Nahima Maciel
postado em 15/02/2011 08:05
A filosofia oriental e a cultura pop japonesa são referências inevitáveis em Oneness, exposição da artista Mariko Mori em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Difícil não lembrar dos desenhos, mangás e da moda desse universo ao observar os marcianos, menires, fantasmas e espaçonaves de Mariko. A interatividade proposta pelas instalações e objetos da japonesa fisgam os visitantes, que precisam fazer filas organizadas e com horários marcados para experimentar as peças. Tudo muito delicado, organizado e cronometrado, conforme convém à cultura japonesa. Coletividade, minimalismo e preocupação em refletir sobre a cosmogonia do mundo e a harmonia entre homem e universo são noções que Mariko pontua em praticamente todas as obras, mas que precisam de um olhar além da experiência interativa para serem descobertas. A artista não é exatamente uma novata em solo brasileiro. Durante a abertura da exposição, confessou realizar viagens constantes à Amazônia e, em 2002, participou da 25; Bienal Internacional de São Paulo com fotografias de uma série intitulada Beginning of the end. Conectar passado, presente e futuro é algo recorrente no trabalho de Mariko e bastante evidente nas fotografias da Bienal. Em Brasília, no entanto, as noções de tempo e espaço tomam outras dimensões. As obras interativas exigem número fechado de pessoas para funcionarem e, muitas vezes, o visitante precisa ter paciência e aguardar. ;As instalações necessitam de um grupo para funcionar. Essa coisa de reunir as pessoas é muito japonesa;, repara o fotógrafo Kazuo Okubo, neto de japoneses e acostumado desde pequeno às reuniões da ;colônia.; ;O japonês também é muito imagético, está sempre fotografando.;
As sensações causadas pelo poder imagético das obras e pela interatividade são exatamente o que preocupa Marília Panitz. Curadora e professora da Universidade de Brasília (UnB), Marília teme que o deslumbre diante dos objetos e da possibilidade de interagir ofusque questões fundamentais das obras. ;Fico observando as pessoas e, num primeiro olhar, elas parecem lidar com aquilo quase como brincadeiras, como se fosse um parque de diversões;, diz. ;Quando, na verdade, ela (a artista) está propondo outras questões muito fortes como a alteridade. Ela faz um outro possível ; outras civilizações de outro planeta, por exemplo ; mas também um outro que é o que ela é para o Ocidente.;
Oneness ; cuja tradução poderia ser unidade ; é também o nome da primeira obra disposta em uma das quatro galerias ocupadas pela artista. Seis esculturas de supostos seres extraterrestres confeccionadas em technogel ; um material maleável ; , dispostas em círculos, têm os corações acionados quando seis visitantes tocam as peças ao mesmo tempo. O círculo tem raiz profunda nas filosofias orientais e pode simbolizar a conexão com o universo. A tecnologia motivou o engenheiro civil Marco Amaral, 47 anos, a visitar a exposição em companhia dos filhos. ;Temos a ideia de que tecnologia é uma coisa fria, e achei interessante a artista fazer uma leitura do mundo a partir disso;, observa Amaral. ;O fato de ser japonesa não importa, a arte é universal. A interação é interessante, mas a universalização é mais importante. À medida que você entra em contato com outras culturas, a sua cresce.;
Ondas cerebrais
Na galeria de vidro, a instalação Wave UFO reproduz uma nave na qual grupos de três visitantes conectados a eletrodos experimentam visualizar as cores de suas ondas cerebrais. Tecnologia de ponta é a base da obra. As ondas são transmitidas para um computador que as devolve em forma da animações coloridas. Cada cor representa um estado de espírito. ;As pessoas têm reações variadas;, explica Léo Araújo, técnico em engenharia de software responsável pela manutenção dos computadores. ;Um cara disse ;se Deus existe, eu o vi;, e outro afirmou que não viu nada. De forma geral, as pessoas saem maravilhadas.;
Mas nem tudo é interativo em Oneness. Em Transcircle, um conjunto de nove menires, dispostos em círculo, representa os planetas do sistema solar. De acordo com o movimento de rotação em volta do sol, as esculturas se iluminam com luzes coloridas. Em outra sala, dois vídeos trazem Mariko em performances distintas. Em um, ela representa os espíritos dos antepassados tão cultuados em religiões como o budismo e o xintoísmo. No outro, a artista é uma boneca com roupas metálicas, cabelos coloridos, olhos brilhantes, quase um personagem de desenho animado. Outra galeria traz desenhos que remetem às animações de Wave UFO e a instalação Miracle , um pêndulo de cristal posicionado sobre um tapete de sal e rodeado de fotos e espelhos. ;Para mim, a questão da unidade é o tema. O trabalho dela é muito japonês. O desenhos, as formas, os marcianos, tudo lembra a cultura pop japonesa, essa coisa de querer parecer um século à frente;, avalia o programador visual Thiago Nunes, 22. ;E tudo com muita simplicidade e harmonia entre som, tato e visual.;