Diversão e Arte

Encontro no ES promove a harmonização do vinho com comida capixaba

Liana Sabo
postado em 18/11/2010 08:00
Neste ano, o Encontro Internacional do Vinho foi realizado em Vitória, com vista para o mar capixaba: moqueca harmonizada com os melhores rótulos de brancos secos do mundoVitória - Quando Brasília ainda engatinhava no consumo de vinhos finos, o Espírito Santo já dava as cartas nesse assunto. Diversos fatores contribuíram para que o estado se tornasse pioneiro na importação de alguns dos melhores tintos produzidos no Velho e no Novo Mundo, como o Almaviva, do Chile. A intensa imigração italiana que se instalou ao pé da serra capixaba é um deles. Outro é o benefício dado pelo governo estadual. É que o ICMS que incide sobre as importações (de qualquer produto) pode ser parcialmente financiado, explica o empresário Péricles Gomes, dono da Casa do Porto, fundada em 1988.

Graças a essas condições especiais, o mercado de vinhos se fortaleceu amparado em algumas iniciativas. Como a do médico Roberto Serpa, de Vitória, que, ao criar a Sociedade dos Amigos do Vinho do Espírito Santo (Soaves), em 1995, organizou um evento para discutir e degustar a bebida. Por 10 anos consecutivos, o encontro entre especialistas e apreciadores se realizou em Pedra Azul, entre os municípios de Domingos Martins e Vargem Alta. Com forte apelo turístico, o Espírito Santo oferece atrações entre o mar e a montanha. Em menos de uma hora, é possível sair de uma praia de águas claras, após comer uma moqueca feita em panela de barro e acompanhada por uma taça de vinho branco, e chegar à serra, onde o clima ameno sugere jantar europeu com vinho tinto e ingredientes produzidos na região.

Há tres anos, a administração do governador Paulo Hartung teve a ideia de resgatar o encontro e promoveu, no ano passado, em parceria com a iniciativa privada (Fecomércio, Senac e jornal A Gazeta ), o 1; Encontro Internacional do Vinho em Pedra Azul. Neste ano, o evento tornou-se itinerante e desceu a região de montanhas para descortinar a deslumbrante paisagem costeira da capital. Durante três dias, o Hotel Senac Ilha do Boi recebeu, no primeiro fim de semana de novembro, 150 degustadores, que apreciaram 42 vinhos de oito países: Chile, Portugal, Itália, Hungria, Espanha, França, Austrália e Nova Zelândia.

Rótulos selecionados pelo crítico chileno Patrício Tápia: seleção obrigatória para amantes da bebida1.001 vinhos
Inspirado no livro 1.001 vinhos para beber antes de morrer, escrito pelo inglês Neil Beckett, com a ajuda de uma equipe de 44 especialistas, o evento começou com uma degustação de mesmo nome, conduzida pelo jornalista e crítico chileno do El Mercurio Patrício Tápia. Autor de vários guias e livros especializados, Tápia apresentou nove amostras selecionadas por ele, a partir do sauvignon blanc Cipreses 2009, produzido pela Casa Marin, do Chile, orçado em R$ 99, seguindo-se o Gran Reserva 1987da Viña Tondonia, de Lopez de Heredia, produzida na região de Rioja, na Espanha, e importado pela Vinci por R$ 340. O terceiro foi o Erasmo 2006, outro chileno também por R$ 99, produzido na baía de Maule.

Mais um vinho andino, o Antiyal feito de carmen;re, syrah e cabernet sauvignon, é o primeiro biodinâmico do Chile. Trazido pela Casa do Porto por R$ 270, recebeu 91 pontos do crítico Roberto Parker. Na sequência, Tápia apresentou o australiano Mitolo Savitar 2007, 100% shiraz, que custa R$ 251, mas precisa ainda de tempo em garrafa do mesmo modo que o Astralis 2007, também 100% shiraz, o top da Clarendon Hills, cujo proprietário e enólogo Roman Bratasiuk esteve recentemente em Brasília para revelar sua obra prima, que mereceu 97 pontos de Robert Parker e custa na Grand Cru R$ 2.500, a garrafa.

