postado em 29/10/2010 08:00
Numa cabra-cega musical, não soaria nada estranho alguém sugerir que está ouvindo uma banda americana enquanto o disco Sunga, da banda paulistana Holger, sai dos fones de ouvido. Além das letras em inglês, é a sonoridade que os aproxima de um grupo gringo. Mais especificamente do Brooklyn, bairro nova-iorquino que vive atualmente uma efervescência cultural, produzindo bandas tão díspares e interessantes quanto Dirty Projectors e Vivian Girls.O nome do grupo, conta o guitarrista e baixista (e estudante de medicina) Marcelo Pata, 23 anos, surgiu por inspiração do pop sueco. ;Holger é um nome próprio comum em países do norte europeu. No fim das contas, nem ouvimos tanto o tal pop sueco, mas o nome surgiu daí;, explica. O caldeirão de referências estéticas do quinteto é assim: une Suécia e Brasil, Nova York e São Paulo. E alcança ouvintes até no Canadá, onde eles já se apresentaram duas vezes (no conceituado festival Pop Montreal).
Lançado pela gravadora Trama, Sunga apresenta o que é o Holger de hoje. O de ontem poderia até ser considerado uma outra banda, tal é a diferença de sonoridade entre o primeiro álbum e seu registro anterior, o EP The Green Valley ; muito mais afeito ao folk rock e ao indie rock dos anos 1990. ;Essa mudança veio muito de nos conhecermos melhor como banda, de nos aprofundarmos em diferentes estilos musicais e de ter contato com outras bandas em festivais dentro e fora do Brasil. Acabamos incorporando novos instrumentos e recursos e, consequentemente, aprendemos a usá-los;, avalia Pata.
Festa entre amigos
A origem do Holger está ligada à amizade dos integrantes. Pata, o baterista e guitarrista Arthur e o baixista e tecladista Pedro tiveram uma banda na adolescência, o projeto: (lê-se projeto dois pontos). ;Quando a banda acabou, resolvemos gravar músicas no violão e nasceu o That;s All Folks. Acabamos tendo a ideia de colocar bateria, guitarra e baixo nessas músicas. Juntamos, então, os integrantes que formariam o Holger e começamos a ensaiar;, conta Pata. Além de Pedro (creditado como The Pepe no encarte de Sunga), Arthur e Pata, o grupo é formado pelo baixista e tecladista Rolla e pelo guitarrista, baixista e baterista Tché. Como dá para perceber, o intercâmbio de instrumentos é uma prática do quinteto, em estúdio e ao vivo.
E por falar em ao vivo, a resposta positiva que o Holger vem conseguindo se deve aos shows intensos e animados. Vale buscar um vídeo da banda no YouTube para ter noção da boa bagunça que é uma apresentação deles. Para Pata, cada show é encarado como se fosse o primeiro e o último: ;Quando subimos ao palco, levamos nossa vida, nossas histórias, alegrias e amigos juntos. Fazemos uma festa. Fazemos daquele momento o melhor momento da nossa vida;.
Sunga foi produzido pelo americano Roger Paul Mason (indicado pela galera do Dirty Projectors). O álbum mostra um Holger bem mais dançante do que antes, com levadas ora mais indie rock, ora mais afro-pop, via Vampire Weekend. Let;em shine below, a primeira do CD a ganhar videoclipe, se confirma como hit desde a primeira audição. O disco tem outros destaques (Beaver e Undesirable regrets, por exemplo), mas nem todas as faixas conseguem o mesmo efeito. O colorido da capa acaba contrastando com o preto e branco do repertório, que cai numa certa repetição de padrões ; e em comparações inevitáveis com as referências estrangeiras da banda.
Fossem as letras em português, talvez o som do grupo ganhasse um diferencial determinante. ;Adoraríamos compor em português, mas até agora não conseguimos fazer nada que nos agradasse. Quem sabe em um disco novo?;, diz Pata. Em português ou inglês, o Holger pede uma conferida. Especialmente ao vivo.
HOLGER
A banda paulistana lançou seu disco de estreia, Sunga, pela Trama. O álbum pode ser baixado gratuitamente em www.holger.com.br. ***