Diversão e Arte

Ibram cadastra obras roubadas de museus e acervos particulares

O documento também será usado pela Interpol

Regina Bandeira
postado em 01/11/2010 08:00
Marinha (Marine, 1880-1890, óleo sobre tela - 65×91cm)O Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) conclui até o fim do ano um cadastro de obras roubadas ou desaparecidas de museus de todo o país. A listagem é uma forma de mapear o sumiço de obras de arte no Brasil, já que não há dados oficiais sobre esse problema.

Acervos de colecionadores, museus privados ou de instituições públicas são frequentemente surrupiados, e, muitas vezes, só são descobertos tempos depois. Em vários casos, esses crimes não são sequer denunciados. O acervo do Ibram terá a descrição das peças com imagens para identificação.

A primeira lista contará com 100 obras, originárias de 10 museus federais, mas a ideia é ampliar esse número e receber denúncias de roubos de acervos de instituições de todo o país. Além da lista pública de obras, elas também serão incluídas no banco de dados da Polícia Internacional (Interpol), que já trabalha com uma listagem semelhante, mas ela trata apenas de bens tombados pelo patrimônio público.

Para os especialistas, a criação de um cadastro nacional unificado é um passo importante no combate aos roubos de bens culturais que são rentáveis, principalmente para compradores externos. ;Nossa intenção é evitar que a arte brasileira entre definitivamente nessa rota de comércio ilegal que a arte sacra nacional já entrou;, destaca Cícero Antônio de Almeida, coordenador de Patrimônio Museológico do Ibram. Segundo ele, o furto de obras de arte no Brasil é menor do que o encontrado no exterior, onde há quadrilhas especializadas nesse tipo de crime, mas começa a dar sinais de crescimento. Quando uma obra de arte consegue sair do país ; para mercados como Rússia, França, Inglaterra e países do Oriente Médio ; , dificilmente volta.

Dois Balcões (Homme D'une Complexion Malsaine, Écontant le Bruit de la Mar, 1929, óleo sobre madeira - 23,5×34,5cm);Eu, pessoalmente, não tenho mais tanta esperança de conseguir nossas obras novamente;, desabafa Vera de Alencar, diretora dos museus Castro Maya ; do Açude e Chácara do Céu ; do Rio de Janeiro. Este último foi vítima de um escandaloso roubo de obras primas, em fevereiro de 2006. O bando entrou armado e munido, inclusive, de granadas, em pleno dia. As medidas de segurança de nada adiantaram e nunca mais se ouviu falar das obras de Pablo Picasso, Salvador Dali, Henri Matisse e Monet, originárias do acervo familiar de Castro Maya.

Vera teme que essas telas já estejam longe daqui. ;Às vezes, sonho que elas voltaram, mas costumo ter pesadelos horríveis, como elas boiando no mar;, lamenta a administradora, que não gosta de tocar muito no assunto. ;Cansei disso. E nunca mais ninguém fez nada para encontrá-las. Isso dá desânimo;, reclama.


ARTE SACRA
Esses bens são administrados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A lista da Interpol tem principalmente peças furtadas de igrejas obras. Acervos particulares ficam de fora.


NO ESCURO
No Brasil, não há uma estatística de quantas obras são roubadas por ano nem quantas conseguem ser recuperadas.


O COBIÇADO
Pablo Picasso está no topo da lista de artistas mais roubados do mundo. Das 693 obras roubadas do pintor espanhol, 572 continuam com paradeiro desconhecido.


Telas recuperadas

; Enterro
; Cândido Portinari
; Foi roubada no início do ano do Museu de Arte Moderna de Olinda (PE)

; O Retrato de Suzanne Bloch
; Pablo Picasso
; O Lavrador de café
; Cândido Portinari
; Foram roubadas, em dezembro de 2007, no Masp (SP)

; O Pintor e seu modelo
; Pablo Picasso
; Minotauro, bebedouro e mulheres
; Pablo Picasso
; Mulheres na Janela
; Di Cavalcanti
; Casal
; Lasar Segall
; As quatro foram roubadas em julho de 2008 da Pinacoteca de SP

; Figura em Azul
; Tarsila do Amaral
; Cangaceiro
; Cândido Portinari
; Retrato de Maria
; Cândido Portinari
; Crucificação de Jesus
; Orlando Teruz
; Roubada em maio de 2009, da Coleção Privada da família Maksoud


*Quadros roubados em fevereiro de 2006 no Museu Chácara
do Céu (RJ)

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