programas tinham conquistando uma audiência tão grande e em tão pouco tempo. As pessoas que assistem se envolvem de uma maneira tão intensa, tão apaixonada, que aquilo me chamou a atenção;, conta.

Cláudio Ferreira: reality-show dialoga com outras dramaturgiasCláudio Ferreira analisou dois programas, o Big Brother Brasil, exibido pela Globo, e O Aprendiz, da Record. Mas faz um retrospecto desse tipo de atração no Brasil e no exterior e o começo de tudo, provavelmente em 1973, nos Estados Unidos. ;Nos anos 1990 foi que a produção começou mesmo em larga escala e aí surgiram as empresas especializadas nisso, como a holandesa Endemol. Mas foi na década de 2000 que eles bombaram mesmo;, comenta.

A obra do jornalista aborda também os vários ingredientes que contribuem para o sucesso desse tipo de programa. Um deles é o fato de ser bem mais barato para produzir e ter retorno financeiro estrondoso com merchandising e propagandas. ;Nem precisa ter audiência porque comercialmente eles são muito vantajosos. Por isso, toda tevê aberta tem o seu;, diz. Outra questão é que os reality shows, apesar de serem um produto novo, incorporam elementos de atrações antigas como as novelas, os programas de auditório e os videoclipes e, dessa maneira, o telespectador acaba se identificando.

Além disso, segundo Ferreira, o ser humano é curioso por natureza e, portanto, adora dar uma espiada na vida alheia. ;A gente tem essa coisa do voyeurismo, é natural do ser humano. Gosta de observar o outro e, nesses programas, você acaba se deparando com aspectos muito íntimos como o banho, o sexo. Isso sem falar na questão da interatividade. O indivíduo pode decidir os rumos do programa, que é bem interessante também;, frisa.

Cláudio Ferreira afirma que tudo leva a crer que a televisão aberta brasileira ainda vai contar com os reality-shows na programação por muitos anos e que o número de votos na final do último BBB prova como o telespectador curte esse tipo de atração. ;Foram 154 milhões de votos, um recorde mundial. Nenhum Big Brother de outro país registrou um número como esse. Hoje, temos reality pra tudo: pra emagrecer, pra mudar o guarda-roupa, que troca as famílias, pra ganhar emprego. É impressionante como eles mobilizam pessoas de todas as classes. É um formato que pegou mesmo e deve continuar por um bom tempo;, resume.

; Trecho
Conclusão: Um gênero com vida longa


A partir da análise audiovisual de episódios da oitava
temporada dos reality-shows ;Big Brother Brasil; e ;O Aprendiz;, este
livro procurou detectar estratégias traçadas, por parte dos produtores
e dos exibidores do programa, para tornar familiar um gênero novo,
ainda em consolidação na televisão aberta brasileira e,
conseqüentemente, conquistar a audiência. Apesar de se tratarem de
programas com temáticas diferentes - um com foco maior na convivência
pessoal e outro no desempenho profissional dos candidatos -
observou-se a utilização de várias estratégias comuns. As diferenças
aparecem, no entanto, na ênfase com que cada estratégia é utilizada e
nos objetivos da incorporação destes elementos à estrutura do
reality-show.

Identifica-se, em primeiro lugar, a legitimação de valores
hegemônicos da sociedade brasileira nos programas em análise. A
referência a valores, instituições e produtos culturais hegemônicos
nos dois reality-shows tem como objetivo promover a identificação
imediata do telespectador com estes novos produtos. A partir do
conceito de hegemonia desenvolvido por Raymond Williams [1], como ;um
processo social vivido; na totalidade e como um complexo predominante
de experiências, valores, significações, relações e atividades que
sofrem limites e pressões, percebe-se a dupla função desta
identificação com elementos hegemônicos: minimizar os riscos
decorrentes da inovação, evitando a incorporação de elementos
residuais ou emergentes, que nem sempre seriam aceitos pelo público; e
lidar com valores já consolidados na sociedade brasileira,
principalmente quando se referem a temas controversos como sexo e
namoro, ou à familiaridade com produtos culturais.

