Um ano depois de ter se rendido aos efeitos espetaculares e à popularidade de Avatar, o 68; Globo de Ouro recorreu a uma outra balança para eleger o melhor filme de 2010: o clima de unanimidade na mídia americana em torno de A rede social foi o fator decisivo para a vitória do longa-metragem dirigido por David Fincher (Clube da Luta). A cinebiografia de Mark Zuckerberg, criador do Facebook, ainda não bateu a marca dos US$ 100 milhões nas bilheterias dos Estados Unidos. Mas, com uma coleção de prêmios da crítica e os quatro troféus da noite de ontem, se tornou favorito para o Oscar. Os indicados às estatuetas da Academia de Hollywood serão conhecidos no próximo dia 25.
O grande vencedor da cerimônia organizada pela Associação da Imprensa Estrangeira de Hollywood (HFPA, na sigla em inglês) somou os prêmios de melhor drama, diretor, roteiro (escrito por Aaron Sorkin a partir do livro Bilionários por acaso) e trilha sonora (assinada por Trent Reznor, da banda de rock Nine Inch Nails, e Atticus Ross). Desbancou, como previam os apostadores, o candidato com maior número de indicações: a fita de época britânica O discurso do rei foi lembrada apenas pela performance de Colin Firth, melhor ator em drama. Em quantidade de troféus, ficou atrás até de O vencedor, valorizado pelos coadjuvantes Christian Bale e Melissa Leo. Já o thriller A origem foi ignorado.
Apesar da sintonia com todas as prévias do Oscar, o resultado do Globo de Ouro não é interpretado em Hollywood como um parâmetro totalmente confiável para o principal evento da indústria do cinema. Na primeira década do século 21, os vencedores na categoria de melhor filme só coincidiram em 50% das vezes nas duas premiações. Mas, sem surpresas, a lista de vitoriosos reforça muitas das tendências que, segundo especialistas, a Academia deverá seguir este ano. Uma delas é a força da produção independente Minhas mães e meu pai, que ganhou o Globo de melhor comédia.
Numa competição previsível, com candidatos enfraquecidos (entre eles, Red ; Aposentados e perigosos), o filme de Lisa Cholodenko sai como um sério concorrente a pelo menos um Oscar: o de melhor atuação feminina, para Annette Bening. A campanha, no entanto, deve provocar uma briga ; essa sim, apertada ; com Natalie Portman, que levou o troféu de melhor atriz em drama por Cisne negro. A guinada de Paul Giamatti, que disputava na categoria de comédia com uma dupla indicação de Johnny Depp, também pode temperar a (já complicada) contenda entre os atores por estatuetas. A animação Toy Story 3 também parece ter garantido vaga entre os 10 indicados.
O desafio de retocar o prestígio arranhado pode ter inspirado os jornalistas estrangeiros a bancar a vitória inusitada da minissérie francesa Carlos, perfil do terrorista venezuelano Chacal assinado por Olivier Assayas (de Clean). E, claramente, se escorou no carisma de veteranos como Al Pacino (premiado por You don;t know Jack, feito para a tevê) e Robert De Niro, aplaudido de pé ao receber o prêmio especial Cecil B. DeMille. ;Todos nós temos os nossos trabalhos para fazer;, brincou DeNiro, em referência às participações em comédias como Entrando numa fria maior ainda com a família.
Os comentários venenosos do apresentador, o comediante inglês Ricky Gervais, colaboraram para reforçar uma marca da premiação: tom descontraído do rega-bofe de celebridades. Sem poupar os longas O turista e Burlesque, desdenhados pela crítica, acordou o espectador do programa de tevê com tiradas maldosas. ;Agora vamos à categoria que menos importa nos Estados Unidos;, anunciou, antes da entrega do troféu de filme estrangeiro ; que ficou com o dinamarquês Em um mundo melhor.
; A noite de Glee
; O seriado musical Glee, da Fox, foi o destaque entre os prêmios do Globo de Ouro para a televisão. Sucesso de audiência nos Estados Unidos, a atração ficou com os troféus de melhor série cômica e de coadjuvantes (Jane Lynch e Chris Colfer). Boardwalk Empire, produzido pela HBO, destacou-se entre as produções dramáticas e garantiu a Steve Buscemi o Globo de melhor ator. Jim Parsons, da série Big Bang: a teoria, foi lembrado como o melhor ator em comédia.
