Diversão e Arte

Filme A alegria inova na linguagem e aposta no diálogo além do imaginário

postado em 24/11/2010 07:10
Cena de A alegria, que faz parte da trilogia Coração de fogo: elementos de fantasia povoam o cotidiano da protagonista

Os cineastas Felipe Bragança e Marina Meliande já encheram uma Kombi com equipe, elenco e equipamentos para realizar o road movie A fuga, a raiva, a dança, a bunda, a boca, a calma, a vida da mulher gorila ou simplesmente A fuga da mulher gorila (2009). O método mambembe foi abandonado para a nova produção da dupla que mantém a sede por experimentos narrativos em A alegria, o longa-metragem que dá início à competição em 35mm a partir de hoje do 43; Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. ;Sempre falamos que a opção pela precariedade logística da Gorila era estética e não dogma para qualquer tipo de filme. Futuramente, novas ;gorilas; podem surgir;, esclarece Bragança.

As duas produções são parte da trilogia Coração no fogo, que a dupla pretende realizar. ;Aqui temos uma estrutura de ficção mais tradicional, no sentido de que temos trajetórias dramáticas mais claras a serem narradas. Isso nos levou a pensar em um filme rodado em mais tempo, quatro semanas, e com uma estrutura maior, mais confortável para ficarmos mais tempo concentrados no filme;, relata o ex-crítico de cinema da revista eletrônica Contra Campo.

O cenário agora é o apartamento de classe média no Rio de Janeiro, onde a adolescente Luísa (Tainá Medina) foi deixada sozinha. Elementos de fantasia povoam o cotidiano da garota, representante da geração nascida e criada após a queda do Muro de Berlim e o propalado fim das utopias. Ecos de realidade embaralham a visão adolescente representada pelo desaparecimento de um primo durante um confronto entre policiais e traficantes num dos morros da capital fluminense.

;O cinema autoral ou mesmo o de vontade industrial brasileiro se focou muito nos últimos 20 anos, no realismo como referência central para enfrentar o cinema de blockbusters, deixando um pouco de lado o imaginário e a fantasia como territórios de cinema onde essa disputa por espaço cultural e de identidade também pode ser travada no mais alto nível. Acho que isso pode mudar nos próximos anos;, opina Bragança sobre as temáticas contemporâneas do cinema nacional.

A mistura proposta pela dupla não fica contida apenas no conteúdo, refletindo-se na forma também. O cineasta tailandês ultracult Apichatpong Weerasethakul e o ídolo da geração anos 1980 John Hughes (diretor de Curtindo a vida adoidado) dividem as citações. ;E Rogério Sganzerla também;, faz questão de destacar o diretor.

O filme foi o único brasileiro exibido na Quinzena de Realizadores do último Festival de Cannes. ;A crítica francesa chegou a comparar o filme a alguns de nossos cineastas favoritos e recebemos uma recepção muito calorosa por parte da curadoria. Eles ressaltaram o filme como um ;ovni; inesperado, pela experiência diferenciada de linguagem, segundo eles, dentro do panorama de longas brasileiros a que estão mais acostumados a assistir por lá;, conta Bragança.

Ondas curtas
O veterano produtor cinematográfico Sérgio José de Andrade (tem no currículo as produções A festa da menina morta, Onde andará Dulce Veiga?) desenvolve história inspirada em fatos reais narrando o envolvimento de jovens indígenas com rituais místicos, embalados a álcool em Cachoeira, primeiro curta-metragem da noite.

O segundo curta a participar da mostra competitiva de hoje é a produção paulista dirigida por Daniel Turini, Fábula das três avós, sobre a jornada de uma garotinha para conhecer a família. Turini é formado em cinema e vídeo pela Escola de Comunicações e Artes na Universidade de São Paulo (USP) e exibe no currículo participações nos festivais de Biarritz (França) e Tiradentes e no Festival Internacional de Curtas de São Paulo com o curta anterior, Memórias sentimentais de um editor de passos.

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