Diversão e Arte

Tecladista dos Titãs, Sérgio Britto, lança o terceiro disco solo

É o lírico SP55, com músicas para a mulher e os filhos, e a participação de Wanderléa, Negra Li e Marina De La Riva

postado em 27/12/2010 08:13
SP-55 é um trecho da Rio%u2013Santos que Sérgio Britto costuma trafegar para ir à praia. Ele tem uma casa no litoral norte paulista e considera especial aquele pedaço da rodovia, um "microcosmo do Brasil". "É uma estrada bonita, com trechos maravilhosos, mas também com muito lixo e violência", comenta o tecladista, cantor e compositor dos Titãs, que está lançando o terceiro disco solo, não por acaso batizado de SP55. É um título sugestivo, não só pela referência ao país e às viagens familiares, mas também por se tratar de um artista que há anos vem percorrendo um caminho, tentando descobrir uma identidade, uma sonoridade que o diferencie de sua banda. Com o novo álbum, gravado com calma, durante dois anos, Britto acha que conseguiu chegar aonde queria. Ou, pelo menos, bem perto disso. "Pouquíssima coisa desse disco poderia estar no repertório dos Titãs", afirma. "As harmonias e as melodias são mais elaboradas. A sonoridade é mais leve, com violões de nylon, sem guitarras e quase sem bateria, só umas programações. E a temática, muitas vezes, é extremamente pessoal. Falo dos meus filhos, nominalmente, o que não cabe nos Titãs. O disco é todo mais lírico." Sérgio Britto, ao lado da cantora Marina De La Riva, durante gravação de clipe da faixa Pra te alcançarSe em Eu sou 300 (o segundo CD, lançado em 2006), ele já tinha gravado uma música para a mulher, Raquel, e outra para o filho, José, desta vez são quatro faixas dedicadas especialmente à família: Júlia (para a filha de 4 anos), Sérgio & Raquel, Ah, muleke! (José) e Nossa religião. Pode parecer pouco para um CD com 16 músicas (na verdade, são 18 faixas, incluindo os dois remixes do Drumagick), mas são elas que dão o tom íntimo e doce do álbum. "Eu falo da minha vida, né? E isso é uma parte muito importante dela. Fiz músicas sobre as minhas crianças, o que faz todo o sentido pra mim", diz o músico de 51 anos, que sempre foi o mais reservado dos Titãs. Versões Além das canções familiares, Britto tratou de pinçar do baú uma de Adoniran Barbosa, Iracema, que ele - que em casa tem o hobby de cantar músicas dos outros - conseguiu fazer com outro enfoque, mais cool, com cortes, valorizando o lado cinematográfico da letra. "Muitas das minhas versões não passam de covers, repetições do que já foi feito. Essa, não. Ficou bem diferente das gravações que conheço", ressalta. Para SP55, Britto fez outras duas boas versões, com um quê de música brasileira, para Eres, da banda mexicana Café Tacvba, e Ella usó mi cabeza como un revolver, da argentina Soda Stereo. Ele morou 10 anos no Chile, foi alfabetizado em espanhol e havia um bom tempo queria gravar algo do repertório da cena pop latina. Outra ideia que ele vinha acalentando era a de chamar Wanderléa para gravar em outro registro, distante daquele que a fez famosa, nos tempos da jovem guarda. Um dia, no apartamento dela, num ensaio para um show que eles fariam no interior de São Paulo, Britto ouviu o disco em que a Ternurinha canta clássicos da bossa nova. Adorou. E quando compôs Essa gente solitária, pensou nela cantando àquela maneira. "Ela topou no ato. Todas as cantoras, aliás, foram muito solícitas", garante ele, que também chamou Marina De La Riva para um dueto na faixa que abre o CD, a ótima Pra te alcançar, e Negra Li, em Aqui neste lugar. Essas duas últimas músicas foram as que ganharam remixes da dupla de DJs Drumagick. A química do quarteto Com a saída de Charles Gavin dos Titãs, este ano - é a quarta baixa no grupo -, o que era um octeto virou quarteto: Sérgio Britto, Paulo Miklos, Branco Mello e Tony Bellotto. E, segundo o tecladista, eles não pensam em parar. "Talvez um dia, quem sabe... Mas estamos fazendo shows, direto. Em dezembro, temos shows praticamente todos os dias. E enquanto houver quem queira ficar e tocar o nome da banda, eu nunca vou me opor. Ainda há química entre a gente." Garimpagem no baú do titã Material para SP55 não faltava. "Tenho bastante coisa guardada e uma certa rotina de composição", conta Britto. "Trabalho constantemente, vou reunindo material, coisas inacabadas, coisas que vou adequando, tirando de uma, fazendo outra... e músicas ruins, que vou esquecendo (risos). Quando você tem um projeto em mente, você se obriga (a compor). Mas, em geral, mesmo que eu não tenha nada programado, acabo fazendo. Porque sempre tem uma ideia que fica na cabeça. Às vezes, estou tocando violão, de bobeira, e começa a sair alguma coisa. É um hábito. Um bom hábito." Emerson Villani, o produtor, foi quem o ajudou a encontrar a sonoridade que buscava, gravando aos poucos, sem prazo para acabar. "É um cara com quem tenho intimidade. Ele já tinha tocado com os Titãs e produzido o meu disco anterior. E sabe tirar o melhor do artista", elogia Britto. Villani cuidou não apenas da produção, mas das programações, do baixo, da guitarra, do violão, do piano, da bateria, da percussão... E é ao lado dele que Sérgio Britto deve estrear o show, com calma, assim como fez o disco, o melhor dos três que lançou (o primeiro solo, A minha cara, é de 2000). "Desta vez, não quero me precipitar. Quero fazer um show com essa pegada mais intimista, em lugares bacanas, teatro de preferência. Com os outros dois, fiquei na ansiedade de engatar o lançamento do disco com o show e acabei não fazendo da maneira como queria." O caminho, ele já conhece. SP55 Terceiro disco solo de Sérgio Britto, produzido por Emerson Villani. Lançamento Midas Music/Universal, 18 faixas. Preço médio: R$ 22. ***

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