A identificação com valores hegemônicos opera de maneira
diferente nos dois programas. No ;Big Brother Brasil;, os valores
evidenciados dizem respeito ao comportamento individual dos
participantes. Por isso, estão mais sujeitos a limites e pressões da
sociedade, que muitas vezes são ;antecipados; pela emissora que produz
o programa, não por acaso detentora, há quase 40 anos, de uma posição
hegemônica no universo da televisão aberta brasileira. Temas como
sexo, namoro, homossexualidade e racismo são tratados a partir de
parâmetros conservadores, mesmo que haja pressões, por parte dos
participantes da competição, para que atitudes mais liberais sejam
permitidas. Antes de se balizar pela vontade dos concorrentes, a
emissora leva em conta a postura do telespectador médio. Por isso, há
restrições a ousadias textuais e audiovisuais.

Em algumas questões, como o consumo de álcool e o uso de ;palavrões;
como linguajar cotidiano, estes parâmetros não estão claros. O consumo
de bebida alcoólica aparece em diversos momentos do programa, mas as
conseqüências do exagero na substância são mostradas com menos
freqüência. Em relação à linguagem, o uso de alguns palavrões é
tolerado e outros são ocultados do telespectador. Conclui-se,
portanto, que estes são itens nos quais os limites e pressões ainda
não resultaram em uma posição definida pela emissora hegemônica.

Já no caso de elementos como a valorização da juventude e da beleza,
a abordagem feita pelos reality-shows em análise reflete o tratamento
dado pela mídia hegemônica a estes temas, com regras e exigências por
vezes distantes da maior parte da população brasileira, mas que são
assimiladas como ideais a serem alcançados. Basta observar que, nos
dois programas, de 30 concorrentes (14 em ;Big Brother Brasil; e 16 em
;O Aprendiz;), só foi selecionado um negro, não havia participantes
das classes mais baixas e a maioria era das duas maiores metrópoles do
país, São Paulo e Rio de Janeiro. Além disso, o perfil estético dos
participantes ; de maneira mais rígida em ;Big Brother Brasil; do que
em ;O Aprendiz; ; correspondeu aos parâmetros desta mídia hegemônica.

Temas que provocam constrangimento ao serem tratados na sociedade em
geral, como o racismo, também são abordados de maneira velada no ;Big
Brother Brasil;. Do mesmo modo, uma temática que incorpora, por vezes
,estereótipos criado tanto neste país como no exterior, como a
;brasilidade; , é valorizada, durante o reality-show em questão,
também com base em idéias pré-concebidas e muitas vezes distantes da
realidade. A exposição de todos estes valores é feita sem dar espaço
para questionamentos, reproduzindo-se exatamente os pontos de vista
das classes sociais hegemônicas, sob uma ótica freqüentemente
conservadora.

A recorrência a estereótipos e ;modos de vida; importados aparece, com
muita ênfase, em ;O Aprendiz;, já que neste reality-show, a maior
parte dos valores ressaltados pertence ao chamado ;mundo dos
negócios;. Parâmetros globalizados influenciam desde a seleção de
imagens (ocultando-se, por exemplo, as paisagens brasileiras que
evidenciam a pobreza do país) até o discurso da equipe que comanda o
programa, no qual sobressaem as palavras em língua estrangeira e as
comparações também com modelos exteriores à nossa sociedade. O mesmo
se aplica à análise do desempenho dos participantes, baseada na maior
parte das vezes num ;mundo dos executivos;, importado dos grandes
centros financeiros mundiais, que reforça preconceitos e não leva em
conta as diferenças entre países, culturas e sociedades.

Ao examinar a legitimação de valores nos dois programas, portanto,
percebe-se uma contradição entre as regras dos novos formatos (e do
gênero reality-show em particular), de um lado, e a prática das
adaptações feitas pela televisão aberta, de outro. Apesar de a
literatura sobre o novo gênero salientar que existem cláusulas
contratuais que garantem uma margem de adaptação local do produto
globalizado, o que se vê, na prática, é uma adaptação feita com base
em parâmetros globalizados. As marcas locais se restringem aos
valores que coincidem com os valores hegemônicos trazidos do país de
origem do reality-show ou a valores importados que são reprocessados
pelas classes sociais hegemônicas do país.

