postado em 04/02/2011 08:00
Basta entrar numa banca de jornal qualquer para constatar: as jovens celebridades estão por todos os lados, estampando publicações adolescentes, flagradas por paparazzi enquanto aproveitam as férias ; às vezes em situações indesejadas ; ou posando para capa de revista, com um look que atiça a curiosidade dos fãs. Agora, o movimento editorial escolhe caminhos alternativos mais atemporais e definitivos: rumo às prateleiras das livrarias. Diário do Fiuk (CreativeBooks), sobre o filho de Fábio Jr., já chegou à marca de 10 mil exemplares vendidos. A cantora gospel Aline Barros e sua autobiografia Fé e paixão (Thomas Nelson Brasil) têm número mais expressivo: 50 mil. Artistas que catalogam sucessos na sintonia das rádios, em downloads na internet, aparições de grande audiência na tevê e shows lotados por todo o país agora alcançam fama em estantes silenciosas e passeios de páginas animados dos leitores.
A editora CreativeBooks, do grupo Impetus, aposta em livros sobre personalidades, voltados para os fãs. Em 2011, o selo pretende publicar títulos sobre o sertanejo Luan Santana e os garotos coloridos do Restart. Segundo André Castro, diretor executivo, os lançamentos são mais almanaques de curiosidades do que biografias. Ainda assim, vão contar com a participação dos artistas. ;O do Restart terá muita participação de fãs, muitas fotos. O do Luan será algo sobre bastidores, contará como ele se prepara para os shows, escolhe as músicas. É mais próximo de um making of. No caso do livro do Fiuk, fizemos entrevistas com ele, com a família. Ele participou ativamente;, define.
Para ele, é perigoso falar em biografia de gente tão jovem. ;Acho que eles não têm nem idade para fazer uma biografia. Não dá pra fazer de alguém com 20 anos;, conta. ;O que contamos são curiosidades da carreira deles. São detalhes pessoais que o público vai ver nesses produtos;, continua. Fiuk ainda não passou dos 20 anos. Luan faz 20 em março. E os meninos do Restart mal ultrapassaram a maioridade. ;É uma demanda do fã. Ele quer saber detalhes do ídolo. Quem compra já gosta e quer saber mais sobre ele. Os livros contam detalhes que não foram publicados até hoje;, explica.
A carioca e evangélica Aline Barros, 34 anos, tem pouco mais que o dobro da idade de Justin Bieber (que completa 17 em março), outro que invade as estantes com biografia oficial. Ao contrário do canadense de voz ainda infantil, Aline escreveu sua própria história: narra dos primeiros passos na carreira artística profissional, aos 17 anos, até o momento atual, em que comemora mais de cinco milhões de discos vendidos. Omar de Souza, editor da Thomas Nelson Brasil, diz que a autobiografia é ;bem justificada;. ;Aline ainda é jovem, não tem estrada de vida tão longa, mas tem muitas coisas para contar. É uma pessoa de fé, de comunhão com Deus. O livro não precisa ser uma biografia no sentido mais purista do termo. A gente quer que o texto também contenha uma espécie de depoimento de fé;, diz.
A vencedora de três prêmios Grammy Latino equilibra fatos sobre a trajetória musical e relatos de experiências religiosas. Ela revela, por exemplo, o problema vocal que a atormentou há oito anos e detalhes curiosos sobre o relacionamento com o marido, Gilmar. ;O que vai distinguir a autobiografia dela é a consistência das experiências espirituais. Não seria surpresa se, dentro de mais uns 20 anos, ela publicasse uma nova versão, com muito mais material;, enfatiza Souza.
Sucesso efêmero
Segundo Paulo Paniago, professor do curso de Comunicação Social da UnB, publicações biográficas e autobiográficas são caracterizadas pela durabilidade da obra. É mais comum que pessoas de grande destaque (esportistas, políticos, artistas e outros) compartilhem memórias de uma vida inteira. As jovens celebridades que agora tomam conta do mercado de livros, na opinião dele, se abastecem de um sucesso passageiro, momentâneo. ;As pessoas do ramo editorial preferem que você tenha um prazo rápido para as coisas ficarem cartaz. Você não sabe se esse Justin vai continuar fazendo esse sucesso todo por mais tempo. Enquanto está na onda, é melhor aproveitar. Um dos fundamentos da biografia e dos títulos de memória é que você precisa de tempo e de uma vida interessante, sólida, de destaque. A mudança ocorre aí. É um sintoma da nossa época, você pulveriza, inclusive, a noção de sucesso rapidamente e as editoras estão tentando acompanhar esse sucesso e lucrar com isso também;, analisa.
Professor da Academia Brasileira de Jornalismo Literário (ABJL) e doutor pela Universidade de São Paulo (USP) em estudos sobre biografias, Sérgio Vilas-Boas acredita que as memórias se beneficiam do comportamento de outros veículos. ;Grande parte disso é oportunismo. O mercado editorial está cada vez mais seguindo a tendência de outras mídias: coisas curtas, superficiais e de consumo rápido. É uma tendência que ocorre no Brasil e no mundo há pelo menos 15, 20 anos. As autobiografias e memórias entram nesse contexto, que também conta com literatura de ficção, biografias de vivos e livros de autoajuda. O livro entrou no mundo dos tais 15 minutos de fama ; que passou pra 15 segundos. Até em livro, tudo é muito rápido. Não falo se é mau ou bom. Mas há uma mudança nas coisas, e o mercado editorial não ficou isento disso;, comenta