Diversão e Arte

Entre choros e valsas, "3 por 4" é o primeiro solo de Fernando César

Irlam Rocha Lima
postado em 18/12/2010 08:00
Durante 21 anos, entre 1981 e 2000, o violonista Fernando César formou com o irmão e bandolinista Hamilton de Holanda o Dois de Ouro, que transformou-se em referência do choro em Brasília. O trabalho que realizaram ;, registrado em três CDs e apresentados em incontáveis shows ;, reverberou nacional e internacionalmente. Com o fim do duo, cada um partiu para projetos individuais.

Radicado no Rio de Janeiro desde então, Hamilton de Holanda transformou-se num dos nomes mais importantes da nova geração de músicos brasileiros, com obra reconhecida pela crítica e pelo público e por companheiros de ofício. O êxito obtido o levou a alçar voos cada vez mais altos, culminando com a criação do próprio selo, o Brasílianos, pelo qual tem sido lançados discos instrumentais de reconhecida qualidade.

Um desses discos é o 3 por 4, o primeiro solo de Fernando César que, ao contrário do irmão, optou por permanecer em Brasília, onde tem contribuído para o desenvolvimento musical da cidade, a partir de diferentes formas de atuação. Nos último três anos tem estado à frente da Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello; integrou o conjunto Choro Livre; foi um dos criadores do grupo AQuattro, com o qual gravou álbum só com músicas do bandolinista e compositor pernambucano Luperce Miranda.

Fez mais: levou o choro feito na capital para várias cidades brasileiras e de países da Europa, África e Ásia, América do Sul e América Central; e o seu conhecimento prático-teórico para a salas de aula do Curso Internacional de Verão da Escola de Música, e do Festival Internacional de Inverno, promovido pela UnB. Hoje, a partir das 20h, ele participa, como coordenador-geral, do último dia da maratona de choro, que conta com aproximadamente 300 músicos ; reunidos em 60 grupos ; no encerramento das atividades, em 2010, da Escola de Choro.

Melodias
Mais cedo, às 17h, Fernando César lança o 3 por 4, com recital no Teatro Evar Herz, na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi. ;Será uma boa oportunidade para as pessoas ouvirem, ao vivo, os temas registrados no disco. São choros e valsas, alguns de melodias simples e dolentes, e outros com rara complexidade, que busquei valorizar ao máximo ao violão;, diz.

Gravado entre julho e agosto último, num estúdio do Lago Sul, o álbum, com 12 faixas, traz desde clássicos como Página de dor (Pixinguinha e Cândido das Neves), Uma valsa e dois amores (Dilermando Reis), Sete cordas Raphael Rabello) e Igreja da Penha (Guinga e Aldir Blanc) às inéditas Brasil 3 por 4 (Alencar Sete Cordas), Valsinha de mãe (Hamilton de Holanda) e Uma voz e sete cordas (Félix Júnior). Sozinho, Fernando assina Rebento e, com Rogério Caetano, compôs Mãos de anjo.

CRÍTICA ****
Depuração e virtuose
Gustavo Falleiros
Feliz o título deste trabalho solo de Fernando César, que remete tanto ao formato fotográfico quanto ao compasso ternário da valsa. A dimensão modesta da imagem na Carteira de Identidade contrasta com a importância do documento. Na música, ocorre algo semelhante: muitos compositores escolheram a singela valsinha como suporte para suas obras mais arrebatadoras, mais apaixonadas.

No caso do violonista, vê-se que o número reduzido de elementos é resultado de um processo de depuração. Em Rebento, ele revela a intimidade do lar e de seus estudos em sete cordas. Igreja da Penha é o sumo do lirismo suburbano de Guinga. O cerne do violão tradicional brasileiro está em Uma valsa e dois amores, de Dilermando Reis. Essas e outras escolhas põem em relevo a assinatura do artista. As faixas escritas pelo irmão Hamilton de Holanda e pelos amigos Rogério Caetano e Félix Júnior reforçam o toque caseiro e deixam 3 por 4 mais aconchegante. No encarte, o músico posa para um lambe-lambe. Trata-se do registro de um momento musical essencial, sem retoques.

3 POR 4
Recital do violonista Fernando César. Lançamento do CD 3 por 4. Gravadora Brasílianos. Preço: R$ 24,90. Hoje, às 17h, no Teatro Eva Herz (Livraria Cultura do Sopping Iguatemi/ Lago Norte). Entrada franca. Classificação indicativa livre.

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