Diversão e Arte

Italiana Patrizia Giancotti inaugura exposição na Câmara dos Deputados

Nahima Maciel
postado em 23/11/2010 10:07
O corredor de acesso ao Plenário, na Câmara dos Deputados ganhou significado simbólico na mostra Benin-Bahia: mensagens ultramar. A fotógrafa italiana Patrizia Giancotti viu no espaço a possibilidade de montar um diálogo entre dois países separados pelo Oceano Atlântico, mas donos de uma familiaridade cultural marcante. Na visão da artista, o corredor poderia simbolizar o mar que separa Brasil e Benin. Nas paredes, as fotografias se transformaram em mensagens a serem trocadas entre as duas culturas. É uma forma de leitura para um diálogo cultural que começou há centenas de anos, quando escravos africanos desembarcaram no Brasil e ajudaram a construir a identidade afro-brasileira.

Mesmo separados pelo Oceano Atlântico, o Brasil e o Benin têm afinidades culturais marcantes: candomblé é um dos elos entre as duas culturasDe um lado do corredor, Patrizia pendurou as imagens realizadas no Benin e, do outro, registros da Bahia especialmente focados na cultura do candomblé e rituais praticados nos terreiros. Dispostas frente a frente, as 62 imagens sugerem uma troca de mensagens poéticas, mas diretas, de dois povos cuja formação é produto de uma mescla particular. ;A ideia é que o corredor simbolize o oceano. Foi tudo montado pensando na arquitetura do local, Brasil e Benin se olhando numa troca de recados;, explica.

Patrizia pisou pela primeira vez no Brasil em 1983. Estudava cinema na Itália e veio aos trópicos para trabalhar em um ensaio fotográfico de moda. A intenção era ficar apenas alguns dias, mas o calor fisgou a italiana e ela decidiu ficar. Escolheu a Bahia e começou a fotografar. Primeiro as ruas, os rostos, até se deparar com a cultura do candomblé e não conseguir mais largar os terreiros e seus rituais. O envolvimento foi tanto que Patrizia acabou mergulhada em estudo que pretendia mapear o papel da mulher no candomblé. Quando voltou à Itália, trancou o curso de cinema, se inscreveu em antropologia e finalizou o curso com a pesquisa iniciada no Brasil graças ao incentivo de gente como Jorge Amado e Carybé. Daí para o Benin, foi um passo curto.

O convite para expor durante o 1; Festival de Arte e Cultura Vodum, no Benin, fez a fotógrafa descobrir as conexões entre a Bahia e a África. Muitos escravos libertos decidiram retornar à África após a abolição e levaram para o país a herança cultural brasileira. Benin-Bahia: mensagens ultramar, que faz parte da série de comemorações da Câmara dos Deputados para o Dia da Consciência Negra, trata deste diálogo. ;Nosso objetivo é juntar duas partes de uma raiz comum;, avisa Patrizia. O diálogo está especialmente concentrado numa série de fotos sobrepostas, fruto de uma coincidência que a fotógrafa considera especial. Por motivos de esquecimento, Patrizia registrou fotos do Brasil e do Benin em um mesmo filme. Quando revelou, as imagens se fundiam. Uma mulher africana aparecia numa praça em Salvador. A mesma mulher convidou Patrizia para visitar um templo e, durante um jogo nozes de cola, uma prática adivinhatória, um babaloá revelou que a fotógrafa era uma mensageira encarregada de mostrar as conexões entre a cultura afro-brasileira e o Benin. ;E isso agora está acontecendo em um lugar importante do poder brasileiro. Eu me sinto apenas uma mensageira. Coloquei à disposição de um projeto que vai muito além de mim;, garante a fotógrafa.

BENIN- BAHIA: MENSAGENS ULTRAMAR
De Patrizia Giancotti. Visitação até 27 de novembro, de segunda a sábado, das 9h às 18h, no Corredor de Acesso ao Plenário (Câmara dos Deputados) .

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