Diversão e Arte

Concorrência com as americanos se agrava quando se trata de filmes 3D

A falta de investimentos emperra projetos brasileiros. O acesso à tecnologia é outro problema

postado em 16/02/2011 08:00
Brasil animado, da Mariana Caltabiano Criações: concorrência desigual com os Um hiato de quase 70 anos será encerrado com a estreia prevista para abril da animação Rio. Produzida pela gigante norte-americana Fox, o desenho animado foi dirigida pelo brasileiro Carlos Saldanha (diretor de A era do gelo 2 e 3) e terá a cidade do Rio de Janeiro como cenário. Desde o desenho dos estúdios Disney Saludo amigos (1942), estrelado pelo personagem brasileiro Zé Carioca, o Brasil não é tema de um filme de animação de um grande estúdio norte-americano. Para deleite da RioTur, a grata notícia é que a Cidade Maravilhosa poderá ser vista em três dimensões.

Não será a primeira vez que o Rio salta para fora da tela de cinema. A cidade foi um dos cenários do primeiro filme brasileiro feito em 3D, a animação infantil Brasil animado, que já saiu de cartaz em Brasília. A produção da Mariana Caltabiano Criações, feita em parceria com a Globo Filmes e a Telimage, teve o 3D como chamariz para um projeto educativo original. Ao longo de Brasil animado, Stress e Relax (dois cachorrinhos de personalidade antagônicas) fazem uma espécie de tour pelas regiões do país. O efeito na tela ainda é tímido. Em quase todo o filme, as três dimensões são usadas para dar camadas de profundidade ao cenário. A notícia poderia ser boa, mas a verdade é que os dois lançamentos escondem um contraste extremo.

Problemas de orçamento e dificuldade de acesso à tecnologia disponível no Brasil têm forçado produtores a pensar duas vezes antes de investir numa ;outra dimensão;. Usar ou não usar o 3D? A questão atinge até heroínas espaciais: produzido pela Cacomotion, braço audiovisual da produtora Caco de Telha Entretenimento, empresa da cantora Ivete Sangalo, Ivete Stellar e a pedra da luz deverá ser um filme de animação que tem a cantora como protagonista. Pela sinopse divulgada até agora, o avatar de Ivete será uma guerreira/cantora que precisa recuperar a tal pedra da luz e restaurar a alegria intergalática. A Cacomotion não comentou em que estágio se encontra o filme.

Já o problema do cineasta Roberto Moreira pode ser de risco duplo. Trabalhando no projeto Terapia do medo, o diretor pretende realizar um filme de terror em três dimensões. ;Sendo bem sincero, já é uma dificuldade fazer terror brasileiro. No Brasil, temos sucesso no gênero terrir (junção da palavra terror e o verbo rir). Para mim, a pior coisa que aconteceria seria as pessoas rirem durante a sessão. Quero fazer um filme de terror mesmo;, avisa. ;A renda gerada em bilheteria dos filmes 3D é um atrativo. Estamos estudando a possibilidade de usar o efeito. Mas não é oficial ainda porque o orçamento aumenta em uns 50%;, calcula Moreira.

O terror do diretor de Terapia é maior por se tratar de uma captação em live action, ou seja, quando a imagem precisa ser captada da vida real com o uso de câmeras especiais. Nesse caso, é exigida a presença de um profissional estereoscopista no set (leia ao lado).

;Boa vontade;
Carlos Eduardo Rodrigues, diretor executivo da Globo Filmes, não tem dúvida em relação a lucratividade dos filmes em três dimensões. ;A diferença do preço médio dos ingressos (em duas dimensões e três) compensa o investimento. Os filmes estrangeiros têm feito dois terços da renda em um terço das salas;, analisa. ;Porém, um filme em 3D custa muito mais caro para ser captado, produzido e finalizado. Caímos na mesma tradição do cinema nacional em duas dimensões. Nós temos a boa vontade de fazer, existem pessoas gabaritadas e competentes no mercado, mas faltam planejamento e investimento de médio e longo prazos;, aponta Rodrigues. A Globo Filmes tem parceria com duas produtoras menores para o projeto em três dimensões Quem tem medo de fantasma?, com a produtora Lereby, e Nautilus, de Rodrigo Gava.

Os produtores apontam a concorrência com as grandes companhias norte-americanas também como uma barreira. Uma das vítimas foi o próprio Brasil animado. Em Brasília, o filme estreou em 21 de janeiro em seis salas. No mesmo dia, a produção Zé Colmeia ; O filme (da Warner) ocupou 12. No fim de semana seguinte, a fita era exibida em quatro salas em apenas um horário do dia, enquanto o urso espaçoso ocupava oito. No dia 4 deste mês, a animação brasileira já havia sido retirada da programação na cidade. Mas quem quiser ainda pode assistir Zé Colmeia e Catatau em tela grande. ;É difícil nosso filme, com orçamento de R$ 3 milhões, concorrer com uma produção de US$ 80 milhões. Talvez se tivesse entrado numa época menos concorrida. Mas acho que já não existe essa janela sem nenhum filme em 3D no circuito;, admite Mariana.

Para saber mais
Nome difícil, função importante

Ariel Sérgio Wollinger (E), o estereoscopista: responsável pelos cálculos utilizados no longa-metragem Brasil animadoO nome é estranho, mas é bom ir se acostumando. Se as produções em três dimensões se tornarem comuns, o cargo do estereoscopista será tão cotidiano quanto o do cinegrafista. O paulistano Ariel Sérgio Wollinger, 35 anos, da produtora Teleimage já está no caminho. Há 14 anos, Wollinger trabalha no mercado audiovisual. Há dois, passou a dividir seu tempo entre o cargo de supervisor de intermediação digital e o de estereoscopista. ;É uma área meio nebulosa ainda. Muitos conceitos estão se estabilizando só agora. O conhecimento mais básico dá para achar na internet. Mas existem vários truques que só dá para aprender em conferências mesmo;, explica Wollinger.

;Basicamente, nós temos de posicionar duas câmeras num rig (estrutura onde serão colocados os equipamentos). Uma câmera corresponde ao olho direito e outra, o esquerdo. Se a gente errar a distância entre as duas câmeras, o efeito não vai acontecer;, detalha. Surpreendentemente, não é necessário ser um ás em matemática para conseguir fazer os cálculos corretamente. ;É matemática do ensino médio mesmo. Trigonometria, seno, cosseno, essas coisas;, explica Ariel. Ele foi o responsável pelos cálculos utilizados no longa-metragem Brasil animado e até teve participação no filme como figurante.

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