Tal contradição pode ser comprovada, também, na legitimação feita,
durante os programas, de produtos culturais supostamente conhecidos do
grande público. Esta valorização também tem o intuito de concretizar a
familiaridade do programa com o público e obter retorno de audiência
para a emissora. Especificamente no ;Big Brother Brasil;, as
referências ao cinema, à música, ao carnaval e ao futebol, além de uma
auto-referência à televisão, muitas vezes espelham valores
hegemônicos: o cinema ao qual o programa se refere durante toda a
temporada é o hollywoodiano e a música popular é a dos nomes já
consolidados pela indústria multinacional. Mesmo o carnaval e o
futebol, manifestações geralmente ligadas à cultura brasileira,
merecem abordagens hegemônicas: o carnaval, nas referências do
programa, se resume ao desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro
e o futebol, aos grandes times que participam do Campeonato
Brasileiro. Não há espaço para produtos culturais alternativos, como
filmes independentes estrangeiros ou produtos brasileiros, assim como
para a música produzida fora das grandes gravadoras, manifestações
carnavalescas de outros estados ou o futebol das pequenas equipes.

Pelo fato de ;O Aprendiz; se propor a abordar exclusivamente o ;mundo
dos negócios;, há referências apenas pontuais a produtos culturais.
Mesmo assim, a lógica é a mesma que no ;Big Brother Brasil;. Em uma
prova, a premiação é assistir a um show da dupla sertaneja Zezé di
Camargo & Luciano, artistas já consagrados pela mídia hegemônica. Em
outra, os participantes assistem a um show de um cantor pouco
conhecido do grande público, mas que é amigo e produtor do CD gravado
pelo apresentador do programa.

A análise dos programas mostra ainda que a estratégia de tentar
conquistar o público para o novo gênero passa também pela referência
maciça a duas instituições hegemônicas: a família e a igreja. A
abordagem de cada tema tem objetivos específicos nos dois
reality-shows em análise. A família merece maior ênfase nos dois
programas. Em ;O Aprendiz;, a intenção é explicitar o contraste entre
a vida pessoal e a vida profissional, expostas como se tivessem
valores incompatíveis. As referências familiares serviriam, então,
para atenuar a impessoalidade e a racionalidade do ;mundo dos
negócios;. Já no ;Big Brother Brasil;, a própria concepção do programa
incorpora elementos da instituição familiar, como a casa sendo o
centro das ações e decisões. Neste reality-show, a família também
opera como instrumento de limite a comportamentos supostamente
transgressores, como os excessos de liberdade física (exposição do
corpo), liberdade sexual ou consumo de bebida alcoólica, ressaltando,
assim, o caráter conservador da instituição.

As referências mais freqüentes à igreja aparecem no ;Big Brother
Brasil;. Podem ser analisadas como uma estratégia individual, de cada
participante, para conquistar o público. A legitimação da
religiosidade hegemônica no país, ligada ao ramo judaico-cristão, traz
uma carga de valores associados pela média dos telespectadores à
nobreza de caráter e a atitudes positivas em relação à coletividade,
por exemplo. Como os concorrentes sabem que estão sendo julgados pelo
público ; que, semanalmente, vota pela eliminação de um participante ;
apegam-se, muitas vezes, a referências sabidamente valorizadas pela
audiência, como a prática do Cristianismo. O desligamento entre o
plano pessoal e o plano profissional operado por ;O Aprendiz; faz com
que haja somente uma referência à religiosidade, quando um candidato
porta uma Bíblia, mas a intenção é a mesma que em ;Big Brother
Brasil;: justamente o participante de personalidade mais criticada
pelos outros competidores, acusado de mau-caratismo e outras
características negativas, expõe sua ligação forte com o mundo
religioso.

