Diversão e Arte

Sylvio Back , diretor de Aleluia Gretchen, revela veia literária

Livro Guerra do Brasil - Contos da Guerra do Paraguai será lançado hoje no Festival de Brasília

postado em 27/11/2010 08:10
Na história do Festival de Brasília, Sylvio Back ocupa o elenco principal: na mostra mais longeva do Brasil, exibiu cerca 30 filmes, entre longas e curtas. ;É o meu festival do coração;, reafirma, ano a ano. Mas, na 43; edição, o catarinense de Blumenau promete um troca de papel: o cineasta cederá lugar ao contista, que apresenta, às 17h no Kubitschek Plaza, o livro Guerra do Brasil ; Contos da Guerra do Paraguai.

A faceta, ainda que pouco conhecida pelo público de Aleluia Gretchen (1976) e Lost Zweig (2002), não é nova. Já na adolescência, o coração balançava entre os filmes e a literatura de autores como Graciliano Ramos e Ernest Hemingway. ;Deixei-me capturar pelo cinema sem jamais deixar de escrever;, lembra. Apesar de duradouro, o caso com as narrativas curtas só é oficializado agora, com o lançamento da primeira coletânea de contos.

Antes disso, Back publicou narrativas curtas em antologias e jornais. Aos 48 anos, estreou na poesia com O caderno erótico de Sylvio Back. O cinema, no entanto, não foi passado para trás. Foi durante as filmagens do documentário Guerra do Brasil, exibido no festival de 1987, que o contista finalmente pediu passagem, impôs a sua vontade e se infiltrou de vez no cotidiano do cineasta. ;A escritura foi amadurecendo ao longo dos anos. Tudo sem premeditação;, afirma o diretor, nascido em 1937.

<B>Guerra do Brasil - Contos da Guerra do Paraguai</B><BR>De Sylvio Back. Editora Topbooks. Com 152 páginas. Preço não divulgado.Quando escrevia o roteiro do longa, ainda no início dos anos 1980, o diretor se dedicou a uma pesquisa intensa sobre a Guerra do Paraguai. Em busca de ;algum filete de verdade;, encontrou um emaranhado de versões sobre o conflito, que formavam um caldo denso, contraditório, uma ;história embaçada;. ;Incorporei tudo e comecei a rabiscar os primeiros contos, puro memorial, totalmente assimétrico e descompromissado.;

O episódio, no qual o Brasil esteve envolvido durante seis anos (1864-1870), deixou milhares de mortos e feridos. Muito se escreveu sobre o assunto. Back ainda se surpreende , porém, com o fato de que levou mais de 80 anos para que fosse publicada uma nova reunião de histórias curtas sobre o tema. ;Uma verdadeira mortalha de silêncio cobria a guerra até então. É uma triste constatação de como pisamos nosso passado;, observa o autor.

;Drible de vaca;
Os contos que resultaram dessa inquietação representam, para Back, uma espécie de ;drible de vaca; nos registros oficiais sobre o período. ;Reconheço, nem sempre fui um aluno aplicado de história, mas um apaixonado pelo que ela esconde de mistério e revelação constantes;, conta. Para compor o livro, seguiu um ensinamento do peruano Mario Vargas Llosa, para se aproximar da história do país, evitou os historiadores e mergulhou no imaginário de poetas e escritores paraguaios.

Mesmo após a conclusão do filme de 1987, o cineasta continuou a armazenar informações de toda sorte. ;Foi um feliz tormento;, ele define. ;Os contos não têm nenhum parentesco com os meus roteiros. Eu quis me territorializar na literatura;, explica. ;Os contos são decantados por invencionices soltas, textos secos, retos e escorreitos, cheios de viço e livres de qualquer vício autocensório. O tempo todo é verdade-mentira;, define.

Back, que tem por hábito publicar os scripts de filmes dirige, apressa-se a definir os limites entre as artes. ;O roteiro é uma ante-sala do filme. O conto tem que existir em si. O roteiro é uma ferramenta de trabalho. O DNA do cinema é visibilidade. O da literatura é a invisibilidade. É preciso usar imaginação para completar os contos;, compara o cineasta, poeta por vocação.

MONSTROS LITERÁRIOS
; Também dividido entre o audiovisual e a literatura, o roteirista e diretor Newton Cannito (da série 9mm: São Paulo, transmitida pela Fox) lança hoje o livro de contos Novos monstros. Com humor ácido e tom politicamente incorreto, o livro apresenta uma galeria de tipos ora familiares, ora grotescos. Encenadas em São Paulo, as tramas recriam o caos da cidade com o pique de um cartoon. O ritmo é cinematográfico, e não à toa: Cannito colaborou com os roteiros dos filmes Quanto vale ou é por quilo?, de Sérgio Bianchi, e Bróder, de Jeferson De.

NO PAPEL

Outros livros que serão lançados hoje, às 17h, no Bamboo Bar, Kubitschek Plaza. Acesso livre
  • A menina, a guerra e as almas, de Conceição Senna
  • Da pedra ao nada ; A viagem da imagem, de Paulo B.C. Schettino
  • Manaus a Liverpool: uma ponte marítima centenária, de David Pennington
  • O sonho de Dom Bosco, edição comemorativa dos 50 anos de Brasília, de Maria Letícia, Roberto Athayde e Mixel
  • O cangaço no cinema brasileiro, de Marcelo Dídimo
  • 20 anos do Cine Ceará, de Firmino Holanda
  • Olho no tempo, de Thelma Oliveira

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação