postado em 16/02/2011 08:00
Uma brisa renovadora parece percorrer a obra de Ricardo Silveira, um dos mais influentes guitarristas do país. No recém-lançado Até amanhã, 10; álbum de sua carreira, o músico abre as comportas do passado e leva alguns dos temas para um passeio arejado, com um naipe de metais. ;É uma maneira de dar vida longa às músicas, de buscar talvez a essência delas;, acredita.
Paira sobre todo o trabalho, editado primeiro nos EUA pela Adventure Music, a mão boa do maestro Moacir Santos, morto em 2006. A ligação não é fortuita. Ricardo foi membro da big band recrutada por Mário Adnet (violão) e por Zé Nogueira (sax) para o projeto Ouro negro, responsável por apresentar o genial autor de Nanã às novas gerações. ;Essa experiência foi muito interessante para mim. Como não toco um instrumento sinfônico, foi o mais próximo que estive de uma orquestra;, lembra.
Ouça a música Pela beira do mar, de Ricardo Silveira
Foi nesse período que Ricardo Silveira estreitou laços com o colega de banda Vittor Santos. Dono de concepções musicais avançadas, o trombonista injetou nele a vontade de retomar os estudos de teoria e se tornou seu professor. ;Aos 20 anos, eu já estava na estrada, então assimilei muita coisa na prática. É legal rever essas informações depois de ter tido a experiência ; foi importante para poder avançar.; E avançou: em Até amanhã, Ricardo assina os arranjos ao lado de Jessé Sadoc (trompete e flugelhorn), de Marcelo Martins (sax e flautas) e do próprio Vittor.
Músico de estúdio de estrelas como Milton Nascimento, Ney Matogrosso e Gilberto Gil, o
guitarrista parece plenamente à vontade no papel de autor. ;Já fiz tantas coisas diferentes, já toquei com tanta gente. Hoje em dia, tenho pensado em compor mais. A ideia é que a relação com a música possa continuar melhorando.; Cultuado no exterior e testemunha do frenesi fonográfico dos anos 1980, Ricardo Silveira agora expande suas possibilidades criativas com a ajuda da tecnologia. Recentemente, engatou uma parceria semivirtual com um compositor indiano chamado Sandeep Chowta. ;Ele conhecia meus discos e me achou na internet. Ficamos amigos e produzi duas músicas para trilhas sonoras de filmes de Bollywood.;
O rótulo de jazzista, reforçado ao longo dos cerca de 30 anos de carreira, também não causa ansiedade. ;Eu adoro a música brasileira. E, mesmo que fale outras línguas, a gente acaba falando com o nosso sotaque;, crava. O que o deixa um pouco grilado é a designação ;música instrumental;. ;É muito vaga. O que tem são intérpretes instrumentistas. E, se você os colocasse no rádio, as pessoas ouviriam. O Waldir Azevedo, por exemplo, na época do Brasileirinho, era superconhecido. Hoje, o contato do artista com o povo passa pelos projetos de incentivo. É outro caminho;, arremata.
Até amanhã
De Ricardo Silveira. 11 faixas. Lançamento: Adventure Music.