Diversão e Arte

Xilogravuras se misturam com depoimentos para delinear o perfil de Gonzagão

Severino Francisco
postado em 13/12/2010 08:34
Bené Fontelles conheceu Luiz Gonzaga graças ao estímulo do seu pai, o cearense José Ribamar, que tinha a discografia completa do Rei do Baião. Em 1971, aos 18 anos, Bené escreveu e montou o espetáculo Luiz Lua com dois objetivos: mostrar a vida e a obra de Gonzagão para as novas gerações e o impacto dele na geração de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Geraldo Vandré e Sérgio Ricardo. Tudo era mostrado em praça pública. Em 1972, Bené armou-se de coragem e resolveu procurar Luiz Gonzaga, de passagem por Fortaleza. Foi muito bem recebido por Gonzagão, que fez questão de o levar até uma discoteca para que ouvisse o seu último LP. Lá, Bené pôde assistir a um instante único: Gonzagão chorou ao ouvir pela primeira vez Caetano Veloso cantar Asa branca. Bené Fonteles procurou o compositor em Fortaleza, onde o viu chorar ao ouvir Caetano Veloso cantar Asa branca"Daí para frente nunca mais perdemos o contato. Ele era muito generoso, tinha mais de 400 afilhados e deu de presente mais de 300 sanfonas. Quando gravei o meu primeiro disco, ele disse que faria uma participação, mas não queria nada postiço. Ele queria fazer um aboio de vaqueiro, pois as gravadoras não permitiam este tipo de canto.. Leia trechos dos textos publicados no livro O rei e o baião » "Este livro armazena uma boa parte do que a nossa alma já pode evocar como "espírito brasileiro", dando conta da proporção arcana dessa vertente civilizadora que é a cultura nordestina, em especial no seu viés popular, o mais importante, aquele no qual se insere, justamente, a obra gonzagueana." Gilberto Gil, músico » "Um é o Nordeste barroco-canavieiro, místico-erótico, com suas praias e orixás. Outro é o Nordeste do gado e do couro, o Nordeste sexo, ascético-milenarista, com procissões que se arrastam pedindo chuva. Apesar das ressalvas e revisões que devemos fazer (impossível colocar num mesmo saco a Chapada Diamantina e Canindé do São Francisco, por exemplo), a divisão, grosso modo, se sustenta. Um é o universo de Vidas secas, outros são os mundos de Tenda dos milagres e Viva o povo brasileiro. Um é o mundo da caatinga e das arapongas. Outro é o mundo das coxas morenas do frevo. O Rei do Baião pertence ao Nordeste do sol sinistro e do chão malcriado." Antônio Risério, poeta [SAIBAMAIS]» "O pensamento que elogia a manutenção da tradição, a pesquisa de raízes, a defesa do puro é tão forte em meus julgamentos estéticos e críticas culturais - sempre denunciando o 'artificial' - que pode parecer, para um leitor desavisado, que desvalorizo o trabalho de Luiz Gonzaga, ao lembrar o que nele é invenção ou absoluta novidade nascida fora das cartilhas da autenticidade mais óbvia. A intenção é outra, radicalmente outra: no meu entender, tudo isso torna Luiz Gonzaga mais genial e mais autêntico. Ele soube lidar com forças muito distintas, inclusive do mercado fonográfico em transformação, e conseguiu que funcionassem a seu favor, para sua criação." Hermano Vianna, pesquisador

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