Nahima Maciel
postado em 03/02/2011 08:00

Há temas que não escapam à pena de Rezende. Solidão, amores e desamores, desejo, morte, violência, tempo e envelhecimento perpassam os microcontos da mesma forma que deram o tom aos textos de Eu perguntei pro velho se ele queria morrer (e outras estórias de amor), vencedor do Jabuti de melhor livro de contos de 2010. ;O grande diferencial dos contos normais no meu processo de criação é o tempo de maturação. Até a ideia virar um conto é um demorado. Nos microcontos, o tempo de maturação é curto. Eu sentava no computador e escrevia;, comenta.
O humor está entre os diferenciais mais notáveis da estórias de duas linhas. Houve pouco deste componente nos contos de Eu perguntei pro velho;. Rezende não gosta do humor gratuito, do riso pelo riso, por isso evitava um pouco esse estado de espírito. Nos microcontos, fez concessões. ;Não foi proposital, o humor surgiu como um elemento;, avisa. O limite entre aforismos, piadas e verdadeiras micronarrativas está na capacidade de inserir um universo ficcional nos 140 toques. ;Minha intenção é contar uma história. Tem personagens. Tem um antes e um depois. E um desfecho.;
O autor gosta de definir as micronarrativas como ;alminhas; ,quando se trata de comparar ao conto tradicional. ;Meu conto normalmente tem muita densidade condensada. Quando termina, os personagens nunca mais serão os mesmos. No microconto há mais densidade ainda. Tem que manter só aquela chaminha. Tem um roteiro muito reduzido, fica só o esqueleto.;

Alminhas
Solidão (N; 1)
Foi embora e não levou nada ; só tudo que eu tinha.
Desencanto
Mais de uma hora vestindo-se para ele. Em menos de 15 minutos, estava nua e infeliz.
Tempos modernos
Tinha três celulares e nenhum amigo. E parece que não se relacionava muito bem com os três celulares;
Lupicínio
Doíam tanto as dores do amor que a mãe precisou interná-lo. Saiu curado da UTI, jurando nunca mais amar. Em menos de mês veio a óbito.