Além da identificação das estratégias de emissoras e produtores na
incorporação de elementos hegemônicos (valores, instituições e
produtos culturais) da sociedade brasileira para alcançar a conquista
da audiência, esta pesquisa procurou analisar como se dá a ancoragem
do gênero reality-show a gêneros televisivos mais antigos e, por isso
mesmo, bastante conhecidos do grande público. Esse resgate é apontado
pela literatura como uma das características do formato ;Big Brother;,
mas a análise dos programas também aponta esta prática, mesmo que em
menor escala, em ;O Aprendiz;. Cosette Castro [2] faz a ressalva de
que, atualmente, ;já não há um gênero puro de narrativa de ficção em
TV, pois ela está impregnada de outras narrativas e da realidade;.

Detectou-se, em primeiro lugar, que o gênero mais utilizado para esta
ancoragem é a telenovela, o gênero hegemônico da televisão aberta nos
últimos 40 anos, que atinge todas as classes sociais do país e tem boa
aceitação também no exterior. As referências às telenovelas estão
presentes nos dois reality-shows. A estratégia de ancoragem a gêneros
antigos é operada de maneira mais efetiva pelo ;Big Brother Brasil;,
que, além da telenovela, se vale de gêneros como os programas de
auditório, os humorísticos, os desenhos animados, os programas para
jovens e os programas de entrevistas. Em ;O Aprendiz;, além da
telenovela, o outro gênero utilizado para tornar o programa
reconhecível perante a audiência é o game show, jogo de perguntas e
resposta, outro gênero consolidado na televisão aberta brasileira. Nos
dois programas, esta ancoragem aparece tanto nas referências
audiovisuais quanto na narrativa utilizada em diversos episódios dos
programas.

A estratégia de ancorar o novo gênero em elementos do passado
televisivo - que poderia ser analisada como uma apropriação da herança
coletiva dos telespectadores da televisão aberta brasileira, a
;processualidade histórica comum; de que fala Raymond Williams [3] -
tem outro modo de ser concretizada nos dois programas analisados, por
meio da utilização de recursos audiovisuais. Elementos gráficos como
tarjas, letreiros e vinhetas, herdados do gênero jornalístico, buscam
dar informações adicionais sobre os programas ao público e, em alguns
casos, aproximá-lo emocionalmente do reality-show (quando se utiliza,
por exemplo, um medidor de batimentos cardíacos ou um detector de
mentiras em momentos de tensão). Recursos de intervenção na imagem,
como o aumento ou diminuição da velocidade, o uso da câmera
infravermelha, a edição que insere mais de um quadro na mesma tela ou
em ritmo de videoclipe quebram a monotonia do monitoramento constante
das câmeras (no caso do ;Big Brother Brasil;) e da repetição de
procedimentos no cumprimento das tarefas (no caso de ;O Aprendiz;). O
uso dos recursos audiovisuais, no entanto, está ligando a valores
diferentes nos dois programas. Em ;Big Brother Brasil;, a utilização
maciça da tecnologia audiovisual está relacionada à valorização da
juventude e de seus gostos (um deles é a atração pelas novidades
tecnológicas). Já em ;O Aprendiz;, a valorização da tecnologia
reproduz o papel do desenvolvimento técnico no ;mundo do trabalho; e
sua ligação com atributos como eficiência e necessidade de atualização
constante. As próprias técnicas utilizadas oferecem significados
diferentes para o público: a câmera infravermelha, em ;O Aprendiz;,
revela imagens em ambientes escuros, pouco acessíveis para os
equipamentos convencionais; já em ;Big Brother Brasil;, ela tem a
função de explicitar ao público que as imagens exibidas por meio desta
linguagem não devem ser mostradas de maneira explícita, por causa do
conteúdo íntimo (principalmente cenas de nudez ou sexo).

Apesar de o gênero reality-show ter estreado na televisão aberta
brasileira há apenas nove anos, pode-se observar, a partir da análise
dos dois programas que são objeto deste livro, que já existem
características comuns ao gênero, mesmo que, dependendo da natureza do
programa, haja adaptações. O acompanhamento de alguns episódios das
edições 2008 dos dois reality-shows permite identificar, por exemplo,
a quebra da separação rígida entre ficção e realidade. Mais do que
isso, o gênero provoca a relativização do conceito de realidade, já
que os participantes sabem que estão sendo observados (com diferenças
na intensidade da vigilância entre um e outro programa) e avaliados
(pelo público, em um caso, e pelo apresentador e seus conselheiros, no
outro). Há uma perda evidente de naturalidade por parte dos
concorrentes do jogo ; é difícil saber, a priori, quem está
representando um personagem ou explicitando as características da
própria personalidade. Ao mesmo tempo, a edição de imagens reforça os
perfis estabelecidos pela produção do programa para cada participante,
teoricamente com base nestas características pessoais. Situado, a
princípio, no meio do caminho entre o documentário (registro das
atitudes de um grupo de pessoas em um espaço e um tempo determinados)
e a ficção tradicional, o gênero reality-show não pode ser
classificado com base nas definições históricas de ficção e realidade.

