Especial para o Correio, Regina Bandeira
postado em 18/12/2010 08:00
Em 2006, diferentemente das tradicionais companhias de dança ; que montam, todo fim de ano, o chamado balé de repertório ;, as bailarinas Graziela Bastos, 25 anos, e Paula Sayão, 35 anos, resolveram inovar criando e encenando o espetáculo Rita, visto por cerca de 2 mil pessoas naquele ano, e que, de quebra, recebeu um elogio de uma das mais prestigiadas diretoras de dança flamenca do mundo. ;Quando terminamos a apresentação, Beatriz Barceló me abraçou e disse ter visto, pela primeira vez, o espetáculo de dança mais genuinamente brasileiro dos últimos tempos;, recorda-se Graziela, que volta, agora, a montar um projeto considerado por ela ainda mais cheio de brasilidade e originalidade: Fuxico, na Sala Villa-Lobos, amanhã e domingo, às 21h.Com um cenário simples, adornado de fuxicos (feitos por costureiras da comunidade carente de Sobradinho II) e guardas-chuvas coloridos (cedidos pela Uncle K), a coreógrafa Paula Sayão juntou a técnica graciosa do balé clássico ao sensual forró, ensinado nas escolas de dança de salão, e transpôs para o palco a literatura brasileira. Inspirado na obra Tocaia grande, de Jorge
Amado, Fuxico narra o surgimento de uma cidade a partir da exploração do ciclo do cacau. ;Há a enchente, a transformação daquele local na cidade grande; está tudo lá, mas de forma poética;, pondera Paula Sayão.
Para mostrar essa realidade, por intermédio da música e da dança, o palco transforma-se em uma casa de forró típica nordestina, que recebe personagens da cultura popular como as quengas, o viajante, as fuxiqueiras, as fofoqueiras, o garanhão, entre outros. O som do espetáculo também traz uma boa dose de ousadia: uma legítima banda de forró eletrônico, vinda diretamente da Paraíba, a Cabruêra, tocará, ao vivo, durante a apresentação.
;Nos ensaios, com a banda, o espetáculo ferve;, entusiasma-se a bailarina, que reuniu ; em apenas dois meses de ensaio ; 20 dançarinos de várias academias de balé e dança de salão e colocou, no mesmo balaio, estreantes e dançarinos brasilienses com carreiras fora da cidade, como Andréia Velasco, Herlon Franklin e Isaac Araújo, que já participou de espetáculos da coreógrafa carioca Débora Colker. Assinando a direção cênica está Edson Bezerra, ex-bailarino do Grupo Corpo nos repertórios Breu, Ongotô e Lecuona.
Nada de russo
;Sempre quisemos aproximar a dança de nossa cultura; contar histórias que não fossem as do camponês russo, do século 17. E é isso que estamos fazendo ao transpor nossos autores para o palco;, explica Graziela, que já sonha levar seu projeto a outras praças do país. A bailarina também pretende em remontar o Rita, que ficou apenas um fim de semana em cartaz. ;Naquela época, tive um problema de saúde e fui obrigada a fazer três cirurgias no joelho; e, obviamente, tudo foi adiado; lembra.
Ainda no caminho de aproximar o balé da cultura popular, a dupla brinca com a plateia em um determinado momento e, de forma aleatória, leva algumas pessoas para dentro do cabaré. ;É uma experiência inovadora para gente também; uma forma de proporcionar um olhar sob um ângulo diferente;, diz Paula, que espera democratizar o acesso do público ao balé, também por meio do preço do ingresso. ;Não teria sentido cobrar valores caros se nosso objetivo é formar e atrair o público;, completa.
FUXICO
Espetáculo de dança que mescla o balé clássico e o forró, sábado (18) e domingo, às 21h, na Sala Villa-Lobos, do Teatro Nacional. Ingressos a R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia). Não recomendado para menores de 14 anos.
A FEBRE CABRUÊRA
; Com 10 anos de estrada, a banda Cabruêra, formada por alunos da Universidade Federal da Paraíba, reúne quatro músicos com diversas influências ; do cancioneiro popular paraibano até a música eletrônica. O grupo já tocou dentro e fora do país; aqui, apresentaram-se no Abril Pro Rock, Goiânia Noise, Rec Beat, Mada, Calango, Porto Musical, Feira Música Brasil. No exterior, participaram do Midem, na França; Roskilde, na Dinamarca; Womad, na Itália; Montreux, na Suíça; e do festival Liverpool Sound City, na Inglaterra.
A banda tem quatro CDs gravados ; Cabruêra (2000), Samba da minha terra (2004), Sons da Paraíba (2005) e Visagem (2010). O álbum está disponível gratuitamente para download no site Overmundo. Recentemente, os músicos assinaram a trilha sonora do documentário Utopia e Barbárie do cineasta Sílvio Tendler.