Diversão e Arte

Duas peças infantis made in Brasília são destaque do Prêmio Zilka Salaberry

postado em 16/12/2010 08:00
Fragmentos de sonhos do menino da lua teve quatro indicações: Míriam Virna pisa no RioEm sua quinta edição, o Prêmio Zilka Salaberry de Teatro Infantil, único do gênero no país e voltado para peças que tenham investido em temporadas mínimas de seis semanas no Rio de Janeiro, reconheceu dois exemplos prósperos de produção infantil made in Brasília. A montagem Fragmentos de sonhos do menino da lua, de Miriam Virna, concorre em quatro categorias diferentes: melhor concepção visual, figurino, adaptação de texto e atriz, as duas últimas para a própria Miriam Virna, que, além de adaptar e dirigir o espetáculo, dá vida à narradora da saga onírica. Correndo por fora da competição, Luciano Porto e Márcio Vieira, da Circo Teatro Udigrudi, já faturaram o prêmio especial do júri, pelos elementos cenográficos do mais novo espetáculo da trupe, Devolução industrial. O resultado será divulgado em março do ano que vem.

Para a atriz e diretora Míriam Virna, conquistar espaço nesse rol seleto de peças bem-sucedidas representa um passaporte para entrar de vez no mercado de entretenimento carioca. ;Moro no Rio há dois anos, então é importante me misturar com os artistas. O prêmio também é de grande valor por ser específico para crianças, e até mesmo por levar o nome dessa grande atriz, que interpretou a Dona Benta no Sítio do Pica-pau Amarelo e marcou muito a minha infância;, destaca.

Foi justamente nos primeiros anos de vida que Míriam buscou inspiração para a montagem, adaptada do livro A ópera da lua, do autor francês Jacques Prevert. Antes mesmo de saber ler, ela já namorava as ilustrações que contam a vida do menino Miguel Moreno (na versão brasileira que ela criou), menino órfão, solitário e sonhador, que vive entre o mundo dos adultos e as viagens fantasiosas por territórios incríveis, onde chega carregado pela lua. No começo da faculdade, diante do desafio de criar uma cena de 30 minutos sobre qualquer tema que a encantasse, a aspirante a atriz se lembrou do livro. Anos depois, por sugestão da amiga e também atriz Catarina Accioly, a cena se desdobrou em espetáculo para crianças, em um edital do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).

Além do texto que embala crianças de várias gerações, a autora investiu em complementos cênicos que acabaram atraindo a atenção dos jurados. Um deles é a concepção visual, feita por João Angelini. Para complementar a identidade visual da peça, ele criou projeções que misturam tecnologia com trabalho artesanal, feito com papel e aquarela. Como toda a criação tinha de estar integrada à trilha sonora e ao ritmo da encenação, ele participou ativamente dos ensaios. Os figurinos foram criados pelo ator, cantor, bailarino e figurinista Alessandro Brandão, que investiu em um cenário de simples montagem, para facilitar a circulação de peça. Na contramão desse minimalismo, Brandão usou cores elegantes e formas exageradas, evidenciando a influência do estilo excêntrico do cineasta Tim Burton.

Ao verter o texto para o tablado, Míriam Virna valorizou os conceitos filosóficos de solidão e loucura presentes na obra, aliados à palhaçada e à patetice. Em cena, ela surge como senhorita Anais, uma desajeitada professora francesa de Astronomia que faz a ponte entre as crianças da plateia e o menino-personagem. ;Ela é minha praia, resvala para o clown, para o farsesco, tem muitas coisas de mim;, revela.

Veteranos
A premiação não foi novidade para o Circo Teatro Udigrudi. Afinal, no ano passado, ele concorreu em quatro categorias e acaba laureado com o prêmio especial do júri, o mesmo que conquistou nessa edição. Naquela ocasião, a trupe foi escolhida pelo conjunto da obra apresentada na capital fluminense, um vasto repertório de espetáculos. Agora, a bola da vez são os elementos cenográficos do novo espetáculo do grupo, Devolução industrial. A peça usa material alternativo e reciclável para mostrar a evolução da raça humana e sua invenções incríveis, como máquinas a vapor rodas d;água e trens.

O elemento que chamou atenção do corpo de jurados foi o maquinário criado para as cenas. Márcio Vieira inventou instrumentos musicais, inclusive um órgão feito com garrafa pet, que foi colocado dentro de um trenzinho criado por Luciano Porto. Enquanto o trem levava a criançada para um passeio, uma bomba movida a ar acionava as teclas do instrumento. O estudo de Porto, que criou as invenções humanas, começou com panelas de pressão, canos e ventoinhas, até tomar a forma das máquinas que surgem na cenografia. ;Existe um preconceito de que teatro infantil está em segundo plano, quando comparado com o teatro feito para adultos. Mas quando é bem feito, o teatro fala para o ser humano, comunica e emociona, independentemente da idade;, considera Porto.


MENINO VIAJANTE
A peça estreou em 2007, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de Brasília. Depois de integrar a programação do projeto Cena Contemporânea, a montagem foi selecionada pelo CCBB Itinerante, passou por Belo Horizonte e ganhou edital para o CCBB Rio. Também já foi atração em comemoração do aniversário de Brasília.


TREM DO UDIGRUDI
A peça começou sua trajetória em março passado, nos palcos brasilienses. Depois, rodou por Ceilândia, Taguatinga, Anápolis e Goiânia. O tour incluiu ainda cinco cidades gaúchas (Carazinho, Ijuí, Santa Rosa, Uruguaiana e a capital Porto Alegre), antes de cumprir temporada no Rio de Janeiro. Devolução industrial foi fruto de um patrocínio de manutenção da companhia, concedido pela Petrobras.

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