Diversão e Arte

Denis Camargo e Gustavo Reinecken apresentam espetáculo gratuito

postado em 03/02/2011 08:00
Dênis Camargo e Gustavo Reinecken ocupam amanhã a GuarirobaNem só de marmelada, graça e brincadeira é feita a vida de um palhaço. Segundo profissionais da área, a lida é dura e o campo de trabalho, restrito. ;Palhaço só arruma emprego em circo e, segundo um levantamento da Fundação Nacional das Artes (Funarte), existem cerca de 700 trupes circenses no país;, relata o ator Denis Camargo, há mais de 10 anos mergulhado no universo dos clowns. Ao lado de Gustavo Reinecken, colega na criação do BR S.A. ; Coletivo de Artistas, ele decidiu levar para as ruas o espetáculo Procura-se, que discute a necessidade que esses operários do riso sentem de encontrar um nicho no mercado de trabalho. A peça começará a circular por feiras e praças amanhã (às 16h, pátio da igreja da Guariroba/Ceilândia), em sessões de fim de semana (todas gratuitas), que se estenderão até 27 de março e passarão por 13 regiões administrativas do Distrito Federal. Depois de anos de pesquisas, oficinas, imersões e festivais, os dois decidiram se reunir em torno do que há de comum nas duas experiências: o desejo de ser palhaço em tempo integral, com carteira assinada, férias e fundo de garantia. ;É preciso deixar de ver o palhaço como sinônimo só de alegria e brincadeira e passar a vê-lo como um cidadão, com papel social, como é o médico, o advogado;, acredita Reinecken. Eles começam o espetáculo de cara limpa, dando depoimentos em primeira pessoa, mas logo se transformam. Gustavo, professor de teatro, ator e dono de um espaço cultural, vira Dr. Salsichão, um palhaço branco, magro, de sapatos compridos e roupa dark, sempre submisso ao personagem de Denis, ator que se divide entre o mestrado em artes e o emprego em um hospital. Ele vive o palhaço cabeça da dupla, batizado de Chupadinho de Oliveira Camarguinho, que também surge estilizado, em preto e branco, meia e acessórios listrados e gravata borboleta. Em interação constante com a plateia, os clowns usam a audiência como um termômetro dos números que agradariam, ou não, durante a entrevista com um dono de circo. A dupla se alterna em números clássicos que demonstram as habilidades de um palhaço: entre apresentações solo e hilárias parcerias, fazem mímicas, malabarismos, tocam pandeiro e violão e até dançam tango. Domam animais imaginários e ensinam às mulheres o comportamento ;correto; em um relacionamento com o sexo oposto. No fim, chega a hora de outro ícone do circo, a performance que os expõe ao risco de morte. Cria-se suspense para um número arriscado, com a participação dos espectadores na trilha sonora. ;Estamos sempre jogando com a plateia. É preciso criar cumplicidade. O palhaço tem as habilidades de um ultraidiota, mas é preciso saber fazer. A ideia é contrapor o virtuosismo;, ensina Reinecken. PROCURA-SE Com Denis Camargo e Gustavo Reinecken. Amanhã, às 16h, no pátio da igreja da Guariroba (Ceilândia). Entrada franca. Classificação indicativa livre. Três perguntas //Denis Camargo e Gustavo Reinecken A tradição do palhaço está morrendo? Denis Camargo ; O próprio Frederico Fellini (cineasta italiano) já se perguntava se o palhaço morreu. Nos Estados Unidos e na Europa, essa manifestação é muito forte. O que acontece é que nossa categoria está passando a atuar em áreas novas, como presídios, hospitais e zonas de guerra, como o Palhaços Sem Fronteiras. Mas a grande maioria não enxerga isso, porque os circos, que são os grandes mantenedores de palhaços, têm dificuldade de sobreviver. Gustavo Reinecken ; Esse estigma é natural do gênero. O palhaço representa o contraponto, não só do circo, mas da sociedade. Sua excelência é estar à margem da sociedade. Mas existe um limite sustentável. Quem se dedica à palhaçaria precisa sobreviver. Existe espaço para o renascimento dessa cultura em Brasília? Denis ; Essa dificuldade permeia a linguagem artística. Faltam espaços culturais. Os que existem estão quase todos no Plano Piloto e sucateados. Mas os eventos realizados com o intuito de divulgar essa arte ficam sempre lotados. Com o Sesc Festclown é assim. O Cena Contemporânea não é temático, mas traz várias manifestações, entre elas a palhaçaria, e os espetáculos fazem muito sucesso. No nosso trabalho, se o público diz que não estamos prontos para o emprego, tiramos a fantasia e voltamos pra casa para trabalhar mais. A gente tenta mostrar que não vamos desistir. Dizer que somos loucos e perdedores. O que é ótimo pra nós. Gustavo ; Os palhaços são perdedores por natureza. Nas cartas de tarô, ele simboliza o louco, o que está à beira do precipício. Todo mundo quer casa, emprego e família, mas para o palhaço, os valores são outros. A casa é seu próprio corpo. Por isso, tentamos brincar com essa estética mambembe. Por que decidiram fazer o espetáculo nas ruas? Denis Camargo ; Já fiz alguns espetáculos na rua. Sempre tive esse desejo, é um terreno híbrido para testar o potencial do trabalho Gustavo Reinecken ; A rua é um desafio, significa trabalhar no limite, do ator e da plateia. Em um teatro tradicional, todos estão predispostos, pagaram ingresso. Mas na rua, não. É preciso testar a verdade do espetáculo. ACOMPANHE O ROTEIRO DE APRESENTAÇÕES DE PROCURA-SE: 04/02 ; Em frente à igreja da Guariroba (Ceilândia) ; às 16h (pré-estreia) 06/02 ; Praça do Relógio (Taguatinga) ; às 10h e às 12h30. 12/02 ; Feira do Guará ; às 10h e às 12h30 13/02 ; Praça da Feira (Cidade Estrutural) ; às 10h e às 12h30 19/02 ; Estacionamento da feira (Sobradinho) ; às 10h e às 12h30 20/02 ; Praça da Administração (Brazlândia) ; às 10h e às 12h30 26/02 ; Praça da Administração (Paranoá) ; às 10h e às 12h30 27/02 ; Praça Central (Varjão) ; às 10h e às 12h30 12/03 ; Praça da Administração (São Sebastião) ; às 10h e às 12h30 13/03 ; Estacionamento próximo à feira (Recanto das Emas) ; às 10h e às 12h30 19/03 ; Estacionamento próximo à feira (Samambaia) ; às 10h e às 12h30 20/03 ; Área ao lado da Administração (Riacho Fundo II) ; às 10h e às 12h30 26/03 ; Praça do Setor Comercial Sul (Brasília) ; às 10h e às 12h30 27/03 ; Praça das Fontes ; Torre de TV (Brasília) ; às 10h e às 12h30

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