postado em 06/01/2011 08:00
Existe um descompasso entre o bafafá gerado pelo trabalho musical de jovens artistas na internet e o real interesse que eles causam no público. Muitos dos mais relevantes cantores, compositores e grupos atuais conseguem divulgar seus nomes, mas não necessariamente tornar suas músicas conhecidas. Pensando em mirar o holofote sobre esse panorama, o projeto Sai da rede estreia amanhã, no Centro Cultural Banco do Brasil, com uma programação eclética que ocupará o teatro do local até 23 de janeiro, sempre às sextas, aos sábados e domingos. Nas apresentações, os artistas estarão acompanhados de suas bandas e, em alguns casos, também de VJs trabalhando em projeções durante os shows.;Dar um play no MySpace ou no YouTube não custa nada. Agora, sair de casa, comprar ingresso, ir ao show, coisas que levam tempo e custam dinheiro, já é outra história;, reflete o carioca Pedro Seiler, curador do projeto. ;Neste momento em que todo mundo faz downloads, as gravadoras estão acabando e as lojas de discos fechando, o mercado musical está mais focado nos shows. Mesmo assim, para um artista iniciante existem poucos espaços para se apresentar;, comenta a também curadora Amanda Menezes. ;Mas público para assistir e bons artistas querendo tocar, a gente tem;, ela continua.
A seleção das atrações foi pensada tendo em vista aquelas que, com a ajuda da internet, conseguiram dar impulso a suas carreiras. Esta semana, apresentam-se o cantor baiano Lucas Santtana (amanhã), a cantora paulistana Tiê (sábado) e a pernambucana Isaar (domingo). A programação da semana que vem traz a banda paraibana Burro Morto, a cantora pernambucana Lulina e o grupo paulistano Instituto. Na semana seguinte, é a vez do quarteto carioca Letuce, da paulistana Tulipa Ruiz e do carioca João Brasil.
;João e Lucas são exemplos de artistas que usam bem as ferramentas da internet. A página do Lucas permite que as pessoas baixem as músicas, façam remixes delas e depois enviem o resultado para o site. E João criou um blog no qual postou 365 mashups ao longo do ano;, conta Seiler.
Amanda explica que uma das preocupações da curadoria era ter abrangência geográfica e diversidade de estilos: ;São artistas com múltiplas influências, que fazem uma música ao mesmo tempo muito brasileira e misturada;.
Não é novidade que a internet é hoje uma das maneiras mais práticas, baratas e eficientes de divulgação para novos artistas. Ainda assim, chegar até seu público em potencial ainda é um desafio para eles. ;É um cenário muito novo e a gente não sabe o que vai acontecer. Eu não me arriscaria a fazer previsões. Ainda assim, percebemos um fortalecimento dessa cena;, avalia Amanda.
Pedro Seiler enxerga a segmentação como possibilidade: ;Hoje em dia, mais do que tentar abraçar o mundo e se frustrar depois por não conseguir fazer isso, os artistas têm que tentar falar com o seu público. Acho que a tendência é comunicar com cada vez mais gente na internet, mas se manter em seu nicho fora dela;.
Sai da rede
De amanhã até 23 de janeiro, às sextas e aos sábados, às 21h, e domingos, às 20h, no
CCBB (SCES Trecho 2, lote 22). Ingresso:
R$ 15 e R$ 7,50 (meia). Informações:
3310-7087. Classificação indicativa livre.
Lucas Santtana ; Em seus quatro discos, o cantor, compositor e instrumentista baiano Lucas Santtana se aventura nas possibilidades da música brasileira e vai além. No trabalho mais recente, Sem nostalgia (lançado em 2009), ele relê o formato voz e violão com uma roupagem eletrônica. Na rede: . Amanhã, às 21h.
Isaar ; Ao longo de uma década de carreira, a pernambucana Isaar participou dos grupos Comadre Fulozinha e da banda do DJ Dolores. Em carreira solo, lançou os discos Azul claro (2006) e Copo de espuma (2009). Em suas músicas, ela imprime diversas referências da música brasileira, com um quê de nostalgia, mas sem purismo. Na rede: . Domingo, às 20h.
Lulina ; Pernambucana radicada em São Paulo, Lulina canta, compõe e grava suas músicas desde o começo dos anos 2000. Mas seu primeiro disco ;oficial;, Cristalina, saiu em 2009. Com ele, é possível conhecer o universo desta cantora de voz pequena e delicada, no qual se encontram surrealismo, amores e bem-humoradas situações cotidianas. Na rede: www.lulilandia.wordpress.com. Sábado, dia 15.
Letuce ; O casal carioca Letícia Novaes e Lucas Vasconcellos (ela também atriz; ele, músico de trilhas para teatro e cinema) não se prende a rótulos e injeta em suas músicas referências das mais diversas. O resultado pode ser pop ou intimista. Na rede: www.myspace.com/letuceletuce. Sexta, dia 21.
Tiê ; A paulistana Tiê aplica seu canto delicado em arranjos minimalistas (com inspirações no folk e no indie rock) para falar de relacionamentos e cotidiano. O disco de estreia da cantora, Sweet jardim, foi lançado em 2009. Desde então, Tiê tem se apresentado no Brasil e no exterior. Na rede: . Sábado, às 21h.
Burro Morto ; O grupo nascido em João Pessoa (PB) incorpora elementos de afrobeat, jazz, funk e rock psicodélico em músicas instrumentais vibrantes e cheias de nuances. Atualmente, o quarteto finaliza o álbum Baptista virou máquina. Na rede: . Sexta, dia 14.
Instituto ; Coletivo paulistano de músicos, DJs e rappers, o Instituto trabalha em cima de fusões de hip-hop, música brasileira e eletrônica. Ao vivo, além de apresentar músicas próprias, faz shows especiais interpretando Tim Maia. Na rede: . Domingo, dia 16.
Tulipa Ruiz ; Efêmera, disco de estreia desta cantora paulistana (nascida em Minas), foi um dos mais comentados de 2010 e figurou em várias listas de melhores do ano. Não é para menos. Dona de belo e particular timbre vocal, ela mostra canções que vão da tradição à modernidade da MPB.
Na rede: . Sábado, dia 22.
João Brasil ; O carioca é um dos principais nomes do mashup (músicas criadas a partir de trechos de outras) no Brasil. Nas produções de João, tudo é permitido, do rock ao funk carioca, da eletrônica ao pop radiofônico. Os resultados são geralmente bem-humorados e sempre dançantes: Na rede: . Domingo, dia 23.