Diversão e Arte

Fãs das séries levam para o cotidiano gírias, expressões dos personagens

postado em 12/02/2011 08:00
Hermano, Yohana e Bruno em clima de Juventude à flor da peleNa quarta temporada de Seinfeld (1990-1998), sucesso absoluto nos anos 1990, os amigos Jerry e George planejam um seriado sobre eles próprios: o programa se chamaria Jerry e, claro, teria os inseparáveis Elaine e Kramer no elenco. O assunto: nada ; referência óbvia à trama aparentemente vazia de Seinfeld. O piloto não convenceu os executivos da NBC. George retomou as lamúrias de sempre, e Jerry, o cotidiano de um comediante despreocupado. A brincadeira da série atravessou os limites da telinha. Alguns brasilienses apaixonados por séries não precisam de roteiros ou ensaios para trazer à realidade comportamentos, atitudes e expressões da ficção. O Correio ouviu as histórias de vida desses fissurados por tevê.

Teoria nerd/ Pedro Brandão e João Pácifer, nerds convictos, compartilham idade (23) e o seriado favorito: The big bang theory (ativo desde 2007). Graduado em Antropologia e funcionário da Organização Internacional do Trabalho, órgão da ONU, Brandão conta que a série toma conta das conversas com os amigos. ;Esse seriado cria um tipo de humor por meio dos estereótipos dos personagens. Jargões sempre viram piadas internas. Tem a clássica batidinha na porta, por exemplo. Sheldon bate três vezes na porta e fala o nome da pessoa de uma maneira irritante;, diz.

Pácifer, publicitário especializado em vídeo, destaca o chavão ;Bazinga;. Sempre que Sheldon (Jim Parsons), o protagonista, conta uma piada, encerra a anedota com a expressão citada. ;Tem aquela coisa do geek engraçado. O seriado sacaneia com essas coisas dos nerds. Às vezes, estamos na mesa, conversando sobre uma coisa qualquer, e surge um momento em que tá todo mundo falando de iPhone, de um novo programa de computador, de um novo game. Igualzinho ao seriado: todo mundo do nosso grupo é pouco geek, nerdzinho;, brinca.

Festa contagiada / Bruno Antun, 22 anos, é fã de mais de uma dúzia de seriados, de gêneros diferentes (do policial à comédia). Mas acolhe expressões de pelo menos dois deles para a vida real. Do britânico Skins (ativo desde 2007), chamado Juventude à flor da pele no Brasil, ele incorporou as exclamações frequentes da personagem Cassie. ;Ela é deslumbrada com tudo, vive dizendo uau, uau;, diverte-se o publicitário, que se divide entre as redes sociais e o apoio em festas. O amigo Hermano Noleto, 22, e a prima Yohana Antun, 18, também não perdem um episódio. Ele compara as baladas em que trabalha ao ambiente da série teen, que acaba de ganhar versão norte-americana.

João e Pedro: brincadeiras de nerds;Eu ajudo nas festas, e a gente tá sempre procurando tema de caracterização. O seriado ajuda muito nisso e influencia até nas músicas que a gente usa. Ele retrata a cena britânica alternativa, mostra bandas novas;, conta. Summer (Rachel Bilson), de The O.C. (2003-2007), e seus instantes de extrema sensibilidade também invadiram o comportamento de Antun. ;Ela fala muito ;ill!’ (que nojo), tem nojo de tudo;, recorda. Mas a influência do programa vai mais além. ;Tem o Chrismukkah. É o Natal mais Hanukka que acontece na série. Como fazemos duas festas natalinas na minha família, adotamos essa festa como uma delas. Mesmo ninguém sendo judeu!”, detalha Antun.

Phoebe vive

No cotidiano de Manuela Carvalho, 21 anos, Friends (1994-2004) é coisa de família. ;Todo mundo parece ser um personagem;, diz a estudante de jornalismo e concurseira. A paixão começou com duas tias, Gláucia e Cláudia. E depois virou mania: dos avós, Gercira e Onésimo, com quem Manuela vive, aos primos, como Luísa, 16 anos. ;Todo mundo começou a ver junto. Acabou em 2004, e a gente continuou assistindo. Terminava e começava de novo;, revela. A personagem Phoebe (Lisa Kudrow) inspira os momentos de desespero de Manu. ;Comecei a ser um pouquinho como ela;, conta. Nas situações em que tudo dá errado, ela vocifera ;What do you want from me?; (O que você quer de mim?, em português). A fã detalha: ;Ela fala gritando com o alarme de incêndio. Ele não parava de tocar. Mas no trânsito... carro morrendo, gritei desse jeito. Meus primos danaram a rir;, explica.

Arquivo K/
Arquixo X (1993-2002) acabou faz tempo, mas deixou um legado permanente. Késsia Nina (foto), 31 anos, construiu longas amizades por meio de Fox Mulder (David Duchovny) e Dana Scully (Gillian Anderson), agentes do FBI que investigam ameaças sobrenaturais. ;Tenho um grupo de amigas. A gente começou a se comunicar em 1999 pela internet. Conhecemos gente do mundo inteiro, temos amigos estrangeiros desde aquela época;, diz a funcionária pública. Ela criou um site dedicado à série (shipperx.com) e coleciona livros, brinquedos e DVDs. E sabe falas de cor. ;;Hum, parece bom;. Scully diz isso quando ocorre uma autópsia e ela vê o que tem dentro do cadáver;, lembra. No cotidiano de Késsia e amigos, o chavão da personagem é expressão habitual e mobiliza boas risadas. Os números 1013 e 1121, por exemplo, são recorrentes em vários elementos do seriado: calendário, horários e logins e senhas de computador. ;Eles usavam os números pra um monte de coisa. A gente usa muito esses números clássicos da série;, explica.

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