postado em 16/11/2010 07:35
Começa hoje e vai até próxima terça-feira a quinta edição da Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), com 41 filmes de 10 países do continente, entre curtas, médias e longas-metragens, em exibições gratuitas. A seleção privilegia títulos contemporâneos, alguns ainda inéditos no circuito comercial nacional, reserva espaço para obras sobre ditaduras militares sul-americanas, na mostra Retrospectiva histórica ; Direito à memória e à verdade, e presta homenagem ao ator argentino Ricardo Darín, estrela do longa vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro em 2010, O segredo dos seus olhos, de Juan José Campanella.Curador desde a terceira edição, Francisco César Filho acredita que as sessões devem atrair muito mais que cinéfilos. ;O conceito de direitos humanos vai além do senso comum, sobre perseguição política e violência policial. Inclui direito da terceira idade, das minorias raciais, da diversidade sexual e até meio ambiente sadio. A ideia é elencar filmes que tenham inegáveis qualidades cinematográficas e aspectos ligados ao imaginário social do público;, diz. Projeções com audiodescrição e closed caption garantem acessibilidade a portadores de necessidades especiais.
Filmes anteriores ao suspense premiado deste ano e uma novidade ocupam o programa dedicado a Ricardo Darín: O filho da noiva (2001), de Juan José Campanella, Kamchatka (2002), de Marcelo Piñeyro, que o público poderá conferir hoje, às 16h30, e XXY (2007), de Lúcia Puenzo. No longa Abutres, dirigido por Pablo Trapero e lançado no Festival de Cannes, o argentino é um advogado que procura vítimas de acidentes de trânsito de olho nas comissões generosas das seguradoras. O filme será exibido hoje, às 20h30. ;Ele é um ator muito querido do público, de extraordinário sucesso, primeiro na TV e depois do cinema. E é simpatizante dos direitos humanos. Se entusiasmou com a ideia de ser homenageado;, revela César Filho.
Cinema social
Na seleção de filmes contemporâneos, títulos inéditos representam a produção atual da América do Sul, que vai muito além de Argentina e Brasil. No documentário 108, programado para o último dia do evento, às 14h30, a cineasta Renate Costa investiga a intolerância do regime autoritário dos Stroessner, no Paraguai dos anos 1980, que feriu diretamente a sua família. O tio, Rodolfo, sonhava em ser bailarino e foi enquadrado numa das 108 listas de homossexuais do país. Foi preso e torturado. No catálogo nacional, César Filho pinça Leite e ferro, registro documental de Claudia Priscilla agendado para amanhã, às 20h30. Em sua primeira realização, ela desnuda o cotidiano de amamentação, drogas e sexualidade de mães presidiárias.
O documentarista Evaldo Mocarzel, representado na mostra por Cinema de guerrilha (sexta, às 16h30), acredita que o cinema é um instrumento político, especialmente nas nações latino-americanas. ;Não acho que vai mudar o mundo, mas tem contribuição para dar, denunciando, humanizando, lançando novos olhares sobre regiões absolutamente desprezadas pelo poder público, como a periferia de São Paulo;, argumenta. Guerrilha exibe a produção alternativa de jovens humildes que organizam oficinas e projeções de curtas-metragens para as comunidades locais.
Com Vlado, 30 anos depois (terça, dia 23, 16h30), incluído na Retrospectiva, João Batista de Andrade revisita o assassinato do jornalista Vladimir Herzog, por meio de depoimentos. ;A incapacidade da ditadura de conviver com a diferença. Vlado era uma pessoa aberta, não tinha ações ilegais, e foi morto por essa intolerância. O filme revela uma preocupação de não deixar que essas histórias de violação dos direitos humanos passem impunemente;, afirma. A ficção também serve de reflexão sobre o passado, em outros destaques de temática política: O ano em que meus pais saíram de férias (2006), de Cao Hamburger, Pra frente Brasil (1982), de Roberto Farias, e o argentino A história oficial (1985), de Luis Puenzo.
5; Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul.
De hoje até o dia 23, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB; SCES, Tc 2, Lt. 22). Entrada franca. Classificação indicativa dos filmes e programação em www.cinedireitoshumanos.org.br. Informações: 3310-7087.