postado em 19/11/2010 08:55
O fim está próximo. A estreia, hoje, nos cinemas brasileiros de Harry Potter e as relíquias da morte ; Parte 1 inaugura o início da despedida da série mais lucrativa do cinema mundial. Do ponto de vista afetivo, os fãs de Potter terão a chance de gradualmente aprender a lidar com o sentimento de orfandade. A estratégia espertalhona de lançamento feita pelo grupo Warner, dividiu o último livro da saga escrita por J.K. Rowling em dois filmes. Harry Potter e as relíquias da morte ; Parte 2 está previsto para chegar aos cinemas no ano que vem. Mesmo assim, preparem-se, pois a comoção começa agora. No último feriado, o estudante Lucas Oliveira foi ao Cinemark Pier 21 para uma sessão de cinema. Na fila, mudou de ideia e resolveu usar o dinheiro da mesada para comprar a entrada da pré-estreia blockbuster.
;Eu fui o primeiro em Brasília a comprar o ingresso para Harry Potter e o prisioneiro de Askaban. Desta vez, eu não sabia que os ingressos já estavam à venda;, admite Lucas. A paixão do garoto pelo bruxinho restringe-se somente aos filmes.
Cecília Bonfim dedicou metade dos 20 anos de vida à leitura das aventuras passadas na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. ;Sair da última sessão será um choque. Vai ser bem pesado não ter um livro ou um filme para esperar;, lamenta. A estudante coleciona todos os tipos de produtos relacionados à franquia, como livros, DVDs, pôsteres e até uma varinha. Cecília é a típica pottermaníaca, para quem os produtores fizeram questão de dedicar a última sequência cinematográfica.
Descrições cena a cena do último filme vazaram na rede antes do lançamento e apontam que essa adaptação será mais fiel ao livro do que as anteriores ; o que tem agradado os seguidores. Quem leu o livro sabe que o desenrolar do último episódio é mais lento, carregado de referências filosóficas e metáforas de crescimento pessoal. ;Eu gostei do fim do livro, mas não gostei do epílogo, acho que ele existiu para acabar com as especulações do que aconteceria com cada um dos personagens, mas ficou clichê. Se o livro tivesse terminado na última cena, o impacto seria melhor;, opina Cecília. Ao que parece, o epílogo também será mantido no cinema.
A nova cicatriz de Potter
Um sentimento parecido com o dos fãs é partilhado pelo elenco do filme. Afinal de contas, eles também passaram infância e a adolescência em função da série. No último dia 11, os ex-atores mirins se reuniram para desfilar pelo tapete vermelho do Leicester Square em Londres na premiere de HP7. No geral, todos concederam entrevistas comovidas. Emma Watson (Hermione) cortou os cabelos e mudou-se para os Estados Unidos para estudar atuação.
O ruivo Rupert Grint (Rony Weasley) disse estar à procura de emprego. E Tom Felton comemorou o fato de poder voltar a se expor à luz solar agora que não precisa exibir a pele alva do vilãozinho Draco Malfoy. Daniel Radcliffe, intérprete de Potter, declarou o desejo de não ser vinculado eternamente ao personagem que interpretou desde 2001. Eis um desafio e tanto. Se livrar do estigma do bruxinho é bem mais difícil do que derrotar Lord Voldemort várias vezes.
O fim da saga Harry Potter traz alívio para pelo menos uma pessoa. ;Eu posso falar sobre isso agora porque me livrei da pressão. Era como ser um dos Beatles. Só que eles eram quatro e eu sou só uma;, definiu a escritora durante uma longa entrevista concedida a Oprah Winfrey em outubro deste ano.
Na mesma entrevista, a morte da mãe de Rowling, anterior ao sucesso da filha, é apontado pela autora como a razão para que um dos aspectos mais discutidos de sua obra viesse novamente à tona. Por que as aventuras de Harry ficam mais sombrias à medida que a história avança? ;Eu a amava e ela morreu. A morte da minha mãe está em quase todas as páginas dos livros. Pelo menos a metade da jornada de Harry é para lidar com a morte em suas diferentes formas. O que ela significa? O que faz com quem está vivo? Os livros são como são por causa da morte dela;, admitiu a escritora numa das declarações chorosas bem ao gosto da audiência do Oprah Winfrey Show.
J. K. dedicou 17 anos da vida escrevendo a série. Ela era uma mãe solteira lutando para conseguir o sustento da filha quando numa viagem de trem de Manchester a Londres teve a ideia de criar um genuíno universo paralelo, habitado por bruxos e seres fantásticos. Doze editores chegaram a recusar os manuscritos. Mas a partir do momento que a rotativa imprimiu a primeira página da odisseia do garoto órfão que não sabia que era bruxo, definitivamente, o resto virou história. (YG)