Diversão e Arte

Cia Brasilienses de Teatro estreia hoje Conto de inverno, no Teatro Goldoni

postado em 10/02/2011 07:37
James Fensterseifer dirige a adaptação de Conto de inverno, com Tullio Guimarães encabeçando o elencoDez entre 10 dramaturgos prestam devoção total a William Shakespeare, considerado o maior escritor de todos os tempos. Com frequência, as salas de teatro do mundo todo são invadidas por montagens de Hamlet, Romeu e Julieta, Rei Lear e Macbeth. O diretor James Fensterseifer também integra o fã-clube do dramaturgo britânico, mas fugiu do óbvio na hora de escolher a próxima empreitada: Conto de inverno, uma das últimas criações do bardo inglês, e nunca antes encenada nos palcos da cidade. ;Os textos dramatúrgicos de maior qualidade já são muito conhecidos. Por meio da literatura, a gente pode refrescar a cena teatral;, defende Fensterseifer, que devora mais de 100 livros por ano. A peça da Cia. Brasilienses de Teatro estreia hoje, às 21h, no Teatro Goldoni, e segue até 27.

Mas por que um texto do mais famoso dos autores permaneceu obscuro por tanto tempo? ;Esse poema é rico, passa por todos os gêneros teatrais, misturando drama, comédia, romance. Essa troca rápida exige um enorme esforço de interpretação;, destaca o diretor. ;Harold Bloom, um dos críticos literários mais populares do mundo, enxerga, na personagem principal dessa peça, o rei Leontes, traços de Othelo, Macbeth e Iago, outras criações do escritor;, descreve.

A própria adaptação também exigiu dedicação constante de Fensterseifer. Ao longo seis meses, ele se debruçou sobre o texto original e cinco traduções diferentes, eliminando palavras que caíram em desuso e construindo a dramaturgia. Enxugou de 30 para 14 o número de personagens. Coube a Tullio Guimarães viver o atormentado rei da Sicília, que dá início à intrincada saga. ;James me viu fazendo o obsessivo Olegário, na peça A mulher sem pecado, de Nelson Rodrigues. No nosso primeiro trabalho juntos, estou fazendo outro obsessivo;, diverte-se.

Para Tullio, viver Leontes, que considera um personagem bipolar, é um presente para qualquer ator. Ao longo de 18 ensaios, precisou se adequar às variações de gênero dentro do espetáculo, à linguagem rebuscada, ao gestual aristocrático e até ao figurino de época. ;É um grande exercício físico e intelectual. Na carpintaria dramatúrgica que faz, Shakespeare compartimenta o homem, revelando ódio, amor, ciúme, loucura, fazendo uma radiografia interna do ser humano;, observa Guimarães, que contracena com Cirila Targhetta, João Rafael, Rômulo Augusto, Cristiane Rocha, Maísa Lacerda, Davi Maia e André Reis.

O tempo também surge como personagem importante da trama e ganha uma pitada de comicidade. A peça, que tem duração aproximada de uma hora e meia, é encenada dentro de um pequeno picadeiro, que faz as vezes de um relógio de sol. Os acesso a esse círculo foram delimitados com blocos de concreto celular. ;É um material grande e denso, mas não é tão pesado e lembra a aparência lisa da pedra-pomes;, descreve o diretor. Os trajes são os itens mais caros da produção, e misturam influências do império romano, como sandálias e capas, com tecidos rústicos, túnicas e batas dos tempos medievais. ;Apesar disso, a marcação e a cenografia são simples, para que o textos e os atores sejam as joias no palco;, avisa Fensterseifer.

Conto de Inverno
De William Shakespeare. Direção e adaptação de James Fensterseifer. Com Tullio Guimarães, Cirila Targhetta, João Rafael, Rômulo Augusto, Cristiane Rocha, Maísa Lacerda, Davi Maia e André Reis. De hoje a 27 de fevereiro, no Teatro Goldoni (Casa D;Itália ; EQS 208/209 ; 3443-0606). De hoje a sábado, às 21h, domingo, às 20h. Ingresso: um quilo de alimento não-perecível. Não recomendado para menores de 12 anos.

PARA SABER MAIS
Trama romanesca
Rei da Sicília, Leontes começa a suspeitar que sua mulher, a rainha Hermíone, que está grávida, o trai com seu amigo de infância, Políxenes, rei da Boêmia. Tomado por um comportamento obsessivo, ele ordena que o amigo seja envenenado, mas o serviçal Camilo avisa Políxenes e, juntos, eles fogem. Leontes questiona a paternidade da criança que a rainha espera e ordena que ela seja aprisionada. Hermíone dá à luz uma menina, mas o rei ordena que o bebê seja abandonado
fora de seus domínios. Desolada, a rainha não resiste e morre. Dezesseis anos depois, o príncipe Florizel, filho de Políxenes, apaixona-se por uma jovem camponesa. É Perdita, a filha renegada por Leontes. O rei da Boêmia não aceita que seu filho se encante por uma plebeia e, por isso, o serviçal Camilo sugere que eles fujam para a Sicília, onde seriam recebidos pelo rei Leontes, arrependido de suas arbitrariedades do passado. Assim, Perdita acaba retornando ao reino de seu pai.

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