Diversão e Arte

Relato de John Steinbeck e de Robert Capa mostra a então União Soviética

postado em 10/01/2011 08:00
Em 1947, Steinbeck e Capa mostraram a vida dos Com o mesmo formato de Ligeiramente fora de foco, porém sem o ineditismo deste, a CosacNaify lança também Um diário russo, o histórico relato da viagem do escritor norte-americano John Steinbeck e de Robert Capa à então União Soviética. Era 1947 e a Guerra Fria começava a ocupar a diplomacia internacional. Os olhos do mundo se voltavam para as tensões entre as nações socialistas e capitalistas, mas a dupla estava interessada no que os jornais não contavam. Queriam ouvir o povo soviético e relatar como viviam os temidos comunistas nas repúblicas do leste.

Novamente, a despretensão em fazer um diagnóstico pauta Capa e Steinbeck. É certo ; e em momento algum o autor refuta ; o fato de uma providencial escolta ter direcionado a visita. Escritor e fotógrafo passaram por Moscou e pelas repúblicas da Ucrânia e da Geórgia. Viram o que as autoridades queriam que vissem e a narrativa de Steinbeck nada de tem muito literata ou rebuscada. Ao contrário, a construção cênica e o fôlego narrativo sobressaem numa escrita bastante realista, quase fotográfica. Mas estão lá os temas populares, o foco na vida de trabalhadores e as figuras simples que fizeram o nome do escritor ocupar lugar de destaque na literatura americana quando lançou As vinhas da ira, seu maior sucesso.
[SAIBAMAIS]
Assim como havia escrito sobre ciganos e camponeses nas plantações da Califórnia, greves e heróis à margem, Steinbeck procura os anônimos da Rússia e emociona o leitor com pequenas histórias em detrimento de grandes fatos. A menina que vive num buraco das ruínas de Stalingrado, o contador que conseguiu salvar o álbum de família durante a guerra, a fazenda coletiva cujos habitantes finalmente vivem a perspectiva de construir o próprio sustento e as intermináveis refeições de boas-vindas apresentam um país que poucos podiam testemunhar em momentos de acirrado stalinismo.

A conclusão de Steinbeck sobre o povo soviético é de uma sinceridade quase naif. ;Descobrimos, como imaginávamos, que os russos são pessoas normais e, como toda gente, que são muito simpáticos. Aqueles que conhecemos tinham ódio da guerra e queriam as mesmas coisas que todo mundo quer ; uma vida plena, com conforto, segurança e paz;, escreve ao fim de Um diário russo.

As críticas ao livro foram muitas, mas o relato segue como um dos mais importantes da época. O diálogo entre a escrita fotográfica do autor e as imagens de Capa encontra poucos ecos na história do fotojornalismo. Na cuidadosa edição da Cosac, não há legendas nas fotos, mas todas encontram explicações no texto. Capa é também um personagem de Steinbeck, que se refere ao amigo inúmeras vezes. Assim, fica fácil acompanhar o método de trabalho do fotógrafo, um angustiado permanente diante da incerteza da liberação das imagens ao fim da viagem. É jornalismo literário de guerra da mais alta qualidade.

Um diário russo
De John Steinbeck
e Robert Capa. CosacNaify,
328 páginas. R$ 89.

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