postado em 10/01/2011 08:00
Ligeiramente fora de foco
"Às quatro da manhã, estávamos reunidos no convés aberto. As embarcações de desembarque balançavam nos guindastes, prontas para serem baixadas. À espera dos primeiros raios de luz, os 2 mil homens que se mantinham no mais perfeito silêncio; independentemente do que estivessem pensando, era uma espécie de oração.
Eu também fiquei muito quieto. Estava pensando um pouco em tudo: em campos verdes, nuvens cor-de-rosa, carneiros pastando, nos bons momentos e pensava muito em tirar as melhores fotos do dia. Nenhum de nós estava nada impaciente, e não nos importaríamos de ficar parados no escuro durante um longo tempo. Mas o sol não tinha como saber que esse dia era diferente de todos os outros e subiu em sue horário normal.;
"Já estava claro o bastante para fazer fotos e eu tirei minha primeira câmera Contax de sua proteção /à prova d;água. O fundo chato da barcaça tocou terra francesa. O contramestre baixou a frente da barcaça e ali, em meio ao desenho dos grotescos obstáculos de aço espetados para for a da água, havia uma fina faixa de terra coberta de de fumaça: nossa Europa, a praia "Easy Red".
Minha bela França parecia sórdida e nada convidativa, e uma metralhadora alemã, cuspindo balas em direção da barcaça, estragou totalmente meu retorno."
"O morteiro seguinte caiu entre o arame farpado e o mar e cada estilhaço encontrou o corpo de um homem. O padre irlandês e o médico judeu foram os primeiros a se pôr de pé na praia "Easy Red". Fiz a foto,. O morteiro seguinte caiu ainda mais perto. Eu não ousava tirar o olho do visor da minha Contax e disparava foto após foto. Meio minuto depois, minha câmera parou: o rolo de filme tinha terminado. Procurei na bolsa outro rolo, e minhas mãos molhadas, trêmulas, estragaram o rolo antes que pudesse inseri-lo na câmera.
Parei um momento; e aí aconteceu.
A câmera vazia tremia em minhas mãos. Um novo tipo de medo sacudia meu corpo dos pés à cabeça, retorcia meu rosto."