postado em 25/12/2010 08:15
Nem tão escuro como o tinto nem tão claro quanto o branco. A cor é mais para o vermelho desbotado. O vinho rosé, refrescante e de personalidade forte, é próprio para o verão. Quando de boa procedência, é leve e possui aromas e sabores ideais para a harmonização com pratos leves, ou atua como um ótimo aperitivo em festas ou happy hours. Sempre um sucesso no verão europeu, a bebida veio com tudo para invadir a estação de calor do Brasil e promete estar à altura para substituir a queridinha cerveja. E, aproveitando o ensejo, que tal convidá-lo para o seu réveillon?Acredita-se que, antigamente, os vinhos eram praticamente os rosés de hoje, devido à pouca extração de cor da casca na hora da fermentação. Segundo a sommelier-chefe da Expand, Ana Rita Zanier, existem descrições de vinhos feitos na Grécia antiga que sugerem esse fato. ;Na França, os antigos vinhos de Bordeaux eram chamados de clarets por ter pouca cor;, explica. Ela conta que o sul da França, mais precisamente em Provence, pode ter influenciado outras regiões, pois é uma terra onde se produz vinho rosé há mais de seis séculos. ;Prova disso é a vinícola Château Roubine, que iniciou sua história em 1307 e já foi de propriedade da Ordem dos Templários;, acrescenta.
A cor do vinho rosé pode variar, pois quem decide a tonalidade é o enólogo. ;Só para frisar, o bom vinho rosé não é feito a partir de misturas de vinho tinto e branco;, alerta Ana Rita. O processo que dá vida à bebida deixa as cascas em contato com o suco da uva para que o líquido vire tinto, aromático e com taninos presentes. ;No momento em que o enólogo percebe as características desejadas, ele retira todas as cascas e prossegue a fermentação da mesma forma como é feita com o vinho branco;, descreve. Para os exemplares produzidos na França e no restante da Europa, a cor pode ser acobreada, igual à da casca de cebola, ou rosa mais escuro. Nos chilenos e argentinos, o rosa é mais intenso.
Uva
A uva selecionada para o rosé depende fundamentalmente da região onde será produzido. O sommelier da Grand Cru, Nicolas Farias Torres, explica que a bebida nos Estados Unidos, por exemplo, é feita com a uva zinfandel (conhecida na Itália como primitivo). Já na França, especificamente em Côte du Rhône e Provênce, as principais frutas utilizadas são a grenache, a cinsault e a syrah, enquanto na região de Bordeaux as escolhidas são merlot, cabernet sauvignon e cabernet franc. ;O rosé do Chile é feito, praticamente, de cabernet sauvignon e, na Argentina, com a emblemática malbec;, menciona. De acordo com ele, a uva do rosé deve transmitir, sobretudo, as características únicas da região.
Para Torres, o rosé tem o melhor dos dois mundos. ;Tem o frescor e a elegância do branco, somado à estrutura e à frutosidade do tinto;, acredita. Segundo o especialista, esse é um tipo de vinho com personalidade claramente definida. ;Ele é entregue ao paladar de uma forma fresca, sutil e elegante. Além disso, o objetivo do rosé é refrescar, portanto não leva estágio em carvalho, destacando a fruta e a acidez natural da uva;, comenta.
Saborear o rosé no verão, segundo Gutto Assunção, sommelier da Vintage, é uma prática comum há décadas na Europa, e não virou hábito no Brasil por preconceito. ;Nós precisamos acabar com isso. Quando bem elaborado, o rosé é um vinho que expressa qualidades;, afirma. O preconceito ao qual ele se refere é ao da crença disseminada de que o vinho rosé é de má qualidade. A fama indesejável, segundo Assunção, deve-se aos primeiros exemplares importados pelo Brasil. A bebida era malfeita e lembrava água adoçada sem aromas.
Confiante na qualidade da bebida, resta saber a forma certa de consumo. Segundo Marly Maia, da Bordeaux Casa & Vinho, a temperatura ideal é a mesma de um branco encorpado; ou seja, entre 10;C e 13;C. O rosé pode ser apreciado em taças maiores, para que ele respire e seus aromas sejam aproveitados. Quanto às harmonizações, a bebida é versátil. ;Eles são verdadeiros curingas, indo muito bem com peixes, aves e até carnes leves;, ressalta Marly.
Em relação a drinques elaborados a partir do vinho rosé, Torres, da Grand Cru, não considera uma boa ideia. Para ele, a bebida merece ser degustada e apreciada por sua própria natureza, sem ser misturada a outros ingredientes. ;Os técnicos e os enólogos os produzem com muito amor e paixão, tentando sempre surpreender. Ao mesmo tempo, o consumidor deve saber que o vinho transmite a cultura e as tradições dos países de origem;, salienta.