Diversão e Arte

Mostra no Cine Brasília traz o melhor do cinema polonês

Ricardo Daehn
postado em 08/12/2010 07:37
Cena de Ursinho, última comédia de Stanislaw Bareja, morto em 1987Sem recorrer a nomes de cineastas internacionalmente reconhecidos como Krzysztof Kieslowski, Andrzej Wajda e Roman Polanski, a Polônia tem produção audiovisual contemporânea estabelecida o suficiente para a montagem de um programa amplo e vistoso para os cinéfilos brasileiros mais dedicados. A prova está no Festival de Cinema Polonês, constituído por nove longas-metragens, inéditos, que passarão por Brasília e outras seis capitais, com exibições gratuitas. Passados dois anos da comemoração do centenário do cinema polonês ; que no Brasil foi tema de bem-sucedida retrospectiva ;, a reposta do público motivou a apresentação de títulos (criados praticamente nos últimos seis anos) como a despretensiosa comédia Quanto pesa um cavalo de Troia? (2008), assinada pelo proficiente Juliusz Machulski, um ex-aluno da referencial Escola de Lodz.

A renovação do cinema (a ser apresentada no Cine Brasília) passa por diretores jovens como Katarzyna Roslaniec, 30 anos, e Lukasz Palkowski, 33. Da primeira, será exibido Garotas de shopping (2009) vencedor do prêmio de melhor estreante no Festival da Polônia e atento aos riscos da libertação de adolescentes como a protagonista Alicia, em busca de alguma emoção para a solitária vida. Também estreante, Lukasz Palkowski responde por A reserva (2007), centrado num decadente bairro da Varsóvia chamado Praga. É lá que, num reconhecimento de terreno, o fotógrafo Marcin topa com uma cabeleireira presa ao coração de um bandido enfurecido.

Ainda numa plataforma de enredos densos, General Nil (2009) ; de Ryszard Bugajski (no passado, concorrente em Cannes) ; põe o espectador a par da luta do militar August Emil Fieldorf (apelidado Nil), um representante do Comando da Diversidade do Exército Nacional que combateu a ocupação nazista e amargou detenção numa cela da Varsóvia até 1953. Esse mesmo ano marcou o nascimento do cineasta Waldemar Krzystek, celebrado na mostra com o recente A pequena Moscou (2008), detentor de prêmios no Festival da Polônia. O romance entre um tenente polonês e uma adúltera russa casada com um piloto prenuncia a tragédia na base militar soviética instalada na polonesa Legnica (a ;pequena; Moscou do título). Música e tensão embalam a trama de 1967, demarcado por meio século da Revolução de Outubro.

Tom humorado
Distante da carga de fatalismo, o diretor Maciej Wojtyszko apresenta um romance incomum, em O jardim de Luíza (2007), no qual uma moça tachada de hipersensível conhece ; num hospício ; o infrator Fábio, tido como um pária. A seleção de filmes ainda contempla o filme infantil chamado Uma árvore mágica (2008), conduzido pelo cinquentão estreante Andrzej Maleszka. No enredo, um velho tronco de carvalho, dotado de poderes mágicos, ao ser derrubado, cede matéria-prima para infinitos objetos, e um deles passa a deter poderes da realização de desejos de terceiros.

O registro leve também alcança A festa de casamento (2004), uma popular realização de Wojciech Smarzowski, vencedora nas categorias de direção e roteiro no Festival da Polônia. Em pauta estão os consecutivos desentendimentos cômicos nos bastidores de um matrimônio. Encerrando o programa do festival no Cine Brasília, a exibição especial de Ursinho (1980), última comédia assinada por Stanislaw Bareja, morto em 1987. No filme, uma disputa financeira de casal em litígio serve como mote para um paralelo ácido entre a nação e um país estruturado numa burocracia da qual só se livraria com a queda do comunismo, quase uma década depois.

