postado em 14/11/2010 08:15
Quem escuta In rainbows (2007), último álbum lançado pelo grupo inglês Radiohead, se perde no detalhamento e riqueza de sons. Desde Pablo Honey (1992), o primeiro CD de Thom Yorke, Ed O;Brien, Phil Selway e dos irmãos Greenwood, já é possível perceber uma maturidade nas composições, desproporcional à idade dos integrantes que, na época, girava em torno dos 20. O grupo começou fazendo um rock bem feito, marcado pelas letras existencialistas, arraigadas naquele sentimento depressivo pós-adolescência. Em The Bends (1995) eles passaram pelo britpop, mas sempre se diferenciando de seus pares ingleses da época - Blur, Pulp e outras bandas retratavam ironicamente a sociedade britânica nos anos 1990. Foi em 1997, com Ok computer, que o quinteto passou a experimentar o que sabem fazer melhor: misturar elementos eletrônicos com rock. Contrário a todos esses barulhos que o Radiohead vem ensaiado desde 1986, quando ainda se chamava On a Friday, é o novo trabalho de Thom Yorke. O vocalista do Radiohead, em parceria com Bryan Ferry (ex-Roxy Music), com o produtor Mark Ronson (que já revelou Amy Winnehouse e Lilly Allen) e com outras celebridades do meio musical, resolveu deixar de lado os arranjos luminosos e inspiradores para não fazer nada, literalmente nada.
Eles criaram o single 2 minutes of silence (Dois minutos de silêncio), que segue à risca o título a que foi batizado. A ausência de sons foi pensada pela organização beneficente Royal British Legion, para arrecadar fundos a ex-membros das Forças Armadas Britânicas e seus dependentes. A ideia é ligar o lançamento do CD, que aconteceu em 7 de novembro, com o Remembrance Sunday, data em que os ingleses prestam homenagem aos falecidos em guerras, que este ano acontece hoje. Em vez daquelas músicas de refrões clichês e letras de autossuperação, os músicos resolveram não cantar e nem tocar durante os dois minutos de gravação.
Além da "canção", que já pode ser comprada pelo Itunes por ;1 (uma libra), também foi lançado um vídeo, em que os artistas que participaram aparecem ao lado do primeiro-ministro britânico David Cameron.
Para o maestro e compositor Jorge Antunes, o trabalho não passa de preguiça dos que o integram. Até porque, como ele relembra, o compositor norte-americano John Cage já havia feito o mesmo em Four minutes thirty-three seconds of silence, de 1952. "Provavelmente, os membros deste projeto não sabem nada sobre John Cage. As histórias na música sempre se repetem, não há nada de novo", argumentou o maestro.
O projeto divide opiniões. Fernando Brasil, vocalista da banda brasiliense Phonopop e fã de Radiohead, afirma que compraria, sem dúvida, o single e a ideia da Royal British Legion. "Este lançamento deve ser visto como um manifesto, um símbolo de uma ideia, e não como produto em si (no caso, a homenagem aos soldados ingleses mortos)", avalia. "Para mim, não há diferença, do ponto de vista de manifesto artístico, entre o War is over (if you want it), da campanha do Lennon, e esse disco. Mas isso não tem a menor relevância. O silêncio é sempre o melhor ponto de partida para se refletir sobre qualquer coisa"D, conclui.