Diversão e Arte

Diretores dos longas do Festival de Brasília revelam os próximos projetos

Ricardo Daehn
postado em 05/12/2010 08:00
Marcelo Lordello, Felipe Bragança, Tiago Mata Machado, Sérgio Borges, Marina Meliande e Eryk Rocha: caldeirão de ideiasAs ideias de criadores em permanente movimento se materializam, tão logo, os jovens cineastas, presentes ao 43; Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, dispõem-se a adiantar as perspectivas de futuro profissional. Com as malas prontas para um trajeto Brasil-Peru-China, Eryk Rocha (Transeunte), na próxima semana, dá início a documentário nacional que entrelaça pontos de ligação entre um país indígena e uma nação oriental.

Aos 32 anos, o filho de Glauber Rocha prevê para o segundo semestre de 2011, o lançamento da série (para o Canal Brasil) Cinema novo. ;Tô no começo da edição e a perspectiva é a de, em oito capítulos, contar desse movimento que é muito falado, mas pouco estudado. Teremos entrevistas com todos os remanescentes, como Cacá Diegues, Ruy Guerra, Paulo César Saraceni e Nelson Pereira dos Santos. Estão nos planos entrevistas com Jean-Luc Godard e Bernardo Bernardo Bertolucci, que tiveram pontos de ligação com os filmes nacionais;, explica. Paralelo ao lançamento comercial de Transeunte (previsto para o primeiro semestre), o desenvolvimento de um roteiro para longa está em andamento. ;Será uma história noturna de um taxista que trabalha no Rio. Visualizo uma aproximação entre o lado documental forte e a ficção;, observa.

Ainda em fase de formatação, dois projetos borbulham na mente de Sérgio Borges, que, aos 35 anos, faturou premiações máximas com os troféus Candango de melhor filme e direção, por O céu sobre os ombros. ;Tenho um projeto, indefinido entre a tevê ou sala de cinema, sobre o futebol e a torcida atleticana. Será um trabalho observacional, que difira do que a imprensa já cobre em concentrações, treinos e vestiários. Existe também um desejo de voltar a filmar com a Everlyn Barbin (de O céu;), que casou, largou a prostituição e está em preparação para um doutorado;, comenta o realizador.

Mais concreta, por enquanto, é a atividade de produtor do longa Girimunho (de Clarissa Campolina e Helvécio Marins), feito no esquema do coletivo de cinema Teia. ;É um trabalho filmado em São Romão (MG), com um princípio de encenação que dialoga com O céu; Traz duas senhoras que lidam com a juventude chegando à cidade do interior, na beira do Rio São Francisco. No filme, despontam crenças, o ser mitológico Caboclo D;água e há um encantamento daquelas senhoras com o encontro junto a novas gerações;, adianta Borges.

No tal novelo criativo de Girimunho, a dupla de parceiros realizadores de A alegria ; Felipe Bragança, 29 anos, e Marina Meliande (30) ; desponta, respectivamente nas funções de roteirista e montadora. Rompendo, momentaneamete, a parceria, Bragança tem prontos dois roteiros para longas. ;Animal amarelo (a ser produzido por Sara Silveira) é meio uma fábula juvenil dirigida também para adultos e tem inspiração em chanchadas. Os dois longas, em termos de orçamento, pelo tipo de proposta, não requerem nada muito grandioso. ;Em fase de captação e com produção do Rodrigo Teixeira (de O cheiro do ralo), o outro longa é a adaptação de um livro sul-mato-grossense chamado Curva de rio sujo. O roteiro de Praia do Futuro (novo filme do Karim A;nouz) também está pronto e, ano que vem, devo estar com ele no set, como fiz no O céu de Suely;, explica.

Sem exageros
Num processo similar ao do longa A fuga da Mulher Gorila (feito com Marina Meliande) ; ;um projeto pequenininho, para rodar com pouca grana; ;, Bragança ainda pretende formatar uma aventura na Baixada Fluminense. ;Será uma ficção, feita com grupos de folclore e patrocínio direto, inferior a R$ 100 mil;, diz. A colega carioca Marina Meliande, para além da montagem de Girimunho, ainda se desdobra na edição do longa da estreante Julia Murat, provisoriamente intitulado O peso da massa e a leveza do pão.

;Tô com vontade de escrever meu próximo longa, mas ainda tô envolvida com meu média-metragem A imagem que fica, que ganhou edital da Petrobras;, comenta. Formado por material de arquivo de filmetes familiares e de instituições que guardam acervos de famílias, o média agrega registros de anônimos, pelo celular e pela internet. ;Investigo a prática de produção de imagens em diversos suportes, passando pelo século 20 e chegando à contemporaneidade, com as imagens amadoras e cotidianas. Me interesso pela atribuição das função de memória e da construção de identidade, por meio das imagens;, conclui.

Mala cheia
Num longa digital (Eles voltam) já todo filmado, ;feito na base da vontade;, o brasiliense Marcelo Lordello (de Vigias), 29 anos, arregimentou uma estreante protagonista de 12 anos que contracena com Germano Haiut (O ano em que meus pais saíram de férias). ;Falamos de dois irmãos deixados na beira de estrada, sem muitas condições de sobrevivência. Tem uma levada simples, com tudo feito de forma prática e bela;, adianta. ;Na Trincheira Filmes (sediada em Pernambuco), estamos com a mala cheia de projetos. Além do acompanhamento ao Vigias, que deve ter muito festival pela frente, ainda fui fotógrafo de O animal político (de Tião, do curta O muro), um curta com viés de média, que trata da jornada de um personagem saído da cabeça bem inquieta do Tião, e fotografei e montei o filme do meu parceiro Leonardo Lacca Ela morava na frente do cinema;, conta Lordello.

Com dificuldades de ;acreditar na mimese comum da encenação;, o diretor mineiro Tiago Mata Machado (de Os residentes), 36 anos, novamente investe na redação de roteiros colados a preceitos literários e ideológicos. Nessa linha, em março, ele entrega uma das histórias ;uma ficção tropicalista sobre o modernismo;. ;Será inspirada numa viagem tardia que o Mário de Andrade fez à Amazônia. Ele, que ainda era uma espécie de antropólogo de gabinete, abraçou a utopia modernista e, na volta, concluiu o texto de Macunaíma. Parto do diário Turista aprendiz que traz a ficcionalização de uma etnia meio descendentes do bicho-preguiça;, explica.

Antevendo a criação de personagens em ;permanente estado de exceção;, Mata Machado ainda bebe de texto do filósofo italiano Giorgio Agamben, para outro longa. ;Tratarei do estado de sítio, me filiando a uma certa literatura latino-americana que contemple os golpes;, adianta.

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