Ricardo Daehn
Enviado especial
Gotemburgo (Suécia) ; Com volume próximo a 150 filmes (entre longas e curtas-metragens), o cinema sueco esteve mais do que representado na 34; edição do Festival Internacional de Cinema de Gotemburgo, que chegou ao fim neste domingo (6/2). De filmes em competição a pré-estreias, passando por retrospectivas, o vigor da atual produção na terra de Ingmar Bergman embalou a festa, ainda reforçada pela adesão de mais 79 países, entre os quais outros quatro do ramo nórdico: Dinamarca, Finlândia, Islândia e Noruega.
O Correio destaca, abaixo, tendências e curiosidades sobre alguns títulos criados na região escandinava e em torno de outros filmes selecionados para o evento que, em 11 dias, projetou mais de 400 filmes, em 18 salas, com potencial para atrair público próximo a 180 mil espectadores.
7x ; This is our kids (Suécia, 2010). De Emil Johnsvik. Pais ausentes ou prostrados assentam a cadeia de adolescentes desesperados que imergem, inconstantes, num destino incerto, ao som de efeitos ruidosos. Registro amarelado e dotado de câmera nervosa para compor uma ode à vingança, materializada na livre circulação de uma arma (sem licença) entre os adolescentes.
[SAIBAMAIS]
She monkeys (Suécia, 2011). De Lisa Aschan. Antecedido pelo curta Fungos, também em torno de desentendimento amoroso e expansão da agressividade, She monkeys (premiado, por merecimento) se concentra na formatação de comportamento para a introvertida Emma, adepta do hipismo. Com um rigor de perfeita acrobacia, a diretora extrai da disciplina e da introversão da protagonista, que ;nunca demonstra sentimentos, para não ser ferida;, material para um belo estudo sobre a comunhão e a disputa entre adolescentes.
Programa especial com seis títulos em curta-metragem (Suécia, 2011)
Com aplausos a cada curta exibido, o público reagiu sob medida a obras interessantes, como Not Blue, em que um rapaz, com olhos simbolicamente vendados, busca se recobrar do sentimento do luto. Diverso, o programa incluiu a divertida (e primitiva) animação Night sounds, atida aos limites mentais inimagináveis propiciados pelo medo. The sexual monologues, o mais longo dos filmes, propôs uma simplória ciranda de desencontros amorosos, sem muita originalidade.
Limbo (Noruega, 2010). De Maria Sodhal. Com profundidade e discrição, examina o pano de fundo das condições que levaram Trinidad e Tobago a ser arruinado pela exploração de outros países. Num paralelo, o paraíso local se esfacela, à medida que a protagonista norueguesa Sônia se ausenta, ao descobrir uma traição do marido engenheiro do qual está afastada há meio ano. O rigor educacional, a opressão local e uma agridoce celebração de Natal em família completam o quadro.
Girl (Suécia, 2011). Curta de Fijona Jonuzi. Com doses de cocaína, muita incerteza emocional e uma infantilidade latente, cinco rapazes, dotados de enorme cumplicidade, perdem a estribeira, ao encontrar um corpo estranho a todos: a tal menina do título.
Savage (Suécia, 2011). De Martin Jern e Emil Larsson. Sob o estigma da violência, o ex-prisioneiro Kim busca espaço para desenvolver uma vida normal. Com visíveis doses de imaturidade, a dupla de diretores impede a remissão: em um estilo de vida interiorano e alternativo, Kim esbarra em desrespeito público e absorve uma enorme rebeldia relacionada ao contato com três esquisitos amigos. Religião opressora, iniciação sexual e niilismo estão no tabuleiro.
Miss Kicki (Suécia/Taiwan, 2010). De Hakon Liu. A delicada incursão de uma mãe (Pernilla August, sexy e robusta) num conflito em família gerado pela ausência dela na criação do filho Viktor (o convincente Ludwig Palmell), que, numa viagem, abraça as incertezas do primeiro relacionamento com um jovem taiwanês. Um autêntico indie sueco, que lembra Encontros e desencontros.
Framily (Suécia, 2010). De Joachim Hedén. Diretor sueco, Hedén aposta num produto híbrido (e sem personalidade), rodado em San Francisco e com atores americanos. Entre um Big Brother e o clima que remete a O Reencontro, a fita expõe um experimento social para Ethan, o protagonista que reloca, ;num experimento social;, cinco amigos que o farão superar a morte do pai dele.
The woman who dreamt of a man (Dinamarca, 2010). De Per Fly. Dinamarquês de prestígio no ramo, o diretor se perde, ao falar da obsessão de uma fotógrafa pelo fetiche de um homem casado. Falado em inglês e embalado por uma atmosfera ritualística, soa a um Alain Resnais decalcado (em especial, O ano passado em Marienbad), com a adoção do mais kitsch visto em Anônimo veneziano (de Enrico Maria Salerno).
Confira os premiados na 34; edição do Festival Internacional de Cinema de Gotemburgo
Prêmio Dragon para melhor filme nórdico ; She Monkeys (Apflickorna, 2011), de Lisa Aschan, vencedor ainda do Prêmio Fipresci
Prêmio Dragon para filme nórdico, na escolha do público ; I miss you (Jag saknar Dig, 2011), de Anders Gr;nros
The Ingmar Bergman Internacional Debut Award ; Blue Valentine (EUA, 2010), de Derek Cianfrance
Prêmio Dragon de melhor longa, na escolha do público ; Tears of Gaza (Dinamarca, 2010), de Vibeke Lokkeberg
Prêmio Dragon de melhor documentário sueco ; I was worth 50 sheep (Jag var v;rd 50 lamm, 2011), de Nima Sarvestani
Prêmio Dragon para melhor revelação ; Roberto Pérez Toledo (pelo curta espanhol Los gritones)
O repórter viajou a convite da Embaixada da Suécia