Festival de Cinema Polonês
Cine Brasília (EQS 106/107, 3244-1660). Abertura hoje, às 20h, com a exibição do longa Quanto pesa um cavalo de Troia? (de Juliusz Machulski). Não recomendado para menores de 12 anos. De 9 a 14 de dezembro, com sessões às 19h e 21h. Entrada franca

Sonhos roubados, da diretora Sandra Werneck, participa da mostra oficial do festival cubanoBrasileiros em Havana

Mario Abbade
Especial para o Correio


Havana ; Depois de tantos festivais no Brasil e ao redor do planeta, os cineastas brasileiros não podem reclamar das inúmeras chances de exibir seus filmes. O processo de seleção não é fácil, mas certos festivais possuem um enorme apreço pelas produções brasileiras. Um belo exemplo é o Festival do Novo Cinema Latino-Americano em Havana. Diversos filmes brasileiros foram selecionados para diferentes mostras que prosseguem até o próximo domingo. Uma última oportunidade no ano para fechar algum contrato de distribuição, já que se encontram presentes distribuidores europeus e norte-americanos.

Uma característica do comitê de seleção cubano foi optar por filmes que tivessem as causas sociais em sua premissa. Motivação mais que natural, por ser um festival que acontece no último país com um governo verdadeiramente comunista. Outro aspecto interessante foi a escolha de cineastas estreantes ou iniciantes de carreira. A única exceção é a veterana Sandra Werneck, que está na Mostra Oficial de Competição com Sonhos roubados. Um filme produzido em 2009, mas que continua sendo procurado por curadores por apresentar uma realidade comum em vários países: jovens que se prostituem para atender seus desejos consumistas. Na mesma mostra, Malu Martino participa com Como esquecer, uma bela história sobre a desilusão amorosa e a possibilidade de um recomeço.

Na Mostra de Competição de Cineastas Estreantes são quatro filmes com temáticas bem distintas. Depois de uma trajetória de sucesso em Cannes, 5 x favela ; Agora por nós mesmos tem sua chance de incentivar aos cubanos que é possível sonhar com uma carreira no cinema. O filme foi dirigido por sete moradores de diferentes favelas do Rio de Janeiro, na qual retratam histórias desse cotidiano. Com No olho da rua, Rogério Corrêa tem uma segunda oportunidade, depois de ter competido em uma mostra semelhante em Montreal, com sua obra sobre o fantasma do desemprego.

Tendo trabalhado como assistente de direção de Sandra Werneck, Eduardo Vaisman concorre com 180;, um suspense romântico não linear, sustentado por três personagens envolvidos em um jogo passional de constantes possibilidades. Completando os brasileiros na competição, Besouro, de João Daniel Tikhomiroff, que conta a lenda do capoeirista Manoel Pereira com muito misticismo e ação.

Nos documentários temos a presença de A falta que me faz, de Marília Rocha, sobre o fim da adolescência na Cordilheira do Espinhaço; Leite e ferro, de Claudia Priscilla, que conta a dura realidade das mães presidiárias; e Memória cubana, de Alice de Andrade e Ivan Nápoles, com o ponto de vista cubano sobre trinta anos de noticiários cinematográficos.

Os curtas-metragens em competição vieram representados por A distração de Ivan, de Cavi Borges e Gustavo Melo; Água viva, de Raul Maciel; Avós, de Michael Wahrmann; Bala na cabeça, de Cristiano Abud; Chapa, de Thiago Ricarte; Retrovisor, de Eliane Coster; e Vento, de Marcio Salem.

Na animação temos Bailarino e o bonde, de Rogério Nunes; Quando as cores somem, de Luciano Lagares; Sambatown, de Cadu Macedo; e Tempestade, de Cesar Cabral.

Completando a presença dos brasileiros em Havana, temos ainda quatro filmes fora da competição: Curitiba zero grau, de Eloi Pires Ferreira; Elvis & Madona, de Marcelo Laffitte; Estranhos, de Paulo Alcântara; e Lula, o filho do Brasil, de Fabio Barreto.

PROGRAMAÇÃO do Festival de Cinema Polonês

Hoje

Às 20h, Quanto pesa um Cavalo de Tróia?

Amanhã

Às 19h, A reserva

Às 21h, A festa do casamento

Sexta-feira

Às 19h, O jardim de Luíza

Às 21h, Garotas de shopping

Sábado

Às 19h, A Pequena Moscou

Às 21h, Quanto pesa um Cavalo de Tróia?

Domingo

Às 19h, Uma árvore mágica (filme infantil)

Às 21h, General Nil

Dia 13 de dezembro (segunda-feira)

Às 19h, A Pequena Moscou

Às 21h, Garotas de shopping

Dia 14 de dezembro (terça-feira)

Às 19h, O jardim de Luíza

Às 21h, Ursinho

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