postado em 05/11/2010 08:21
Três mulheres descalças caminham por uma planície, os cabelos esvoaçando ao vento matinal. Ouve-se apenas o canto de alguns pássaros, o farfalhar de algumas folhas e acordes de violão marcando a harmonia entre três vozes. O primeiro álbum do trio folk Mountain Man, Made the harbor, constrói, em 13 faixas que totalizam 31 minutos de duração, uma atmosfera espontânea, relaxante, de quietude, suavidade e contemplação da natureza. "Quisemos criar um álbum que fizesse o ouvinte se sentir como se estivesse numa sala conosco, por isso gravamos como um ensaio. A música desse disco foi feita para ser cantada para as pessoas", conta Amelia Randall Meath, em entrevista por e-mail. Ela, Molly Erin Sarle e Alexandra Sauser-Monnig se conheceram ainda estudantes na faculdade de artes, no distrito de Bennington, em Vermont (EUA).A estreia do Mountain Man já rendeu comparações com os barbudos do Fleet Foxes, a inglesa Laura Marling e a harpista Joanna Newsom. Mas a sonoridade, com coro a capela e uma presença não mais do que coadjuvante do violão, é mais simples que a dos pares. "Tentamos fazer o disco como se estivéssemos na cozinha da casa de alguém", diz Amelia. Sem as aparas de um registro em estúdio, dá para escutar nitidamente o arrastar de passos, ruídos de mãos que encostam no instrumento e nas roupas, algumas risadas e o pigarrear de gargantas.
Quando todos esses ruídos se encontram e se sobrepõem ao audível chiado do som do silêncio, há uma pequena hesitação, um acorde feito meio sem querer, e então a canção é iniciada. Molly, Alexandra e Amelia nem parecem que estão no meio de uma gravação. Elas estão se divertindo pra valer. "Nossas experiências femininas, de crescimento, nossas vidas e coisas que aconteceram conosco. Os lugares em que vivemos, comidas deliciosas, lavando pratos e dançando com mamãe na cozinha, andando nos trilhos de trem na direção do lago", descreve Amelia, citando as principais influências que tornam Made the harbor uma jornada musical tranquila e meditativa. E, de fato, o que parece inspirar o Mountain Man é a própria vida e o que ela tem de mais cotidiano, leve e humano.
A estreia recente não imobiliza a criatividade do trio. Enquanto viaja pela costa leste levando o repertório do Made the harbor para terras vizinhas (Nova York, Massachusetts, Nova York, Virginia e Washington), "novos sons são criados o tempo todo", expressa Amelia. Em nome de Alexandra e Molly, ela compartilha a vontade do grupo de criar um disco ainda mais sensorial e sensível. "Queria que fizéssemos um disco que você tivesse que comer para conseguir ouvi-lo", brinca Amelia. O primeiro álbum não é exatamente comestível, mas seria uma companhia inestimável num café da manhã dominical, desde que apreciado a quilômetros do centro urbano.
MOUNTAIN MAN
Conheça a banda de Bennington, Vermont, em www.myspace.com/mountainmansquint. O disco de estreia, Made the harbor, foi lançado pelos selos Bella Union/Partisan. Importado.
CRÍTICA - MADE THE HARBOR ****
Contemplação primaveril
Há algo de sereno, doce e onírico no som do Mountain Man. É como se fôssemos transportados à mais alta montanha a fim de contemplar o mais íntimo de nós mesmos. Nada no som dessas meninas de Vermont, na costa leste dos Estados Unidos, está nas 13 faixas do disco Made the harbor por acaso. O clima primaveril do estado influencia diretamente na composição do álbum. Imagine alguma jam session com Nico, ex-Velvet Underground, e a diva canadense Joni Mitchell e você terá uma leve ideia do que fazem Amelia Randall Meath, Molly Erin Sarle e Alexandra Sauser-Monnig. Os folks dedilhados Animal tracks e Buffalo e as melodias à capela de Mounthwings e Babylon estão entre os melhores momentos. Munidas apenas de um violão, executado com competência por Amelia, as três mostram que a simplicidade ainda pode ser a salvação - para tudo. (Ronaldo Mendes)