Diversão e Arte

43º Festival de Brasília excluí único longa metragem brasiliense

Ricardo Daehn
postado em 02/11/2010 08:00
Os residentes, de Tiago Mata Machado, entra na disputa: Após o contentamento, a ressaca de uma má notícia. Esse foi o percurso emocional da equipe de produtores do longa-metragem O mar de Mário (de Reginaldo Gontijo e Luiz Fernando Suffiati), selecionado ; e limado ; com a mesma unanimidade pela comissão do 43; Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Sem o ineditismo (critério que permeou todas as etapas de seleção) ; uma vez que integra a parte competitiva da 34; Mostra Internacional de Cinema de São Paulo ;, O mar de Mário foi trocado pelo sétimo título da lista montada pela organização do evento, que ocorrerá entre 23 e 30 de novembro. ;Por ter sido exibido em outro festival, após o anúncio da seleção;, como ressaltado numa nota de esclarecimento à imprensa, o único representante local entre os longas-metragens, um documentário, foi trocado por Os residentes (de Tiago Mata Machado). Registrada no edital que demarca as normas da festa, a expressão ;preferencialmente inéditos no país; (impressa nas diretrizes da competição) é o amparo para o cineasta Reginaldo Gontijo contestar a eliminação do longa no âmbito da disputa. ;Não nos cabe transgredir normas, mas ;preferencial; não condiciona exclusividade. Somos pessoas da paz. Ainda não fui comunicado oficialmente da retirada, mas vamos entrar com recurso para que o filme dispute para além da Mostra Brasília;, comenta Reginaldo Gontijo. Reginaldo Gontijo (à direita, com L. F. Suffiati e Danyella Proença): O diretor afirma que não ;teve condições legais de retirar o filme na Mostra de São Paulo;. ;Se eu fosse um Glauber Rocha, poderia sair correndo com os rolos debaixo do braço. Quando saiu a seleção, já tinha catálogo publicado e o filme constava na programação oficial;, lamenta. A interpretação do conteúdo do edital, pelo que comenta o realizador, passará pela consulta a advogados. ;No ano em que a cidade comemora 50 anos, não ter uma produção local na lista é muito ruim. Aqui é a minha casa, onde cheguei em 1976. Aqui estão minhas referências, foi onde conheci o cinema de Glauber Rocha, Rogério Sganzerla, Ozualdo Candeias e Leon Hirszman. Foi um feito muito grande representar a capital num certame (a Mostra de SP) tão distinto que separou apenas oito filmes nacionais, entre os quais o nosso;, observa. Prioridades Dos 36 filmes em cardápio para a apreciação da comissão do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, 21 eram completamente inéditos. Havia marcações em títulos confirmados para outras mostras nacionais. O mar de Mário chegou livre de rótulos, sem explicitar a futura exibição na Mostra de São Paulo. ;Todo mundo sabe que são priorizados os filmes mantidos inéditos. As pessoas, às vezes, tentam capitalizar em cima das situações. Entrar numa disputa sem atentar para aquilo que é esperado e de praxe (o risco da retirada da fita na disputa) me parece uma postura do tipo ;se colar a manutenção do longa, colou;;, observa o crítico de cinema Marcelo Miranda, um dos componentes da comissão de longas-metragens. A postura foi sustentada pelos demais integrantes: o consultor do festival, Fernando Adolfo, a produtora Andrea Glória e os realizadores Jéferson De e Bruno Safadi. Segundo Miranda, ;tivemos que aplicar o discernimento: nada foi feito de modo subterrâneo ; todas as definições vieram às claras;. Na perspectiva dele, é necessário definir a vitrine a qual um filme almeja e ;não adianta querer abraçar o mundo;. É interessante ressaltar que o filme substituto negou (de antemão) a participação na Mostra de São Paulo, a partir do vislumbre da possível disputa por vaga em Brasília. Azarão Pela primeira vez participando do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, o diretor mineiro Tiago Mata Machado conseguiu a vaga entre os longas-metragens numa disputa em que entra ;meio como azarão;, brinca. ;Meu filme é uma produção de risco. Fico realmente honrado por participar de um festival tradicional que traz uma seleção interessante. O corpo de longas me pareceu interessante e creio que marque um diferencial, em termos de renovação de cena;, comenta o cineasta. Aos 37 anos e à frente de um orçamento de R$ 750 mil para o segundo longa-metragem, ele vê Os residentes como um filme ;de exceção, dentro das vertentes predominantes;. Desprendido do circuito dos festivais de cinema, ele, que também é crítico de cinema, já se vê ;no lucro;, pela participação. ;Não tenho medo quanto à receptividade do longa. Não trabalho com funções primárias no transcorrer do filme, por isso, sei do lucro que pode ter aquele espectador mais atento. Sei que o filme exige mais do que o habitual, em termos de interpretação;, adianta. Os residentes, a grosso modo, relata a rotina bem incomum de um epicentro para as transformações de uma cidade, que é invadida por comportamentos inovadores de pessoas amontoadas numa espécie de república lúdica. Quem é ele Mestre em multimeios pela Unicamp, o diretor Tiago Mata Machado dedicou-se três anos e meio à elaboração do segundo longa-metragem, Os residentes. O filme chega ao 43; Festival de Brasília do Cinema Brasileiro depois da curta vida do longa de estreia, O quadrado de Joana ; ;que ficou meio inacabado; ; e que, limitado a uma cópia (mostrada no 10; Festival de Cinema de Tiradentes), não circulou por outros eventos ou cinemas. Crítico de cinema e curador de mostras nacionais, Mata Machado ainda assinou os curtas-metragens Auto da ilusão e Curra urbana. Experimental Galpão e Festa no horizonte completam a filmografia dele.

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