postado em 30/12/2010 17:16
De tanto ouvir músicos que considera ;malucões e representantes da cena marginal;, como Frank Zappa e Hermeto Pascoal, o baixista Vavá Afiouni acabou assimilando o conceito de música livre, cunhado pelo próprio Hermeto: as composições não precisam seguir amarras, convenções, ser isso ou aquilo. É essa liberdade despudorada, na forma e na linguagem, que ele exercita na banda Toró de Palpite, ao lado do violonista João Ferreira e do baterista Tiago Cunha.Há seis anos tomando os palcos com performances inusitadas e uma levada de escracho misturada ao rock amalgamado com influências variadas, o Toró encerra o ano com dois discos lançados, um terceiro engatilhado para 2011 e novidades nos shows ao vivo. No começo de 2011, eles farão tributos a Tom Zé, Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção ; três nomes da vanguarda paulistana, que se mantêm na contramão da música comercial.
A banda começou com um formato inusitado ; bateria, baixo e clarineta ; e contou com a contribuição de vários músicos da cidade até chegar ao formato atual, com baixo, violão e bateria. A proposta também ganhou refinamentos e um tom mais intimista. ;Queria realmente dar vazão ao meu trabalho autoral. Tenho mais de 150 composições, material pra mais de 12 discos;, cita o baixista, que já acompanhou músicos locais e nacionais, como B. Negão, Otto e Eduardo Neves, entre outros.
A variedade de influências que recebeu acabou se entranhando em seu estilo: apesar de uma postura rock;n;roll assumida, as músicas do Toró de Palpite ganham pitadas de reggae, uma de suas maiores paixões, funk, jazz e até axé e pagode, se convier à ocasião. ;Não deixo nada para traz nem tenho pudor em relação às referências;, garante Vavá.
A tropicália é outra inspiração dos músicos que investem em performances cênicas caprichadas e letras sarcásticas, para falar de temas difíceis sem abrir mão do humor e a leveza. Filho de mãe síria e pai goiano, Vavá aproveitou a salada de informações domésticas e chegou a gravar até moda de viola - caipira e não sertaneja, gosta de frisar.
Maluquices
Os dois álbuns são marcados pela diversidade sonora, mas o compositor ressalta que as obras são completamente diferentes. Enquanto o primeiro álbum, Toró de Palpite, de 2007, é resultado de uma miscelânea de artistas tocando juntos, o segundo, O papo do bicho, lançado neste ano, ficou mais coeso. ;Queria fazer um disco mais fechado, focado no trio de rock;n;roll tocando o que poderia reproduzir ao vivo, o que era impossível no primeiro trabalho. O papo do bicho ficou mais simples, acessível, menos malucão que o anterior;, acredita. Ainda assim, as ;maluquices; surgem aqui e ali, nas faixas do disco. Macarrão com molho, por exemplo, é uma canção sobre dor de cotovelo. O começo discute, de forma divertida, a origem do homem. Brasília e suas paisagens ganham homenagem na singela Ai ai ai Niemai.
Vavá pode até levar as ideias iniciais para o estúdio, mas ele não é o único responsável pela versão final. As contribuições de João Ferreira e Tiago Cunha são sempre bem-vindas. A diversidade de experiências dos três é, para Vavá, um dos pontos fortes da banda. ;João é formado, toca música erudita, é produtor de samba e um dos violonistas mais requisitados da cidade. Tiago vem do heavy metal, sempre tocou muito a agora está estudando música. Eu aprendi a tocar de ouvido, depois estudei e como baixista que acompanha um bando de gente, sempre ataquei por todos os lados;, explica.
A próxima empreitada, prevista para começar em março do ano que vem, é a gravação do terceiro trabalho do Toró de Palpite, disco de sambas batizado de Jet sambas, uma brincadeira com um dos muitos apelidos do líder da banda, Vavá Jets. ;Será uma brincadeira com os afro-sambas e a tendência é continuar focando o trabalho na afinidade do trio de músicos. Mas faremos samba do nosso jeito;, avisa.
Mistura na cabeça
Baixista brasiliense, filho de mãe síria e pai goiano, Vavá diz ter sido criado a base de grão de bico e galinha caipira. A diversidade de ritmos e estilos também é uma marca de suas influências musicais. Na adolescência, mergulhou no death metal e participou de várias bandas diferentes. Uma dos grupos que ele integrou foi o Xalé Verde, que já apontava para a mistura, mesclando jazz e música brasileira ao rock. Nessa fase, o músico admite ter se encantado com a música instrumental e, a partir daí, passou a se dedicar ao estudo do baixo com mais afinco.
A banda seguinte foi A Tuba Antiatômica do Planalto, famosa no cenário alternativo e responsável por acrescentar à performance dos músicos uma encenação trabalhada. Com o fim do grupo, Vavá Afiouni passou a se dedicar a vários projetos simultâneos. Entre eles, os grupos Marambaia e Lorota Boa, com o violeiro Cacai Nunes. Ao lado de músicos da cidade, eles tocavam forró de forma pouco convencional e fizeram temporadas de três anos no restaurante Calaf. Além das parcerias com músicos de Brasília, Afiouni acompanha nomes como B Negão, Otto, Eduardo Neves, Lula Galvão e Gabriel Grossi, entre outros.