Do mesmo modo, ao promover a quebra da separação entre informação,
entretenimento e publicidade, principalmente entre os dois últimos, o
novo gênero demonstra um fôlego comercial difícil de ser acompanhado
por gêneros mais tradicionais. Rebusca o merchandising tradicional da
ficção, que depende de uma combinação entre o produto a ser vendido e
o enredo. Inverte esta relação: as tarefas dos participantes são
criadas a partir dos produtos e alguns concorrentes tornam-se
garotos-propaganda, exibindo roupas com as logomarcas das empresas.
Nos dois reality-shows analisados, os limites anteriores da
publicidade dentro dos programas são ampliados, com um reforço duplo:
os mesmos patrocinadores que anunciam no intervalo comercial do
programa aparecem durante o episódio, nas inserções de merchandising.

Observa-se também a relativização de três características exploradas
pelas criadoras do formato e pelas emissoras que exibem o programa
como atrativos para o gênero: o confinamento dos participantes, a
perda de privacidade deles ao entrar no jogo e a interatividade com o
público. São elementos adaptados a cada tipo de reality-show, mas que,
no conjunto, consolidam uma relação diferente entre o telespectador e
o conteúdo que está sendo veiculado pelo gênero. Acostumado a torcer
pelo mocinho ou pelo vilão das telenovelas, o público tem a chance de
se envolver com personagens reais e se espelhar nos participantes da
competição. No ;Big Brother Brasil;, adicionalmente, o público pode
observar os concorrentes em situações da vida privada não exibidas
anteriormente pela televisão aberta brasileira, além de interferir no
andamento do programa, ao eliminar semanalmente um candidato.

Esta relativização, além da quebra de paradigmas dominantes na
televisão aberta brasileira (divisões ficção/realidade e
entretenimento/publicidade/informação), se traduz na consolidação de
um amplo potencial, por parte dos novos formatos e, especificamente,
dos reality-shows, de serem reeditados continuamente. Apesar de
atenderem a parâmetros pré-determinados pelos produtores estrangeiros
e manterem uma identidade visual e uma constância nas regras das
competições, as várias edições de um mesmo programa apresentam novos
personagens (participantes selecionados a cada temporada), e,
conseqüentemente, novos enredos e desfechos. Calcados no desempenho e
na empatia dos competidores anônimos, os programas tornam-se atraentes
para o público mesmo em meio a repetições na estrutura do jogo e na
narrativa audiovisual, porque cada conjunto de concorrentes imprime
sua marca exclusiva à competição.

O sucesso das estratégias audiovisuais implementadas pelas emissoras
que fazem a adaptação local dos novos formatos e, particularmente, dos
reality-shows, pode ser medido, por exemplo, pelo registro de
participação do público por meio dos canais de interatividade. A final
da edição 2008 do ;Big Brother Brasil;, por exemplo, teve 76 milhões
de votos para eleger o vencedor da competição. A última transmissão da
temporada 2008 de ;O Aprendiz; marcou picos de audiência de 21 pontos,
índice alto para a Rede Record, que oscila entre o segundo e o
terceiro lugar em audiência entre as redes brasileiras de televisão
aberta. A busca constante por elementos que concretizem a
familiaridade do público com este gênero televisivo e a ênfase em
valores hegemônicos, ligados às camadas mais altas da sociedade,
constroem, portanto, uma identificação do telespectador com os
reality-shows, programas que,mesmo pertencendo a um gênero que ainda
não completou uma década de exibição no país, parecem ter fôlego para
mais alguns anos de sucesso.

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