Depois do Astralis, o barolo italiano Paolo Scavino 2003, produzido no Piemonte de vinhedos de até 80 anos, que sai por R$ 482, antecedeu o português Quinta das Bágeiras Garrafeira 2005, com 80% de uvas baga e 20% de touriga nacional, orçado em R$ 140. Para finalizar, Tradición Oloroso, com 45 anos, produzido em Jérez, famosa região vinícola da Espanha. A produção desse vinho fortificado é tão complexa que as garrafas %u201Csão numeradas e etiquetadas à mão, o que as torna únicas%u201D, explicou a representante da vinícola Ana Conde.

Tápia foi um dos quatro palestrantes estrangeiros. De Paris, veio o negociante de vinhos Olivier Pion, que comandou degustação de seis vinhos da Borgonha, entre eles o Meursault Le Tesson, do qual são produzidas apenas 300 caixas por ano. Pion, que tem cadastrados mais de mil produtores franceses, costuma degustar 30 amostras de vinho por dia. Da região de Champagne, veio Jean Baptista Geoffroy, enólogo e produtor, que deu a palestra O outro lado da Champagne , apresentando vinhos de produtores independentes daquela que é a região mais famosa de espumantes do mundo.

Completou o quarteto o sueco Andreas Larsson, eleito melhor sommelier do mundo em 2007 e que trabalha atualmente no restaurante PM & V;nner (Amigos), em V;xj;, interior da Suécia, e assina a carta de vinhos da Asian Airlines. Apaixonado por vinhos franceses, especialmente os de Bordeaux, Andreas surpreendeu ao afirmar que vinho branco também se decanta. Para ele, o merlot é %u201Csexy, pois tem perfume e frescor%u201D; já o pinot noir, o considera sem graça. %u201CÉ como beijar a irmã%u201D, sintetizou o premiado sommelier.

Moqueca
Combinar comida com vinho é como o casamento. Alguns são normais, como se espera; outros, exóticos, cheios de especiarias. Há ainda os clássicos e, por último, os ininteligíveis. Com esse prêambulo, o médico Mários Telles Jr., fundador da Associação Brasileira de Sommeliers de São Paulo, introduziu o tema Harmonizando a gastronomia capixaba. Segundo ele, a moqueca é um prato delicado. Ao contrário da preparação baiana, azeite de dendê não entra na receita. É até considerado heresia.

Também não fazem parte da receita nem pimentão, nem cebolinha e tampouco leite de coco.

A autêntica moqueca capixaba, servida em panela de barro, só aceita ingredientes frescos, nem peixe empanado é permitido (veja receita ao lado). Espumante é um coringa que vai combinar bem com a moqueca, mas, se você escolher vinho branco, ele não poderá ter excesso de álcool para harmonizar com frutos do mar, ensina Mário Telles, que também dirige a revista Wine Style. Outra dica é optar por um branco que não tenha passado por barrica de madeira, o que daria a mesma sensação de um tinto. Quanto aos doces de frutas brasileiras, servidos com vinhos de sobremesas, o ideal é acrescentar algum queijo gourmet, capaz de diminuir a doçura.

De textura macia e sabor ligeiramente adocicado é o queijo defumado tipo resteia, quase uma muçarela, produzido na serra do Espírito Santo pela família Carnielli, que guarda receita herdada dos avós italianos, os primeiros a chegar à região em 1890. Produtos agrícolas, como salumeria e queijos, também estiveram expostos ao lado de vinhos, na feira paralela ao encontro. Para o ano que vem, só falta definir a data, que será no segundo semestre, garante uma das organizadoras.

; A repórter viajou a convite do evento.

MOQUECA CAPIXABA

Ingredientes
; 2 cebolas grandes

; 5 tomates bem maduros

; 2 colheres de óleo de urucum ou colorau

; 800g de badejo em posta

; 1 maço de coentro

Modo de fazer
; Doure a cebola, picada em pedaços pequenos, no óleo de urucum. Faça uma caminha com metade da porção de tomates picados em cubinhos. Tempere o peixe com sal e limão. Não é preciso deixar marinando. Coloque as postas sobre a cama de tomate. Sobre as postas, coloque o restante do tomate e o coentro fresco picado, inclusive com o cabinho. O peixe fica no ponto em até 20 minutos

Rendimento
; Quatro porções

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