Vencedores
FILME ; DRAMA
A rede social
FILME ; MUSICAL OU COMÉDIA
Minhas mães e meu pai
DIRETOR
David Fincher ; A rede social
ATOR ; DRAMA
Colin Firth ; O discurso do rei
ATRIZ ; DRAMA
Natalie Portman ; Cisne negro
ATOR ; MUSICAL OU COMÉDIA
Paul Giamatti ; A minha versão do amor
ATRIZ ; MUSICAL OU COMÉDIA
Annette Bening ; Minhas mães e meu pai
ATOR COADJUVANTE
Christian Bale ; O vencedor
ATRIZ COADJUVANTE
Melissa Leo ; O vencedor
ANIMAÇÃO
Toy Story 3
FILME ESTRANGEIRO
Em um mundo melhor
; Susanne Bier (Dinamarca)
ROTEIRO
A rede social
; Aaron Sorkin
TRILHA SONORA
A rede social
; Trent Reznor e Atticus Ross
CANÇÃO ORIGINAL
You haven;t seen the last of me
; Burlesque
SÉRIE DE TEVÊ ; DRAMA
Boardwalk Empire
SÉRIE DE TEVÊ ; COMÉDIA OU MUSICAL
Glee
ATOR ; SERIADO DRAMÁTICO
Steve Buscemi ; Boardwalk Empire
ATRIZ ; SERIADO DRAMÁTICO
Katey Sagal ; Sons of anarchy
ATOR ; SERIADO DE COMÉDIA OU MUSICAL
Jim Parsons ; Big Bang: a teoria
ATRIZ ; SERIADO DE COMÉDIA OU MUSICAL
Laura Linney ; The big C
MINISSÉRIE OU FILME FEITO PARA TEVÊ
Carlos
; Olivier Assayas
ATOR EM MINISSÉRIE OU FILME FEITO PARA TEVÊ
Al Pacino ; You don;t know Jack
ATRIZ EM MINISSÉRIE OU FILME FEITO PARA TEVÊ
Claire Danes ; Temple Grandin
ATOR COADJUVANTE EM SERIADO, MINISSÉRIE OU FILME PARA TEVÊ
Chris Colfer ; Glee
ATRIZ COADJUVANTE EM SERIADO, MINISSÉRIE OU FILME PARA TEVÊ
Jane Lynch ; Glee
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FORA DO CIRCUITO
Conheça alguns dos filmes brasileiros que, em 2010, foram excluídos da programação do circuito comercial de Brasília
Acácio e A falta que me faz, de Marília Rocha
Os dois longas da diretora mineira, integrante do coletivo Teia, estão entre os documentários mais elogiados da nova safra. Foram exibidos em São Paulo.
Antes que o mundo acabe, de Ana Luiza Azevedo
O conto adolescente produzido pela Casa de Cinema de Porto Alegre foi exibido apenas em pré-estreia no Festival Internacional de Cinema Infantil, no Cinemark.
O amor segundo B. Schianberg, de Beto Brant
Após Um crime delicado e Cão sem dono, cineasta paulistano radicaliza o próprio estilo ao usar câmeras de vigilância para registrar o cotidiano de um casal. Produzido originalmente para a tevê.
Bellini e o demônio, de Marcelo Galvão
A adaptação do livro de Tony Belloto, com Fábio Assunção à frente do elenco, estreou no Rio de Janeiro em setembro de 2010, um ano depois de ter sido exibido no Festival do Rio.
A casa verde e Em teu nome, de Paulo Nascimento
No infantojuvenil A casa verde personagens de quadrinhos ganham vida. Já o drama Em teu nome, exibido em Gramado, retrata a agonia dos presos políticos no período da ditadura militar.
Crítico, de Kléber Mendonça Filho
Premiado no Festival de Brasília com o curta Recife frio, o cineasta e jornalista Kléber Mendonça Filho estreou na direção de longas com um documentário sobre os conflitos entre artistas e críticos.
Dzi Croquettes, de Tatiana Issa e Raphael Alvarez
O documentário conta a história do grupo de atores/bailarinos que se tornaram símbolos da contracultura ao enfrentar a repressão nos anos 1970. Premiado na Mostra de São Paulo
O grão, de Petrus Cariry
Dirigido pelo filho do diretor Rosemberg Cariry (de Lua Cambará), o longa rendeu comparações com Vidas secas, principalmente por conta do retrato árido da vida sertaneja.
Pachamama, de Eryk Rocha
O documentário do filho de Glauber Rocha, que concorreu este ano no Festival de Brasília com Transeunte, foi exibido em 2009 no FicBrasília e não entrou no circuito.
Rita Cadillac ; A lady do povo, de Toni Venturi
O filme infantil de Venturi, Eu e meu guarda-chuva, foi aceito no circuito brasiliense. Já o documentário sobre a chacrete mais conhecida do país permanece inédito.
Só dez por cento é mentira, de Pedro Cezar
A "desbiografia oficial" de Manoel de Barros ganhou o prêmio de melhor documentário no 2; Festival de Paulínia, passou em 2008 nas mostras do Rio de Janeiro e de São Paulo.
O sol do meio dia, de Eliane Caffé
Selecionada para o Festival de Brasília com Kenoma (1998), Caffé não lançou aqui o terceiro longa da carreira, que vai à Amazônia para desvelar um triângulo amoroso.
Solo, de Ugo Giorgetti
O diretor de Boleiros filma, num estúdio da TV Cultura, um encontro com Antônio Abujamra. Em 73 minutos, o "provocador" desabafa sobre a vida e a carreira. Entrou em cartaz no circuito paulistano.
Terra deu, terra come, de Rodrigo Siqueira
Vencedor do prêmio de melhor documentário brasileiro no festival É Tudo Verdade, em 2010, o filme embaralha fato e representação ao compor o perfil de um garimpeiro.
Viajo porque preciso, volto porque te amo, de Karim A;nouz e Marcelo Gomes
Os diretores de O céu de Suely (Karim A;nouz) e Cinema, aspirinas e urubus (Marcelo Gomes) assinam um "road movie" narrado por um homem cuja imagem não aparece em cena. Imagens de documentário, prosa de ficção.
OUTRAS AUSÊNCIAS
Amantes do futebol, de Eduardo Baggio
Cildo, de Gustavo Moura
Os inquilinos, de Sérgio Bianchi *
Histórias de amor duram apenas 90 min, de Paulo Halm*
Os famosos e os duendes da morte, de Esmir Filho*
Depois de ontem, antes de amanhã, de Christine Liu
Ao sul de setembro, de Amauri Tangará
Um lugar ao sol, de Gabriel Mascaro
Jards Macalé ; Um morcego na porta principal, de Marco Abujamra
* Exibido em sessão diária única no projeto Cine Cult, do Cinemark