postado em 25/12/2010 08:20
Regina Bandeira - Especial para o Correio
É uma revelação surpreendente: das pessoas que não têm o hábito de leitura, 85% nunca foram presenteadas com livros. A informação, divulgada pela Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (2008) não chega a confirmar se quem recebeu uma publicação qualquer na vida virou um leitor contumaz, mas em uma coisa os especialistas são categóricos: o hábito de ler está diretamente associado ao exemplo familiar, principalmente das mães ; 49% dos leitores apontaram-nas como as maiores incentivadoras nesse hábito. ;A escola foi citada por apenas 33%. Isso é incrível, pois revela que a família tem papel superior ao dos estabelecimentos de ensino;, afirma a presidente do Instituto Pró-Livro (IPL) e presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros, Sônia Jardim, que, por não duvidar do poder do exemplo na construção de futuros leitores, resolveu levantar a bandeira dos livros infantis neste Natal.
Para mobilizar pais, tios, avós, cunhados, sogras e amigos a presentearem com obras literárias a gurizada, o instituto criou a campanha Natal com livro. ;Nosso foco principal são as crianças, pois se você consegue cativá-las para a leitura estará construindo um futuro leitor. Com certeza, quando elas crescerem, se tornarão adultos que lêem. Mas nossa campanha não exclui ninguém. Livros exercitam a imaginação, caem bem em qualquer idade;, reforça a socióloga Zoara Failla, gerente de projetos do IPL.
Para ela, livros não são objetos simples; desenvolvem capacidades, obrigam a sonhar, forçam a imaginação. ;Reconheço o encantamento de um videogame, mas o livro desperta a fantasia, exercita nossa imaginação sem causar a excitação mental que um jogo exige. Ele é um companheiro para todas as horas: vai bem desde antes de dormir até na hora do recreio;, diz a socióloga, que propôs no site do IPL que os leitores contem como descobriram o prazer da leitura. A história pode ser enviada para o email e será publicada no site do instituto.
Força materna
A cantora e professora de musicalização infantil Célia Porto, de 42 anos, tem noção de que foi fundamental na criação desse amor pelas letras em seu filho Rênio, de 8 anos. ;Desde que ele era bebê comprávamos livrinhos de borracha, que entravam com ele no banho. Era uma forma de acostumá-lo com aquilo de forma prazeirosa;, lembra. Hoje, Rênio é um leitor voraz de contos de fadas, Monteiro Lobato e gibis ;muitos gibis. Seu hobby é escrever cartas para Maurício de Souza (criador das histórias da Mônica e Cebolinha). Também lê o jornalzinho do Correio, cujas pesquisas gosta de colecionar. Curte bibliotecas, e pode passar horas a fio em grandes livrarias. ;Quando abre um livro, a primeira coisa que faz é cheirá-lo. Acho isso interessante, pois percebo que seu carinho com esse objeto é algo realmente forte;, avalia a mãe. Interessado por carros, o pequeno leitor acabou ganhando de Natal um livro que conta a história do Fusca. ;E agora ele vai para todo lugar com ele;, ri.
Poucos pais têm consciência dessa influência, e ainda acabam deixando para a escola e seus professores a formação desse vínculo. ;A escola dá a leitura como tarefa; e o professor não assume o papel de mediar, de despertar o prazer da leitura. Nesse movimento, a maioria passa a ter aversão à leitura;, pondera Sônia.
Presente mágico
;Não era bem um livro, desses com capa e páginas que folheamos e que se abrem em V. Foi meu presente de Natal. Tinha sete anos e estava concluindo a primeira série. Meu pai retornava a nossa casa, desempregado. Era o presente que conseguia comprar. Uma caixinha amarela com um título: 1001 histórias. Abria como um envelope e, dentro, muitas folhas brancas, impressas dos dois lados.
Não era uma grande literatura. Eram enredos simples inspirados nas clássicas histórias de princesas, príncipes e castelos. Mas me fascinava aquele ;protagonismo; na criação da história. Queria chegar a 1001 histórias. Sei, hoje, que foi um presente de enorme significado ; minha iniciação nos prazeres da leitura.;
Depoimento de Zoara Failla