postado em 22/12/2010 08:00
O gaúcho Glênio Bianchetti, 82 anos, começou a pintar ainda na adolescência em Bagé onde nasceu. Mas, logo a cidade ficou pequena para o talento do pintor, que depois se tornaria um dos principais nomes do expressionismo brasileiro. ;Antigamente, Bagé era uma cidade muito pequena, provinciana, sem recursos culturais;, relembra Bianchetti.
O jeito foi se mudar para capital do estado e iniciar os estudos no Instituto de Belas Artes de Porto Alegre, onde foi aluno de Iberê Camargo. E onde conheceu a pintora Alice Soares a quem ele presenteou com o quadro Galo, de 1959. Uma chance de conhecer essa e outras obras raras do pintor está na exposição Gabinete de Arte ; Glênio Bianchetti, com visitação aberta somente nos fins de semana e feriado, no Salão Verde da Câmara dos Deputados, até 28 de fevereiro. O horário será limitado das 9h às 17h. ;É uma grande retrospectiva da carreira dele. São, no mínimo, dois quadros de cada década e as obras vieram de vários colecionadores;, explica o curador Afrísio Vieira Lima. No total, serão expostos ao público 30 quadros no gabinete do presidente da Câmara, Marco Maia.
;A maioria dos quadros, eu nem me lembrava mais. São de diversas épocas e de colecionadores. Alguns eu vendi há muito tempo. Vai ser uma surpresa;, admite o pintor. Em 65 anos de carreira, Bianchetti trabalhou com diferentes técnicas e procurou ser sempre um ativista social. ;Ele sempre valoriza a figura humana em atividades cotidianas. E procura os sentimentos mais recônditos. É uma pintura muito personalista;, classifica o curador.
O artista mudou-se para Brasília em 1962 atendendo a um convite do professor Darcy Ribeiro. Lecionou na Universidade de Brasília (UnB), onde foi responsável pela criação do Ateliê de Arte e o Setor Gráfico. Porém, ele foi demitido durante o governo militar e só foi readmitido na Universidade em 1988. Bianchetti sempre foi um humanista e usou a arte com esse fim. Um dos cartazes da campanha da Diretas Já, durante a década de 1980, foi criado por ele.
O tema social já estava nos trabalhos mais antigos como na xilogravura sem título, de 1955, em que um trabalhador rural usa um pilão. Os traços são duros, assim como é a dureza do trabalho no campo. Outro dos temas muito trabalhados na carreira é a religião. Ela está, por exemplo, no quadro de acrílica sobre tela, intitulado São Francisco, em que o santo homônimo se agacha para recolher uma flor ou no mais recente de 2008, sem nome, em que Jesus é retirado da cruz após a crucificação. A obra fazia parte de uma série sobre Via Sacra, usada nas paredes de uma igreja em Bagé, mas foi retirada pelo autor por não fazer parte da sequência real da Via Sacra. Fazem parte da seleção algumas naturezas mortas e paisagens. A pintura mais antiga da exposição feita em óleo sobre tela ainda na década de 1940, apresenta a vista de uma das ruas da cidade de onde Bianchetti sairia para espalhar sua arte tão expressiva.
GABINETE DE ARTE ; GLÊNIO BIANCHETTI
Até 28 de fevereiro no Salão Verde da Câmara dos Deputados. Aberto para visitação guiada nos finais de semana e feriados, das 9h às 17h. Saída a cada meia hora do Salão Negro. Informações: 3216-5880.