Ricardo Daehn
postado em 19/12/2010 08:00
Com 270 cópias, todas em película, Aparecida ; O milagre teve dose de diferencial no lançamento. ;Além das praças tradicionais, levamos o filme ao interior de São Paulo, do Rio Grande do Sul e do Ceará, que concentra grande parte dos admiradores do Padre Cícero. Também negociamos expandir o circuito para o Triângulo Mineiro;, conta o produtor Paulo Thiago.
Vista como uma caixinha de surpresas, a quantidade de público foge do vislumbre de Tizuka Yamasaki. ;Com relação aos filmes espíritas, como Nosso lar e Chico Xavier, é importante ressaltar que os espíritas são militantes e muito mais solidários entre si, independentemente da qualidade dos longas. O católico faz parte do grupo que formou família e anda meio afastado do cinema, por isso, permanece como uma incógnita;, avalia.
Mesmo com conjuntura pesada de coprodução que envolveu Globo Filmes, Paramount e RioFilme, a diretora conta que esteve livre de interferências. ;Ninguém disse que devíamos fazer assim ou assado;, sintetiza. Com interesse por todas as crenças religiosas, a diretora percebeu sinalizações de que deveria se engajar no projeto apresentado a ela numa viagem Brasília;Rio. Um dos chamados mais fortes surgiu da descoberta de que o principal guia espiritual de uma médium, vital para um processo de libertação psicológica da avó (quase centenária), era Nossa Senhora Aparecida.
;Minha avó sofria pelo peso da morte de um bebê, no interior e no meio do mato. Pensei: ;Não é certo que uma batalhadora, a esta altura da vida, esteja tão infeliz. Fizemos uma missa para os antepassados da família, com produção enorme, no Rio de Janeiro. No dia seguinte, ela disse: ;Sonhei que fui para o céu e estava todo mundo contente;. Nunca mais ela voltou a se queixar. Anos depois, estava num posto de gasolina e algo me direcionou, por completo, para a imagem de Nossa Senhora. Resolvi presentear a moça que nos havia ajudado e, depois de benzê-la, ela disse que a imagem queria ficar comigo. Anos depois do mergulho em pesquisa da cultura da imigração japonesa (para o filme Gaijin) foi que descobri que ela era a protetora desse grupo também. Foram sinais;, defende a diretora.
Recentemente lançada em DVD, a minissérie O pagador de promessas (que explorou o candomblé, em 1989) alargou as crenças no set. ;Quando tratamos de assuntos espirituais, começa uma sincronização com o fazer cinema que é mais ou menos como um trato espiritual. A gente lida com emoções. Passo a ter fé e a acreditar de verdade naquilo, mesmo não sendo religiosa;, explica. Detida na finalização de Amazônia Caruana ; ;que também é um filme com viés religioso, numa religação da mata, de caboclos e de índios; ;, Tizuka enxerga laços em torno dos temas, com o recém-estreado filme. ;Tive maior capacidade de fazê-lo por ter passado pelo Amazônia Caruana. Os subsídios estavam mais à mão e renderam maior delicadeza para Aparecida ; O milagre;, conclui.