Diversão e Arte

Gafieira em Concerto leva muita gente a bailar nas noites de segunda-feira

Irlam Rocha Lima
postado em 08/11/2010 08:07
Ecos de uma música característica do centro do Rio de Janeiro chamam a atenção de quem passa pela 306 Norte, nas noites de segunda-feira. Desde julho, logo no começo da semana, o Feitiço Mineiro se transforma numa gafieira, que tem atraído um público heterogêneo. São trintões, quarentões e cinquentões dispostos a encarar a pista de dança e exibir-se em rodopios pelo salão, ao som de uma orquestra brasiliense. Sete músicos formam o grupo Gafieira em Concerto, que estreou no Velvet Pub, virou atração do Feitiço Mineiro e este mês estreia no CaribeñoCom menos de um ano de vida, o grupo Gafieira em Concerto destaca-se na cidade ao levar muita gente a bailar, ao desfiar repertório variado, com arranjos elaborados pelo cavaquinista Nelsinho Serra, diretor musical do projeto, criado por ele e por Felipe Pessoa, que toca violão sete cordas. "Somos sete músicos e uma cantora, todos com boa formação teórica e prática, bom conhecimento da música popular brasileira e com experiência adquirida em outras formações", apresenta Nelsinho. Foi essa experiência que levou ele, Felipe, Gabriel Carneiro (pandeiro), Júnior Viegas (percussão geral), Westonny Rodrigues (trompete), Tiago Fernandes (sax alto e clarinete) e Carlos Cárdena a estrear, em fevereiro, no Velvet Pub (102 Norte), sem ter feito nenhum ensaio. "Antes da primeira apresentação, fizemos um apanhado das músicas apropriadas para gafieira, que eram conhecidas da maioria dos integrantes da orquestra. Aos poucos fomos nos conhecendo melhor e passei a escrever arranjos em série. Um mês depois já tínhamos o repertório pronto, com mais de 50 músicas, predominantemente sambas e choros", conta o cavaquinista. Da lista fazem parte clássicos da obra de compositores da velha guarda como Noel Rosa, Ary Barroso, Cartola, Nelson Cavaquinho, Pixinguinha, Garoto, Geraldo Pereira e João Nogueira, e também de atuais, entre eles Chico Buarque, Ivan Lins, Djavan e Jorge Aragão. Quando iniciou a temporada no Feitiço, em julho, o Gafieira em Concerto, necessitando de vocalista, convocou a cantora Ana Cristina, que já havia trabalhado com outros grupos da cidade. Como ela trouxe novas músicas para o repertório, houve a necessidade de novos arranjos. "Os metais passaram a ter a função de acompanhamento, para enfeitar as músicas. E a presença da Ana Cristina no vocal trouxe uma interação maior com a plateia", avalia Nelsinho. Em 4 de outubro, o Gafieira em Concerto viveu um grande momento em sua (ainda curta) trajetória. Naquela noite, na abertura das comemorações dos 21 anos do Feitiço Mineiro, o grupo acompanhou o dançarino e coreógrafo Carlinhos de Jesus. "Foi um show muito bacana. Carlinhos é do samba, sabe tudo de gafieira e houve total integração entre a orquestra e ele. Acompanhamos ele tanto nas coreografias, com a dançarina, como quando ele atacou de cantor, em Sem compromisso (Geraldo Pereira), Malandro (Jorge Aragão) e Sá Marina (Antônio Adolfo e Tibério Gaspar)", comemora. Recentemente, o Gafieira em Concerto participou da segunda edição do Festival de Música da Nacional FM, com a música Leva essa, que ganhou registro, com as outras nove finalistas, no CD a ser lançado pela organização do evento. "O festival foi uma experiência interessante. Sentimos que muita gente gostou da nossa música", diz. Ainda neste mês, o grupo passará a se apresentar, quinzenalmente, no Caribeño, no Setor de Clubes Sul. RODOPIOS PELO CENTRO DO RIO A gafieira, que surgiu entre o fim do século 19 e o começo do século 20, no Rio de Janeiro, inicialmente era um lugar frequentado por pessoas mais humildes, que iam ali para praticar dança de casal. A Estudantina, que se tornou a mais conhecida, não era exatamente a mais antiga. Antes dela, existiram a Ameno Rosedá, a Kananga do Japão e o Dancing Vitória. Outra que se destacou bastante foi a Elite, cantada no samba clássico Baile no Elite, de João Nogueira e Nei Lopes. Atualmente, há algumas espalhadas pelo bairro boêmio da Lapa, no centro do Rio. Entre elas, a do Clube Democráticos, a do Teatro Odisseia, a Carioca da Gema e a Lapa 40 Graus, de propriedade de Carlinhos de Jesus. Vários músicos e cantores, que depois construiriam carreiras de sucesso, como Pixinguinha, Raul de Barros, Severino Araújo, Paulo Moura, Dominguinhos, Herivelto Martins, Jamelão, Elizeth Cardoso e Elza Soares, tocaram e cantaram nas gafieiras em tempos de vacas magras. "Acompanhava Seu Luiz (Gonzaga) nos shows que ele fazia pelo Brasil, mas quando sobrava um tempo eu corria para as gafieiras, onde ganhava uns trocados e me encontrava com umas morenas bonitas", recorda-se Dominguinhos. GAFIEIRA EM CONCERTO Apresentação da orquestra hoje, às 21h, no Feitiço Mineiro (306 Norte). Couvert artístico: R$ 15. Informações: 3272-3032. Não recomendado para menores de 18 anos. Ouça a música Leva Essa

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