Diversão e Arte

Comédia pop musical mistura políticos, jingles e discursos

postado em 03/12/2010 07:32
A porca faz anos satiriza o universo político de Brasília: musical da UnBLíderes políticos como Fernando Collor, Dilma Rousseff e até mesmo a novata Weslian Roriz costumam povoar o noticiário político do país. Mas eles também servem como fonte de inspiração artística: um grupo de estudantes de Artes Cênicas da Universidade de Brasília (UnB) decidiu traçar uma radiografia dos tipos que povoam gabinetes e palanques de Brasília. O resultado pode ser visto em A porca faz anos, uma comédia pop musical, que mistura as idiossincrasias do poder a jingles, discursos e músicas compostas especialmente para a peça, em cartaz de hoje a domingo, às 20h, na Sala Martins Pena do Teatro Nacional.

A pesquisa começou quando um grupo de formandos decidiu criar um espetáculo sobre o cinquentenário da cidade ;Durante seis meses, os alunos estudaram o repertório imagético, histórico, plástico e musical da cidade. A ideia era celebrar Brasília em todas as suas contradições, homenageando e satirizando as figuras pitorescas e absurdas;, explica a diretora Felícia Johansson. Nessa época, estouraram os escândalos da operação Caixa de Pandora, que culminaram na queda do então governador José Roberto Arruda e a efervescência no noticiário foi razão para uma guinada na pesquisa. ;Neste processo, descobrimos que o Brasil ainda funciona como uma oligarquia. Existem arquétipos políticos que se perpetuam;, afirma a atriz Mariana Mendes.

Ao lado da diretora e professora, os alunos traçaram cinco perfis que se repetem: o coronel, o político novo e carismático que surge como promessa de ruptura, a mulher que começa a despontar no topo da escala de poder, o representante de esquerda que mantém um discurso influenciado pelo radicalismo, e a amante ou mulher, que disseca o universo de corrupção do companheiro e um dia acaba por revelá-lo. Todos eles passam pelo crivo de uma jornalista, vivida por Mariana Mendes. ;Fiz o melhor laboratório do mundo para esse papel: foram quatro anos na faculdade de jornalismo;, revela a atriz e comunicóloga.

A diretora Felícia Johansson conta que a alegoria da porca não se revela de maneira clara. ;Ela é uma metáfora que sugere lama, festança, comilança, celebração;, destaca. Também é o símbolo do cofrinho de dinheiro. ;O animal virou símbolo do espaço imaginado dessa cidade inventada, que também aniversaria e se parece muito com Brasília.;

A dramaturgia surgiu como consequência das músicas que o grupo escreveu para o espetáculo. Depois de mergulhar nas relações políticas do país, na organização social, no teatro e nos musicais produzidos aqui, os estudantes flertaram com a tecnologia. No site YouTube, pesquisaram a influência das mídias digitais no teatro, estudaram o gestual dos políticos e reviram discursos marcantes, alguns deles incluídos no espetáculo. Os jingles com visão crítica de cada perfil abriram o baú da inspiração musical e a versão final da peça conta com 20 composições, que ainda fazem citações a clássicos do cancioneiro nacional.

Além dos seis atores, uma banda e um coro compostos por oito músicos executam a trilha sonora ao vivo. As músicas seguem a personalidade das personagens. Quando surge o representante do discurso revolucionário, o jingle surge na forma de rap. No caso da mulher estadista, sua apresentação musical mistura ritmos popularescos, como tecnobrega e axé. O coronel é apresentado por uma moda de viola. Outros recursos são o teatro de revista, uma linguagem acessível e figurinos multicoloridos. Os ingressos custam R$ 20 e R$ 10 (meia) e a peça não é recomendada para menores de 12 anos.

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