Agência France-Presse
postado em 14/02/2011 19:48
Berlim - "Innocent Saturday", do russo Alexander Mindadze, projetado nesta segunda-feira no Festival de Berlim, conta o ocorrido em 26 de abril de 1986, quando um reator da central nuclear de Chernobyl explodiu e, a dois quilômetros dali, na vizinha Pripyat, os moradores continuaram com suas vidas como se nada tivesse acontecido durante 36 horas até serem, por fim, retirados."Nesse dia eu estava em Minsk, a capital de Belarus, filmando. Não pensamos nada sobre as nuvens, simplesmente estávamos contentes porque havia uma luz rara e muito cinematográfica. Bebemos vinho vermelho porque supostamente ajudava a descontaminar o organismo", declarou Mindadze.
Considerado o maior acidente nuclear da História, a explosão do reator de Chernobyl causou a morte direta de 31 pessoas e obrigou o governo da União Soviética a retirar 135.000 pessoas, provocando alarme internacional ao se detectar radioatividade em vários países da Europa.
O filme mostra de que forma os membros do então dominante Partido Comunista Soviético pretendiam ocultar a gravidade da notícia nas primeiras horas para não criar pânico entre a população de Pripyat, localizada a 2 km da central nuclear.
Apenas um personagem, Valery, interpretado pelo convincente Anton Shagin, músico e membro do Partido, observa a preocupação dos dirigentes e percebe que cada minuto conta. Então sai correndo em busca de Vera, sua namorada, e de seus amigos músicos para tentar sair da cidade.
No entanto, o fato de que é sábado faz com que as pessoas não levem a ameaça a sério. Um dos saltos do sapato de Vera quebra, e ela convence Valery a ir comprar novos pares. Nos mercados, as pessoas permanecem como se nada estivesse ocorrendo, as crianças brincam nas ruas, e à tarde há um casamento no qual Valery e seus amigos músicos devem tocar.
A catástrofe está onipresente, mas invisível. A namorada de um dos músicos sente "um sabor metálico" quando ele a beija. À medida que as horas passam, continuam bebendo vodca, a ebriedade aparece, e também vão sendo revelados novos detalhes da catástrofe. A nuvem negra e amarela é vista de longe.
"Pensava neste filme há vários anos: como o ser humano reage diante das catástrofes? Por que as pessoas não saíram imediatamente? O filme reflete a mentalidade russa, perto da morte sempre. Vinte e cinco anos depois não analisaram o problema de Chernobyl. Todo mundo ficou calado", disse o diretor.