Diversão e Arte

Documentário que trata das mensagens de Chico Xavier entra em cartaz

Ricardo Daehn
postado em 13/11/2010 07:40
Cena da gravação do documentário: pessoas narram experiências com as mensagens enviadas por Chico Xavier;A revolta estaria em qualquer ser humano, diante da brutalidade da perda de um filho; ;, frente a essa certeza, a diretora carioca Cristiana Grumbach não percebe impeditivos para católicos ; passíveis de reserva, pelas breves sentenças de blasfêmia ; assistam ao documentário As cartas psicografadas por Chico Xavier. ;A minha intenção com o longa, na verdade, é a valorização do compartilhamento e da convivência de sentimentos;, explica a cineasta, que assina a mais genuína das produções nacionais voltadas ao culto do médium, no ano que marca o centenário de Francisco Cândido Xavier.

Escrito há seis anos, e filmado há três, o documentário As cartas;, na avaliação da diretora, chega às telas em momento oportuno. ;O nosso filme, por contingência, veio depois dos outros com temática espírita e acho que ele compõe um painel, no qual o longa do Daniel Filho (Chico Xavier) tratou do personagem cinematográfico; o Nosso lar mostrou a doutrina e o meu traz a repercussão do trabalho do Chico para as pessoas comuns;, comenta Cristiana Grumbach. Sem a armadura da condição de diretora, ela enfrentou uma gangorra emocional, em meio à realização, com o nascimento dos filhos Tomé e Ian, e a morte da mãe, Gilda (a quem o filme é dedicado), por causa de câncer.

;Tive a chance de ouvir coisas a que talvez não desse tanta atenção, caso ainda não fosse mãe. Essa nova condição também poderia ter mudado a minha relação com minha própria mãe, pra melhor;, analisa a cineasta. Não foi por crença que As cartas psicografadas por Chico Xavier foi concretizado. ;A minha mãe era uma pessoa de esquerda, então a religião, em casa, era meio tratada com aquela visão de ópio. Não procurei esse filme por questões religiosas, mas por temas espirituais que me movem. Nos perguntamos: ;Por que todo esse esforço e todo esse trabalho, além do amor, se a gente vai morrer?;;, observa.

Mensagens
Se no longa de estreia, Morro da Conceição, Cristiana Grumbach encerrava ;uma síntese dos entrevistados; (num registro de boa fase do Rio de Janeiro), agora, com As cartas;, ;a intenção é a do retrato de um corte brutal na vida das pessoas e de como elas lidam com isso;, sublinha. ;O que importa para mim, no filme, é que aquelas famílias acreditaram nas mensagens e isso mudou a vida delas. No trabalho que fala também de perdas, tentei não ficar voltando para buracos, mas que fôssemos atravessando caminhos. No desenvolvimento, percebi que fui abandonado a questão da perda, o vínculo excessivo a ela, e pendi para o processo da maternidade;, analisa.

Numa linha dramática, o fator ausência é apresentado, para engrenar a experiência da comunicação extraterrena e abrir um leque de possibilidades de assimilação das lacunas humanas. ;O Chico Xavier teve um trabalho lindo, não apenas como líder religioso, mas como alguém que soube trazer o amor. Ele se esforçou a vida inteira por tentar apaziguar a dor do outro. Hoje, tenho a maior admiração por Chico, que era uma pessoa em quem não prestava atenção. Não me tornei espírita, mas, hoje, posso dizer que tenho contato com minha alma, começo a me ligar à espiritualidade;, conta a diretora.

Cristiana Grumbach: assessoria  de especialistas sobre o médiumAmparo providencial

Uma pesquisa que acolheu estudos de autores como Paulo Rossi Severino, Marlene Nobre e Caio Ramacciotti ; empenhados em atestar a autenticidade dos feitos do fenômeno Chico Xavier ; embasou a familiaridade da diretora Cristiana Grumbach com o tema. Referência no meio literário do segmento espírita, o jornalista Marcel Souto Maior (As vidas de Chico Xavier e Por trás do véu de Ísis) também serviu à equipe. Nas cartas lidas na fita ou mesmo entre as personagens, a morte, curiosamente, ganha definições diversas, como ;a vida, em outra moldura; e ;um ponto e vírgula;.

Sem floreios, o filme serve como ;alavanca para as mães; perceberem a condição dos filhos ;emprestados na vida;, como demarca a entrevistada dona Piedade, que recebe a mensagem filial em breve tom de alento (;vencemos, parecendo vencidos;). Pontuações de ligeiro humor, aspectos da depressão e, lógico, emoção brotam em relatos de pais amputados como David Muszkat, dono de uma dor que ;você engole, mas não digere;. Exposta à dupla tragédia, dona Thereza Santos, que conta ter estado com uma ;arma engatilhada; voltada para a cabeça, surpreende a cineasta, em dado momento, quando dispara um ;Você não acredita, né?;, ao elencar alguns indícios espíritas.

Companheira regular, a ética não larga a cineasta, que é amiga do mestre Eduardo Coutinho, com quem colaborou em seis longas-metragens. ;Uma coisa que fiz questão foi de retirar a causa mortis das pessoas, ; não queria dar esse prazer mórbido para o espectador;. O resguardo da intimidade sempre, por sinal, foi suporte para a diretora assistente de Jogo de cena. ;Saber defender o personagem de si mesmo foi um dos ensinamentos do Coutinho. Você tem uma responsabilidade sobre as pessoas que filma. O respeito pelo outro tem que vir sem complacência ; você tem que manter um teor crítico e questionar coisas. Me agrada o cinema de entrevistas, mas aquele do mínimo gesto. Quero escutar o que a pessoa está dizendo e ainda aquilo que ela não diz;, conclui. (RD)

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