postado em 19/11/2010 09:40
A linha de pesquisa musical da Orquestra Típica Fernandez Fierro tem se encaminhado cada vez mais rumo à música contemporânea. Apesar de beberem direto na fonte do tango clássico, eles nem se atrevem a imitar a atmosfera da época de ouro do ritmo genuinamente argentino. ;É um pouco das duas coisas e também de nenhuma. Não é recriação, fusão e também não é uma releitura interpretativa dos clássicos. O caminho seguido pelo grupo é um caminho árduo, mais relacionado a composições de novas músicas, com estilo mais particular. É uma questão de atualidade, contemporaneidade e ecletismo;, explica o violinista Bruno Giuntini, 33 anos, em bom português. Sexta e sábado, às 21h, e domingo, às 20h, eles se apresentarão no Teatro Oi Brasília, parte de mais uma turnê pelo Brasil, que também inclui Porto Alegre, Florianópolis e Goiânia. O tango jeans e camiseta executado pelos portenhos é uma das faces da reformulação do gênero de Carlos Gardel, que tem ajudado a levantar a moral de um país abalado pela crise econômica há décadas.
Ao contrário do que manda a tendência, a Orquestra renega a mistura entre tango e batidas eletrônicas que fizeram a fama, por exemplo, dos franceses do Gotan Project. ;Existe mais escuridão na poesia e na parte harmônica. Esses elementos fazem com que as composições sejam mais vinculadas à música contemporânea e ao rock. São elementos misturados, uma questão de cor. Continuamos tocando os instrumentos acústicos, tudo marcado pela sonoridade que sai deles, mas com um jeito de soar um pouco contemporâneo;, complementa Giuntini.
As várias turnês que a Orquestra cumpriu no Brasil nos últimos anos fizeram mais do que melhorar o vocabulário em português do Bruno. Também serviram para popularizar o gênero por aqui, a reboque do aumento no intercâmbio entre os dois países. ;Isso é uma coisa certa. Acho que entendemos economicamente que os países podem ser parceiros e não competidores;, acredita o argentino. Boa parte do vigor da Fernandez Fierro se deve a independência criada pelo grupo desde o início. Em Buenos Aires, eles mantêm o Club Atlético Fernandez Fierro (CAFF), casa noturna em que se apresentam com convidados. ;O grupo conseguiu ter mais autonomia nas decisões de quando, onde e com quem tocar. Isso faz com que tudo fique mais do nosso jeito de fazer, existem dificuldades porque não é fácil organizar uma empresa e é necessário muita disciplina para administrar;, reconhece Giuntini.
Linguagem
Além disso, a orquestra formada por quatro bandoneons, quatro violinos, um piano, um contrabaixo, uma viola e um vocalista produzem os próprios discos. Foi assim com os seis lançados e mais o DVD gravado ao vivo Tango antipánico. Para Giuntini, aquele que mais representa a fase atual do grupo é o CD homônimo, de 2009. ;É um disco bem curto, com apenas oito composições. É mais representativo porque a linguagem vai mudando. Numa breve descrição, poderia dizer que o estilo vai no caminho da simplicidade;, acredita o músico.
Outra marca é a irreverência. Em 2006, eles lançaram um excelente álbum. Mesmo assim, resolveram batizá-lo de Mucha mierda. Quem conhece e gosta da opulência de performances para turistas, como as apresentadas no Señor Tango, em Buenos Aires, deverá se frustrar com a cara de conjunto de rock que o figurino despojado da Orquestra exibe. Portanto, deixem em casa ternos, gravatas e chapéus e divirta-se de tênis e camiseta mesmo.
ORQUESTRA TÍPICA FERNANDEZ FIERRO
Sexta e sábado, às 21h, e domingo, às 20h, no Teatro Oi Brasília (Golden Tulip Brasília Alvorada, SHTN Tr. 1; 3424-7169). Ingressos: R$ 100 e R$ 50 (meia). Não recomendado para menores de 16 anos.