postado em 13/12/2010 08:12
Maria da Conceição Moreira Salles anda de um lado para o outro no escritório onde trabalha. Atende telefonemas, mistura relatos, avança e recua na linha do tempo. Há 27 anos atuando como coordenadora da Biblioteca Demonstrativa de Brasília (BDB), ela reúne a delicadeza à eficiência ruidosa de um trator para tocar um dos braços da Fundação Biblioteca Nacional existente em Brasília desde 1970. "Por favor, não se esqueça de destacar o trabalho em equipe", requisita a coordenadora. Há 40 anos, o Serviço Nacional de Bibliotecas criava a Biblioteca Demonstrativa do Instituto Nacional do Livro, localizada na entrequadra 506/507 Sul. Atualmente, conhecida apenas como Biblioteca Demonstrativa de Brasília.
Apesar de feliz, a iniciativa ainda não era adequada para atender a demanda da comunidade brasiliense. "Quando eu comecei, a biblioteca era diferente. O prédio da frente abrigava o espaço dos leitores e da administração. O que fizemos, ao longo dos anos, foi aumentar o setor destinado aos usuários. Atualmente, temos 50 mil sócios, oferecemos 120 mil exemplares e existem 300 assentos para os leitores", atualiza Conceição. Para tanto, foram expandidas as dependências da biblioteca.
Assim como mudaram características físicas, outra alteração ajudou a deixar o hábito da leitura mais sedutor: a reunião de várias atividades no mesmo local (conheça a programação completa oferecida pela biblioteca em www.bdb.org), incluindo apresentações musicais. A maior delas é o Hamilton de Holanda Solidário, show com o bandolinista, cuja renda é revertida para a Abrace e que ocorre há nove anos em data perto do Natal. Este ano, será no próximo domingo, dia 19, no Teatro Oi Brasília.
"Muito se confunde biblioteca pública com biblioteca escolar. Na verdade, nosso público varia conforme as fases do ano. No período de férias, por exemplo, muitas crianças nos visitam. Costumo dizer que atendemos pessoas de 0 a 80 anos. O Tele-Idoso, um dos nossos programas, funciona para os que já têm dificuldade de locomoção e precisam receber livros em casa", explica Conceição.
Estudantes
O grande número de estudantes vestibulandos e concursandos que utilizam o espaço é natural em qualquer estabelecimento do tipo. É o caso de Samara Azevedo, 20 anos. Ela começou a frequentar a BDB quando cursava o ensino médio. Agora, diante do desafio do vestibular, segue estudando diariamente. "Continuo vindo aqui porque gosto do espaço e dos funcionários. Tudo aqui é bom", resume. "Nós somos organizadores de informação na era da informação. Torná-la acessível é um dever constitucional", analisa Conceição.
Pode ser que um clássico da literatura mundial ou nacional repouse por tempo maior que o esperado nas estantes, à espera de alguém para retirá-lo. Mas, no fundo, uma biblioteca faz sempre mais do que servir como depósito de conhecimento. Ano passado, as letras que tanto enchem os livros do acervo saíram do papel e ganharam suporte feito em metal, mármore, granito, massa plástica e azulejo. Hoje, quem passa pela fachada da biblioteca pode ler poesias de autores da cidade adornando as paredes externas, em obras de arte assinadas por Gougon.
Talvez os transeuntes nem imaginem que o colorido que as paredes da BNB ganharam, na verdade, são uma forma de protesto corajoso. Alguns dos mosaicos foram remontados a partir de cacos recolhidos na rua depois que, numa atitude infeliz do Governo do Distrito Federal, em 2009, foram destruídos vários painéis dos grupos Loucos de Pedra, localizados em vários pontos da cidade. É por essas e por outras que a BDB reafirma a importância como lugar de inquietação intelectual. Mas, também, como espaço de afeição pela cidade.
BDB 40 Anos
Hoje, às 19h30, mesa-redonda sobre a BDB e a Biblioteca Nacional e apresentação musical com Célia Rabelo, Salomão di Pádua, Jô Alencar, Félix Júnior, Carlos Pial e Boréu. Amanhã, das 12h30 às 13h30, projeto Terça literária, bate-papo com a coordenadora da BDB e a chefe da divisão de obras raras da Fundação Biblioteca Nacional, Ana Virgínia Pinheiro. Informações: 3443-5682 e 3244-3015 e www.bdb.org.
HAMILTON DE HOLANDA SOLIDÁRIO
Domingo, às 19h, show beneficente do bandolinista promovido pela Sociedade dos Amigos da BDB no Teatro Oi Brasília (Brasília Alvorada Hotel, SHTN, Tc. 1; 3306-3041). Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (válido também para doadores de 2kg de alimentos). A renda será revertida para a Abrace. Informações: 3244-3015 e 3443-0852.