postado em 02/01/2011 08:00
Até o começo de 2010, Cícero Fraga era um publicitário que se divertia acompanhando a atuação dos músicos da cidade. Mas, nos últimos 10 meses, ele se transformou, por iniciativa própria, em um videomaker que auxilia alguns desses artistas a lançarem seus trabalhos no frenesi global da internet. ;Via vários shows de bandas, percebia uma excelente qualidade musical e quis ajudar esses músicos. Com exceção da cena instrumental, não há muitos produtos musicais conseguindo se firmar fora da cidade, levar o nome de Brasília;, relata. O antídoto contra essa dificuldade foi batizado de 061Uha, página eletrônica que reúne mini-documentários, regados a música e bate-papo, com figurinhas conhecidas de quem acompanha bandas e músicos locais. Foi durante um show de Vavá Afiouni e o Toró de Palpite, nas comemorações de aniversário da cidade em 2009, que ele teve o estalo: por que não registrar um pouco da atuação musical que vê nos palcos? ;Minha ideia era produzir pequenos filmes com músicos profissionais, que tenham trabalho autoral, CD produzido e um carreira já estruturada. Não queria colocar ninguém no mercado, apenas impulsionar a carreira;, descreve. No mesmo dia, Vavá foi convidado para uma gravação, que acabou virando um dos vídeos-piloto do projeto. Até agora, documentários sobre sete artistas já estão no ar, na página www.061uha.com, e ainda faltam três. Os próximos são Ted Falcon e o grupo Seu Estrelo e o Fuá de Terreiro. O último nome ainda não foi definido.
Antes de ligar a câmera, o publicitário, também conhecido como Padim, foi obrigado a enveredar por searas desconhecidas. Pesquisou a fundo o mercado cultural de outras cidades, estruturou um projeto e se aprofundou nas regras de patrocínio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), da Secretaria de Cultura. A consulta aos amigos também foi fundamental. ;Conversei com o Pezão, um dos realizadores da revista Satélite 061, que faz o mapeamento das manifestações culturais da cidade. Isso me abriu a cabeça para fazer o mesmo em vídeo. Até peguei parte do nome da revista deles emprestado;, brinca. Em março passado, ele recebeu a verba de R$ 48 mil para tocar a iniciativa.
O time de realizadores foi escolhido entre amigos com experiência em filmagens e produção, mas ainda em início de carreira. Dos sete envolvidos na realização dos filmes, apenas a produtora Lia Ravena e a diretora de arte Bruna Daibert eram veteranas em suas áreas de atuação. ;Quis fazer a mesma coisa com os músicos e com a equipe do projeto: permitir que produzissem e mostrassem seu potencial;, compara.
Antes de rodar as cenas a equipe se reunia com o artista da vez, para traçar o plano de voo, intenções e o estilo da produção. O passo seguinte era encontrar uma locação adequada, tendo sempre Brasília como pano de fundo, ;conversando; com o músico e sua obra. O documentário sobre o Toró de Palpite foi gravado em uma praça no Setor Militar Urbano. George Lacerda rodou sua versão na 107 Norte, caminho de sua casa e lugar que o inspira a compor e a tocar. Fabiano Borges tocou seu violão sete cordas para a equipe no Museu do Índio.
Outra decisão foi produzir filmes curtos, que não ultrapassassem 10 minutos de duração, para que os espectadores pudessem ver em qualquer situação, até mesmo em intervalos durante o horário de trabalho. Como os próprios autores dos vídeos têm seus empregos, as filmagens foram realizadas sempre em finais de semana, com duas câmeras, sendo uma alugada.
Redes sociais
Até agora, a página eletrônica só foi divulgada em mídias digitais, como Twitter e Facebook, além do tradicional boca a boca. Mesmo assim, dois dias depois de entrar no ar, já tinha registrado mais de quatro mil acessos. Há um mês, mais de 30 mil visitas haviam sido contabilizadas, em 38 países diferentes e a iniciativa já rendeu dividendos para os participantes. ;Uma TV latina exibiu o vídeo da Ellen Oléria. O bandolinista Dudu Maia, outro selecionado pelo projeto, foi convidado para uma apresentação no exterior, por alguém que o conheceu no nosso filme;, relata Fraga.
Uma das artistas escolhidas, Ellen Oléria se entusiasma ao falar do projeto. ;Filmamos muito rápido, em dois dias, em estúdio e na Funarte. Os meninos são muito criativos e quiseram aproveitar os grafites da área externa, que tem a mesma pegada hip-hop e urbana da minha música. Dá pra ver na edição final que foi uma conversa descontraída;, descreve. O material acabou virando uma das principais formas de divulgação da cantora. ;Na rede, a música caminha num ritmo muito mais rápido do que as nossas pernas. Infelizmente, ainda não encontramos em Brasília a dosagem certa da equação público, produção e artista, mas estamos caminhando pra isso. Esse projeto é um bom termômetro da cena local;, acredita.
Agenda ainda em aberto
No ano que vem, a equipe pretende continuar registrando a cultura candanga, mas ainda não decidiu qual será o novo recorte. Mas é possível que se ampliem o leque e extrapolem as opções musicais, abrindo espaço para artistas de teatro e cinema, por exemplo. Outra proposta para o futuro é tornar o site um espaço cada vez mais independente. ;Nossa ideia é um dia transformá-lo em um portal para alojar o material dos artistas e eles mesmos poderão produzir e inserir o próprio material;, conta Fraga. Quem quiser colaborar financeiramente para a manutenção da iniciativa é bem-vindo.