Diversão e Arte

Projeto Poeira & batom resgata a memória das pioneiras da capital do país

Nahima Maciel
postado em 22/11/2010 07:40

Tânia Fontenele ouviu repreensões quando apresentou às 50 pioneiras seu projeto intitulado Mulheres invisíveis. Ouviu da maioria: ;Nós não somos invisíveis não. Fomos muito atuantes;. Decidiu então mudar o nome do projeto, que virou Poeira & batom. A ideia da invisibilidade surgiu com a vontade de contar histórias das primeiras mulheres que desembarcaram no Planalto Central quando Brasília era apenas um canteiro de obras. A intenção era abordar a história a partir das perspectivas femininas das personagens. A saga brasiliense já foi muitas vezes contada por homens e Tânia sentia falta da palavra das pioneiras. Entrevistou então 50 mulheres com o cuidado de diversificar ao máximo a origem de cada uma, de maneira a obter as mais variadas perspectivas. O resultado rendeu o livro Poeira & batom, uma mescla de textos históricos sobre a construção da capital e depoimentos das pioneiras, cujas fotografias ilustram exposição homônima em cartaz no saguão do auditório do Museu da República. Tânia convidou a pesquisadora Mônica Ferreira e a cineasta Tânia Quaresma para participar do projeto e escolheu 50 mulheres para homenagear as cinco décadas de aniversário da cidade. As entrevistas, realizadas em estúdio, foram editadas em um filme de 60 minutos que acompanha o livro e cujos trechos serão apresentados durante a exposição. Tânia Fontenele descobriu que, de 1956 a 1960, muitas trouxeram as filhas, crianças de colo ou na primeira infância que também assistiram o surgimento de Brasília e poderiam acrescentar a perspectiva infantil da vida em um canteiro de obras de uma cidade utópica. Algumas dessas filhas passaram a fazer parte do projeto. ;A gente optou por uma linha do tempo, por contar a história até o golpe militar (de 1964). Obviamente, sabemos que há marcos históricos, mas demos prioridade aos depoimentos. Procuramos interferir o mínimo;, conta ela. No livro, os marcos históricos são citados para, em seguida, serem comentados por cada entrevistada. ;Queríamos delas a sensação de pessoas que estavam modificando o ambiente no qual estavam inseridas. Tem a visão oficial e a visão delas;, diz Mônica Ferreira, que é economista e quer transformar as histórias em uma peça de teatro. A variedade de origens também orientou as pesquisadoras, que contaram com patrocínio de R$ 250 mil da Petrobras para realizar livro, filme e exposição. Há pioneiras autoras de relatos já bastante conhecidos, como Palmerinda Donato, a cineasta Maria Coeli, a pianista Neusa França e Lya Sayão, mas houve uma preocupação em narrar histórias inéditas de médicas, lavadeiras, enfermeiras, comerciantes, agricultoras, professoras e até de uma funcionária de boate. Poeira & batom Exposição organizada por Tânia Fontenele e Mônica Ferreira com fotos de Tânia Quaresma. Visitação até 27 de novembro, de terça a domingo, das 9h às 18h30, no Museu Nacional do Conjunto Cultural da República

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